Dez anos depois de terem nascido, os
Supernada editam o primeiro trabalho - "Nada é Possível". Nascida em 2002, precisamente na mesma semana
dos Pluto, a banda portuense é composta por Manel Cruz (voz), Ruca Lacerda
(guitarra), Eurico Amorim (teclados), Miguel Ramos (baixo) e Francisco Fonseca
(baterista). Miguel Ramos é meu convidado, que em "Discurso Direto" nos fala de "um disco de uma banda bastante
peculiar, quer pela sua música, quer pela filosofia. Um disco de retalhos, de
corta e cose. Faz lembrar um edredon feito com os mais variados tecidos, e de
uma forma muito pouco ortodoxa, mas a costura final revela um edredon (meio)
luxuoso."
Portugal Rebelde - “Nada
é Possível”
é uma espécie de um “puzzle” que foi crescendo com um permanente tira e põe?
Miguel Ramos - Exactamente. É um “puzzle” que resulta
de um processo de cinco anos de experimentação musical e tecnológica. Decidimos
gravar o disco pelos nossos meios, nos nossos sítios. Isto deu-nos total
liberdade de criação e experimentação, mas também nos responsabilizou para o
facto de que tínhamos de ser nós a por um “ponto final”. Quando trabalhas com um
produtor, muitas vezes é ele quem te diz que “está feito”, “está bom”. No caso
do “Nada É Possível”, tendo sido produzido por nós, esse “ponto final” demorou
algum tempo. Partimos para o disco com as músicas antigas, que muito
rapidamente desvaneceram com o surgimento de novos sons, novas ideias, novos
caminhos. Tivemos tempo para aproveitar o “suminho” mais doce das músicas
antigas e de registar as musicas que foram surgindo. O resultado final é uma
mescla das musicas novas gravadas das mais diversas formas e as musicas antigas
“salvas” por novas roupagens. Fizemos questão de dar a conhecer alguns momentos
que para nós foram especiais, umas vezes cómicos ou surreais, outras vezes,
inspirados ou luminosos. Momentos estes
que, a meu ver, foram um importante contributo para a magia que está sempre à
espreita no disco.
PR - É
verdade, que desde que começaram a gravar este disco em 2006, o disco ganhou
contornos de miragem e da impossibilidade, que o seu titulo sugere?
MR - Sim. Durante todo o processo aconteceu
muita coisa na vida dos cinco, naturalmente. Como banda vivemos alguns momentos
mais intensos e outros mais desligados. Sinto que o disco foi gravado de uma
forma muito particular, de uma forma que só os Super “alinham”. De muitas
formas! Muitas vezes fez-me lembrar um grande Navio que estava a afundar-se. O
Ruca nunca abandonou o navio e o Manel esteve sempre a tentar consertar o
motor! :) Eu, o Xico e o Eurico tratavamos da carga. Cada um à sua maneira
tentou fazer com que o Navio não afundasse. Sei que todos chegamos a pensar que
não íamos conseguir, e questionamos constantemente se o resultado estaria à
altura das nossas expectativas, dos nossos sonhos. Mas o “ Nada É Possível” já
vive, foi um parto difícil, uma viagem atribulada. Agora que é real, sinto que
todos nós temos um carinho e uma estima muito especial por este disco, estima
essa que só é possível sentir por coisas que te deram muito trabalho e algum sofrimento
para as alcançar.
PR - Para
a realização do vídeoclip/single de “Arte Quis Ser Vida” decidiram juntar-se em
estúdio e gravar ao vivo; deste registo resultou uma leitura completamente
distinta daquela que está no álbum. Queres falar-nos um pouco desta
experiência?
MR - Achámos
fixe a ideia de gravar um vídeo “live”, um vídeo no qual estivéssemos a tocar.
É claro que a versão iria ficar diferente da do disco, mas aproveitamos para registar uma interpretação
da música anteriormente gravada, agora com a energia de quem tem um trabalho
concluído nas mãos e muita vontade para o mostrar. Acho que todos adoramos a
experiência, pela música, pelo ambiente, pelo reencontro, pelo ritual que se
criou naquela sala.
PR - Numa
frase apenas - ou duas - como caracterizarias este “Nada é Possível”?
MR - Um disco de uma banda bastante
peculiar, quer pela sua música, quer pela filosofia. Um disco de retalhos, de
corta e cose. Faz lembrar um edredon feito com os mais variados tecidos, e de
uma forma muito pouco ortodoxa, mas a costura final revela um edredon meio
luxuoso... Tenho a certeza de que todos aprendemos imenso com este disco, que
todos nos divertimos, e que todos sofremos. Por todas as razões, acho que se
trata de um trabalho muito especial. Nem que seja para nós e para as pessoas
que acabaram por se envolver no seu processo.
PR - Depois
do disco, vamos ter oportunidade de ouvir as canções deste trabalho em palco?
MR - Espero que sim! Temos vindo a tocar em
sítios muito especiais. Espero que continuemos a dar bons concertos, pois sinto
que as canções que estão no disco crescem quando as tocamos ao vivo. Agora que
temos o concerto montado, que temos uma equipa sólida, e com o bom ambiente que
tem vindo a imperar nos dias de concerto a energia da banda está renovada e a
meu ver, ainda mais intensa!
PR - Para
terminar, o segredo dos Supernada é nunca terem sido uma prioridade?
MR - O
segredo dos Supernada tem a ver com o facto de ainda não sabermos qual é o
nosso segredo...:) Continuamos à procura daquilo que nos faz querer fazer mais
e melhor música.
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