20/08/2012

TV RURAL | Discurso Direto



Depois de "Filomena Grita!" (2007), os TV Rural estão de regresso aos discos com "A Balada do Coiote". David Jacinto (voz e saxofone), David Santos (baixo, contrabaixo e voz) e Gonçalo Ferreira (guitarra elétrica e voz) são os nossos convidados, que em "Discurso Direto" nos falam de "um disco urbano e nocturno, onde se misturam ansiedades adolescentes com inquetações da vida adulta...uma espécie de noite de copos onde se mistura bom vinho, com cerveja gelada e shots manhosos."

PR - "Pop, rock, pós-punk, westerns e santos populares"; é tudo isto que podemos encontrar no álbum “Balada do Coiote”?

David Jacinto - De acordo com o que o Paulo Cecílio escreveu em Bodyspace.net  sobre o nosso disco, sim. É isso e mais alguma coisa, como por exemplo (e volto a citar, já que estamos numa de citações): anos noventa garageiros e, acima de tudo, boas canções. Quem já ouviu tv rural sabe que muitas das nossas canções vão beber a várias estilos e referências musicais. De modo que num disco com 11 canções é natural que sintamos as canções, ou partes destas, a aproximarem-se desses estilos que referiste. As canções muitas vezes pedem arranjos que nos levam por esses caminhos. Ouvir este disco pode ser uma experiência bastante interessante... leva algum tempo até que a música se entranhe, e ficarmos familiarizados com as suas estruturas, depois há uma série de pormenores que se vão deixando notar a cada audição. É preciso ouvir este disco com vontade de ouvir um disco.

PR - O Pedro Pupe, afirmou no press realesse deste disco, que a música dos TV Rural pode ser descrita como anti-pop, pela sua rejeição sistemática das fórmulas compositivas de formatos amigos da rádio. Estás de acordo? 

Gonçalo Ferreira - Sim, no sentido em que essa rejeição é feita de uma forma natural, não é uma coisa pré-concebida, é como a música nos sai naturalmente, sem pensar muito se é pop ou anti-pop.

David Santos - Sim e não! Sim porque o anti-pop faz parte do ADN de tv rural. Sempre ouvimos muita música, música variada, e toda ela nos influenciou. Ao longo destes anos fizemos muitas canções e disparámos em muitas direcções, muitas vezes dentro da mesma canção. Tínhamos músicas muito grandes e com muitas partes diferentes. Isso ajudou-nos a encontrar aquilo que somos, a descobrir a nossa verdadeira identidade. Penso que sempre fomos uma banda que era uma data de coisas e era acima de tudo tv rural. Por outro lado não concordo com a afirmação pois penso que na Balada do Coiote temos várias canções onde isso não acontece. E não acontece devido precisamente ao amadurecimento dos tv rural. Temos hoje um maior poder de síntese e objectividade fruto do caminho que percorremos.

David Jacinto - sendo: i – intro; v – verso; r – refrão e s – solo (instrumento a definir);  então: anti-pop = 1 / (i + v + r + v + r + s + r); se: tv rural = f(v i, r, s) ; tal que f é uma função aleatória; logo: tv rural ≠ anti-pop.Fórmulas? Quais fórmulas?

PR - “Correr de Olhos fechados”, foi o single escolhido para apresentação deste trabalho. É este o tema que melhor retrata o espírito do disco?

Gonçalo Frreira - Foi uma das escolhas possíveis, acho que é fiel ao conjunto do disco como poderiam ser outras, como, por exemplo, o tema de abertura. “Quem me chamou” não só faz um bom “boneco” do disco como também um retrato mais panorâmico da historia da banda.

PR - “Toma um Comprimido”, um original de António Variações, foi recuperado para este disco. A música do António Variações é uma referência para os TV Rural?

Gomçalo Ferreira - Acaba por ser, mas podiam ser outros, há muitos. No fundo o João mostrou-nos o tema num ensaio e gostámos, começámos a tocá-lo e decidimos gravá-lo, acho que nem sabemos bem porquê.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas - como caracterizarias este “A Balada do Coiote”?

Gonçalo Ferreira - Pode ser o desabafo de alguém que sabe bem o que quer dizer mas só passados alguns anos de amadurecimento ganhou coragem para o dizer.

David Jacinto - É um disco urbano e nocturno, onde se misturam ansiedades adolescentes com inquetações da vida adulta... uma espécie de noite de copos onde se mistura bom vinho, com cerveja gelada e shots manhosos à procura de respostas para o que quer que seja.

PR - Já tiveram oportunidade de apresentar as canções deste disco em palco. Qual tem sido o “feedback” que têm recebido do público?

David Jacinto - As canções deste disco têm feito parte dos alinhamentos dos últimos concertos, até mesmo antes do disco sair. Regra geral têm sido bem recebidas. O público que vai aos nossos concertos, conhece-nos bem e sabe o que lhes espera: um concerto de rock genuíno e sem merdas, onde a interacção entre os músicos, o público e a música é fulcral e é alimentada por ambas as partes. Por norma quem vem aos concertos vem com vontade de rockar, e esse entusiasmo trespassa os seus corpos e instala-se no de  outros. Cada concerto é diferente e isso depende muito da forma como o público se propõe a reagir à nossa música. É preciso ir ver um concerto com vontade de ver um concerto.  Isso sim, é o legado dos anos 90 garageiros!

PR - Para terminar, por onde passa o futuro próximo dos TV Rural?

Gonçalo Ferreira - Também nós gostávamos de saber. Independentemente dos feedbacks a este disco e tudo o que ele nos possa dar, acho que o principal para a nossa sobrevivência é muito elementar e básico: termos tempo para estarmos juntos e fazer música. A nossa principal preocupação é marcar o próximo ensaio.

David Santos - O futuro próximo passa por tentar fazer chegar a Balada do Coiote às pessoas. Estamos muito contentes com este disco e queremos tocá-lo ao vivo.

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