05/12/2012

O BAÚ | Discurso Direto


Hoje em "Discurso Direto" espreitamos pela fechadura d´O Baú, para descobrir  "Achega-te", "um disco português, de alma e sonoridades portuguesas, com músicos urbanos a recriar música tradicional." Luís Miguel Abreu é meu convidado e dá voz ao recente projeto O Baú.

Portugal Rebelde - Antes de mais como é que nasceu o projeto O Baú?

Luís Miguel Aveiro - O Baú nasceu de um conjunto de alunos de Gaita-de-foles da Associação Gaita-de-foles, onde se conheceram.  Gonçalo Almeida, Luis Lourenço e Luis Miguel Aveiro. Logo depois juntou-se o respectivo professor de Gaita, Francisco Pimenta. Nasceu desde o início com uma vontade colectiva de fazer música tradicional portuguesa. Mais tarde foram-se juntando mais elementos, para completar as necessidades sonoras do grupo, percussão, voz, baixo, etc. Tivemos já mudanças de elementos dentro do grupo, na voz, no violino, na gaita, no baixo mas sempre mantendo a sonoridade e objectivos pretendidos desde o primeiro começo.

PR - Recuperar as músicas de trabalho que se ouviam nos campos de cultivo e as canções de embalar antigas há muito esquecidas, dando-lhe uma nova “leitura”. É este o ponto de partida para O Baú?

LMA - O nosso ponto de partida foi o de usar os instrumentos de tradição portuguesa: voz, gaita-de-foles, cavaquinho, braguesa e guitarra portuguesa, violino, percussão. Com esse fundamento e com muita vontade de trabalhar temas de raiz portuguesa, sejam de recolha ou originais, pretende-se fazer música que “soe” portuguesa, não sendo nem fado nem sendo música rural. Sendo música urbana mas evitando os recursos estilísticos e instrumentais hoje em dia mais habituais mas que fogem à tradição, como por exemplo guitarra, bateria, piano, etc. Não querendo ser fundamentalistas nacionalistas no lado negativo do termo, somos permeáveis a outras sonoridades (p. ex. usamos o baixo eléctrico) e temos o Kepa Kunkera (músico basco) como convidado no CD. O tipo de arranjos que procuramos pretende ser claro, harmonicamente rico, por vezes um pouco elaborado, conjugando bem as cordas dedilhadas com o violino e a gaita-de-foles, sendo esta última acompanhada da percussão, um elemento fundamental na energia com que nos queremos apresentar.

PR - Este primeiro disco conta com a participação de reconhecidos nomes da música de raiz nacional e internacional: Kepa Junkera, Sebastião Antunes, Celina da Piedade e Sara Vidal. Quer falar-nos um pouco destas participações?

LMA - As participações que tivemos no grupo são todas relacionadas com os nossos interesses, preferências musicais e conhecimentos do músicos em questão. No caso do basco Kepa Junkera, foi um contacto feito com ele pela internet que nos permitiu abrir o caminho à sua participação. Foi de uma entrega e humildade absolutamente extraordinárias, para além do enorme enriquecimento musical que nos trouxe ao CD. Aliás todos os músicos convidados que participaram no CD acrescentaram algo de muito valioso à nossa música. É sempre uma lição musical que se tira, laços que se criam e um enriquecimento valioso ao nosso trabalho.

PR - O nome do álbum tem origem numa das músicas que o integra: “Achégate a min Maruxa”, uma música de José Afonso a partir de um texto tradicional galego. José Afonso será sempre uma referência maior para o projeto O Bau?

LMA - José Afonso é talvez a referencia maior de um músico português que possamos ter, na medida em que para além da extraordinária mensagem que fez passar com as suas letras, teve sempre uma sonoridade única, nossa, inconfundível, que sendo absolutamente original, é também absolutamente portuguesa. Não sendo a nossa única referência, será talvez a maior.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas -  como caracterizaria “Achega-te”?

LMA - Um disco português, de alma e sonoridades portuguesas, com músicos urbanos a recriar música tradicional.

PR - Depois do disco, vamos ter a oportunidade “espreitar” em palco as canções deste disco de estreia?

LMA - Evidentemente, estamos a preparar um série de concertos nesse sentido, se possível por todo o país.

PR - Para terminar, o Baú assume-se como música portuguesa em constante renovação, arriscando novas possibilidades e novos caminhos?

LMA - Na medida em que procuramos sempre a originalidade dentro do tradicional, pode-se dizer que sim. Sempre à procura de novos caminhos e de novas possibilidades, desde que não se perca a alma e sonoridades que são identificadoras da nossa cultura.

Sem comentários:

/>