21/06/2012

VALTER LOBO | Discurso Direto


É com um "Novo Talento" da música portuguesa, que comemoramos o Dia Mundial da Música. Chama-se Valter Lobo e aqueceu-nos a alma com a edição do seu EP de estreia - "Inverno" - um disco de emoções à flor da pele.

Portugal Rebelde - "Quando há tanto para dizer e se caminha em cima de sonhos, a música e as palavras surgem naturalmente. São sons que se podem ouvir em paisagens bucólicas ou cidades vazias, com uma melancolia acentuada. Sons que se devem ouvir a sós do lado de dentro de uma janela embaciada. Ou com um amor verdadeiro.” São estas as “emoções”, que saboreamos ao percorrer as 5 canções deste disco de estreia?

Valter Lobo - São, à partida, as emoções que eu tentei imprimir nas canções da forma mais inconsciente e instintiva. Não consigo fazer a música de outra maneira que não seja ligada a uma dimensão cénica, a um local, uma casa, a pessoas ou a falta delas e a todo um ambiente sentimental que circunde estes elementos. Se a música nos transportar no espaço e no tempo, se nos trouxer sensações à flor da pele, é porque fez o seu papel, caso contrário, é descartável.

PR - De que é que nos falam as canções deste EP?

VL - As canções falam de emoções. A dicotomia realidade/ilusão paira em todas elas. Há uma vontade de abstração do real e ser envolvido nos sonhos, talvez por constatar que sofremos demasiado em vida. Precisamos de ser menos racionais em relação a tudo, de modo a que se possa viver tudo mais intensamente, desprendido de regras e de opiniões. Somos o que somos e estamos aqui para viver e procurar o que mais nos dá prazer. Falam também de um amor verdadeiro. Um amor desconfortável, desligado de bens materiais, da sociedade. Um amor nu. Daqueles que suspiramos à janela, daqueles que não nos deixa adormecer. Que nos faria abdicar da zona de conforto. Que faria todo o sentido um abraço apertado debaixo de um céu de chuva. Está presente também um pouquinho de esperança, uma janela entreaberta que deixa passar alguns raios de luz e que tudo possa mudar.  

PR - “Eu não tenho quem me abrace neste Inverno” foi a canção escolhida para apresentação deste disco. É este o tema que melhor define o “espírito” deste disco?

VL - Não sei se é o que melhor define, mas achei que o facto de referir literalmente o Inverno, transportaria automaticamente as pessoas  para essa gelidez, para uma distanciação de afectos. Além disso, não é uma música muito vulgar. Há vestígios de um inverno rigoroso na letra e em toda a composição musical. Acho que já marcou muitas pessoas, por isso está a cumprir o seu papel. 

PR - ”Pensei que fosse fácil”, é um dos temas que faz parte da Coletânea "Novos Talentos Fnac 2012". Como é que sentes por teres sido um dos eleitos para fazer parte desta compilação?

VL - Fiquei com o peito cheio de ar. É um sinal de reconhecimento do trabalho mas também da minha identidade. É um trabalho muito pessoal, não é pré-fabricado. Fazer parte deste grupo dá-me a possibilidade de levar estas canções a muito mais pessoas bem como de participar noutro tipo de eventos que me permitem fazer o que mais gosto, que é tocar e fazer música. Espero que seja um bom motivo para fazer mais. Mas mais do que alcançar reconhecimento, quero tocar corações gelados.

PR - As canções deste disco já tiveram oportunidade de serem apresentadas em concerto. Qual tem sido o “feedback” que tens recebido do público?

VL - Apresentei estas canções já em alguns sítios, todos eles com características diferentes e tive reacções surpreendentes, tais como pessoas a cantar o refrão de músicas que estavam a ouvir pela primeira vez, com a mesma vontade do que eu. Foi um sentimento realmente avassalador! Entretanto, as críticas nos meios de comunicação e dos ouvintes em geral têm sido todas muito positivas. Tanto a parte lírica como a musical têm sido muito elogiadas. Dizem-me que as canções têm muita identidade e isso é o que eu quero ouvir.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas - como caracterizarias este EP?

VL - Tenho tanto para dizer que responder de forma sintética é muito difícil. Posso dizer que são canções carregadas de emotividade no seu estado mais puro. Abordo todas as sensações primárias instintivamente, sem preconceitos. Citando uma parte do tema "Canduras Agruras" que faz parte do Inverno Ep: "Meu corpo é um caco partido no chão, cedo ao que ele pedir, cedo ao corpo a pedir...". 

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei da entrevista. Especialmente das palavras.
Este rapaz vai ter sucesso.

José Fernandes
Abraço

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