15/12/2012

ERMO | Discurso Direto


Chamam-se Ermo e nasceram "à sombra de Deus", na cidade de Braga. Recentemente brindaram-nos com o seu belíssimo EP de estreia, um disco que gira em torno do conceito "Quinto Império" de Fernando Pessoa. O Portugal Rebelde esteve à conversa com António Costa e Bernardo Barbosa, que em "Discurso Direto" nos revelam os "segredos" da música dos Ermo.

Portugal Rebelde - Antes de mais, quem são e como nasceram os Ermo?

António Costa - Os Ermo sou eu, o António Costa e o Bernardo Barbosa. O projecto começou em Julho do ano passado com o propósito de produzir algumas faixas minhas, mas acabou por fazer mais sentido juntarmo-nos sob um denominador comum. Fizemos no passado dia 9 de Dezembro um ano de banda, a contar a partir do primeiro concerto, no Porto, num bar chamado Basement.

PR - “E, como peso da fatalidade, a tolher-nos a voz, mergulhados na auto-comiseração, complacentes com a dor, choramos por outrora…”, escreveu Adolfo Luxúria Canibal. É Este o retrato do povo que os Ermo cantam?

AC - Não cantamos um povo choroso nem o contrário. Cantamos e tratamos assuntos que relacionem, directamente ou não, com Portugal, mas a linha condutora para a nossa lírica define-se através de uma espécie de Portugalidade que nos é inerente, não fôssemos nós portugueses. Claro que, fazendo músicas sobre os dias de hoje, é impossível não falar de um certo desânimo evidente que se sente hoje em dia. Apesar de tratarmos o Quinto Império no nosso EP, um mito, em tudo, optimista, não podemos deixar de defini-lo através do seu negativo, que é a realidade actual.

PR - A Portugalidade é a linha que norteia a música dos Ermo?

Bernardo Barbosa - Dizer “a” linha talvez seja excessivo, mas é sem dúvida um factor muito decisivo dentro daquilo que temos vindo a fazer. Já ficou dito em várias entrevistas que gostámos de nos aproximar da nossa música tradicional e de explorar temas que dizem essencialmente respeito ao nosso país; o nosso EP, que gira à volta do conceito de “Quinto Império”, e sobretudo à volta do quinto império de Fernando Pessoa, é prova disso mesmo.

PR - Numa frase apenas como caracterizarias este EP”?

AC - Podendo surgir, um pouco, como uma negação à pergunta, acho que não consigo defini-lo através de apenas uma frase. Seria demasiado redutor fazê-lo quando creio haver uma teia teórica tão elaborada por detrás dos assuntos que tratamos. Aliás, fico feliz por não o conseguir fazer.

PR - Que influência tem a cidade de Braga na criação da música dos Ermo?

BB - A cidade de Braga tem sobretudo influência em nós enquanto pessoas: vivemos aqui desde muito novos e estamos por isso muito ligados à realidade bracarense. É uma cidade que em momentos nos orgulha, e noutros nos faz querer estar noutro lado, mas onde nos sentimos quase sempre felizes. Esta relação estende-se, claro, à música de Ermo: não é em vão que a primeira música que gravámos em estúdio se chama “Augusta”. Depois também há a questão do património musical dos anos 80 e de alguns projectos culturais mais recentes que nos ajudaram no nosso percurso, como é caso da compilação “À Sombra de Deus” ou do Projéctil.

PR - Os Ermo deram-se a conhecer com a canção “Augusta” na coletânea “À Sombra de Deus IV”. A compilação de 2012 é o “retrato” fiel da cena musical bracarense?

AC - É um retrato fiel da maneira como nós vemos Braga. Obviamente não a vemos todos com os mesmos olhos. Mas, de facto, como o Bernardo já referiu, apesar de gostarmos muito da nossa cidade natal, é impossível não sentirmos, por vezes, alguma desilusão com as pessoas que a (des)norteiam, tanto a nível cultural como político.

PR - Numa altura em que o país vive mergulhado numa realidade que nos consome e constrange, a “panhonhice” do povo português, de que falam no disco está a tornar-se “sufocante”?

AC - Não diria que é sufocante, mas sim emburrecedora, se é que me permites o termo. Como já disse noutras entrevistas, o português fala de Portugal como uma entidade da qual se exceptua e enquanto isso acontecer, não chegaremos a um consenso no que toca a soluções nem a união.

PR - Para terminar, depois do EP, para quando a edição do primeiro álbum?

BB - Temos concretizado ultimamente algumas ideias para o álbum, e já decidimos entre nós a sua sonoridade e traços conceptuais. Queremos que saia no primeiro semestre do próximo ano, e podemos dizer que estamos confiantes quanto à realização desse objectivo; ainda que seja difícil oferecer garantias absolutas no que toca a datas neste momento.

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