Depois de "Filomena Grita!" (2007), os TV Rural estão de regresso aos discos com "A Balada do Coiote". David Jacinto (voz e saxofone), David Santos (baixo, contrabaixo e voz) e Gonçalo Ferreira (guitarra elétrica e voz) são os nossos convidados, que em "Discurso Direto" nos falam de "um disco urbano e nocturno, onde se misturam ansiedades adolescentes com
inquetações da vida adulta...uma espécie de noite de copos onde se mistura bom
vinho, com cerveja gelada e shots manhosos."
PR - "Pop, rock, pós-punk, westerns
e santos populares"; é tudo isto que podemos encontrar no álbum “Balada do
Coiote”?
David Jacinto - De acordo com
o que o Paulo Cecílio escreveu em Bodyspace.net sobre o nosso
disco, sim. É isso e mais alguma coisa, como por exemplo (e volto a citar, já
que estamos numa de citações): anos noventa garageiros e, acima de tudo, boas canções. Quem já ouviu tv rural sabe que muitas das
nossas canções
vão beber a várias estilos e referências musicais. De modo que num disco com 11
canções é natural que sintamos as canções,
ou partes destas, a aproximarem-se desses estilos que referiste. As
canções muitas vezes pedem arranjos que nos levam por esses caminhos. Ouvir
este disco pode ser uma experiência bastante interessante... leva algum tempo
até que a música se entranhe, e ficarmos familiarizados com as suas estruturas,
depois há uma série de pormenores que se vão deixando notar a cada audição. É
preciso ouvir este disco com vontade de ouvir um disco.
PR - O Pedro Pupe, afirmou no press
realesse deste disco, que a música dos TV Rural pode ser descrita como
anti-pop, pela sua rejeição sistemática das fórmulas compositivas de formatos
amigos da rádio. Estás de acordo?
Gonçalo Ferreira - Sim, no sentido em que essa rejeição é
feita de uma forma natural, não é uma coisa pré-concebida, é como a música nos
sai naturalmente, sem pensar muito se é pop ou anti-pop.
David Santos - Sim e não! Sim porque
o anti-pop faz parte do ADN de tv rural. Sempre ouvimos muita música, música
variada, e toda ela nos influenciou. Ao longo destes anos fizemos muitas
canções e disparámos em muitas direcções, muitas vezes dentro da mesma canção.
Tínhamos músicas muito grandes e com muitas partes diferentes. Isso ajudou-nos
a encontrar aquilo que somos, a descobrir a nossa verdadeira identidade. Penso
que sempre fomos uma banda que era uma data de coisas e era acima de tudo tv
rural. Por outro lado não concordo com a afirmação pois penso que na Balada do
Coiote temos várias canções onde isso não acontece. E não acontece devido
precisamente ao amadurecimento dos tv rural. Temos hoje um maior poder de síntese
e objectividade fruto do caminho que percorremos.
David Jacinto - sendo: i – intro; v – verso; r – refrão e
s – solo (instrumento a definir); então: anti-pop = 1 / (i + v + r + v +
r + s + r); se: tv rural = f(v i, r, s) ; tal que f
é uma função aleatória; logo: tv rural ≠ anti-pop.Fórmulas?
Quais fórmulas?
PR - “Correr de Olhos fechados”, foi o
single escolhido para apresentação deste trabalho. É este o tema que melhor
retrata o espírito do disco?
Gonçalo Frreira -
Foi uma das escolhas possíveis, acho que é fiel ao conjunto do disco como
poderiam ser outras, como, por exemplo, o tema de abertura. “Quem me chamou”
não só faz um bom “boneco” do disco como também um retrato mais panorâmico da
historia da banda.
PR - “Toma um Comprimido”, um original de
António Variações, foi recuperado para este disco. A música do António
Variações é uma referência para os TV Rural?
Gomçalo Ferreira -
Acaba por ser, mas podiam ser outros, há muitos. No fundo o João mostrou-nos o
tema num ensaio e gostámos, começámos a tocá-lo e decidimos gravá-lo, acho que
nem sabemos bem porquê.
PR - Numa frase apenas – ou talvez duas -
como caracterizarias este “A Balada do Coiote”?
Gonçalo Ferreira - Pode ser o desabafo de alguém que sabe
bem o que quer dizer mas só passados alguns anos de amadurecimento ganhou
coragem para o dizer.
David Jacinto -
É um disco urbano e nocturno, onde se misturam ansiedades adolescentes com
inquetações da vida adulta... uma espécie de noite de copos onde se mistura bom
vinho, com cerveja gelada e shots manhosos à procura de respostas para o que
quer que seja.
PR - Já tiveram oportunidade de
apresentar as canções deste disco em palco. Qual tem sido o “feedback” que têm
recebido do público?
David Jacinto -
As canções deste disco têm feito parte dos alinhamentos dos últimos concertos,
até mesmo antes do disco sair. Regra geral têm sido bem recebidas. O público
que vai aos nossos concertos, conhece-nos bem e sabe o que lhes espera: um
concerto de rock genuíno e sem merdas, onde a interacção entre os músicos, o
público e a música é fulcral e é alimentada por ambas as partes. Por norma quem
vem aos concertos vem com vontade de rockar, e esse entusiasmo trespassa os
seus corpos e instala-se no de outros.
Cada concerto é diferente e isso depende muito da forma como o público se
propõe a reagir à nossa música. É preciso ir ver um concerto com vontade de ver
um concerto. Isso sim, é o legado dos
anos 90 garageiros!
PR - Para terminar, por onde passa o futuro
próximo dos TV Rural?
Gonçalo Ferreira - Também nós
gostávamos de saber. Independentemente dos feedbacks a este disco e tudo o que
ele nos possa dar, acho que o principal para a nossa sobrevivência é muito
elementar e básico: termos tempo para estarmos juntos e fazer música. A nossa
principal preocupação é marcar o próximo ensaio.
David Santos - O futuro próximo passa
por tentar fazer chegar a Balada do Coiote às pessoas. Estamos muito contentes
com este disco e queremos tocá-lo ao vivo.
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