Hoje em "Discurso Direto" espreitamos pela fechadura d´O Baú, para descobrir "Achega-te", "um disco português,
de alma e sonoridades portuguesas, com músicos urbanos a recriar música
tradicional." Luís Miguel Abreu é meu convidado e dá voz ao recente projeto O Baú.
Portugal Rebelde - Antes de mais como
é que nasceu o projeto O Baú?
Luís Miguel Aveiro - O Baú
nasceu de um conjunto de alunos de Gaita-de-foles da Associação Gaita-de-foles,
onde se conheceram. Gonçalo Almeida,
Luis Lourenço e Luis Miguel Aveiro. Logo depois juntou-se o respectivo
professor de Gaita, Francisco Pimenta. Nasceu desde o início com uma vontade
colectiva de fazer música tradicional portuguesa. Mais tarde foram-se juntando
mais elementos, para completar as necessidades sonoras do grupo, percussão,
voz, baixo, etc. Tivemos já mudanças de elementos dentro do grupo, na voz, no
violino, na gaita, no baixo mas sempre mantendo a sonoridade e objectivos
pretendidos desde o primeiro começo.
PR - Recuperar as
músicas de trabalho que se ouviam nos campos de cultivo e as canções de embalar
antigas há muito esquecidas, dando-lhe uma nova “leitura”. É este o ponto de
partida para O Baú?
LMA - O nosso
ponto de partida foi o de usar os instrumentos de tradição portuguesa: voz,
gaita-de-foles, cavaquinho, braguesa e guitarra portuguesa, violino, percussão.
Com esse fundamento e com muita vontade de trabalhar temas de raiz portuguesa,
sejam de recolha ou originais, pretende-se fazer música que “soe” portuguesa,
não sendo nem fado nem sendo música rural. Sendo música urbana mas evitando os recursos
estilísticos e instrumentais hoje em dia mais habituais mas que fogem à
tradição, como por exemplo guitarra, bateria, piano, etc. Não querendo ser fundamentalistas
nacionalistas no lado negativo do termo, somos permeáveis a outras sonoridades
(p. ex. usamos o baixo eléctrico) e temos o Kepa Kunkera (músico basco) como
convidado no CD. O tipo de
arranjos que procuramos pretende ser claro, harmonicamente rico, por vezes um
pouco elaborado, conjugando bem as cordas dedilhadas com o violino e a
gaita-de-foles, sendo esta última acompanhada da percussão, um elemento
fundamental na energia com que nos queremos apresentar.
PR - Este primeiro
disco conta com a participação de reconhecidos nomes da música de raiz nacional
e internacional: Kepa Junkera, Sebastião Antunes, Celina da Piedade e Sara
Vidal. Quer falar-nos um pouco destas participações?
LMA - As participações que
tivemos no grupo são todas relacionadas com os nossos interesses, preferências
musicais e conhecimentos do músicos em questão. No caso do basco Kepa Junkera,
foi um contacto feito com ele pela internet que nos permitiu abrir o caminho à
sua participação. Foi de uma entrega e humildade absolutamente extraordinárias,
para além do enorme enriquecimento musical que nos trouxe ao CD. Aliás todos os
músicos convidados que participaram no CD acrescentaram algo de muito valioso à
nossa música. É sempre uma lição musical que se tira, laços que se criam e um
enriquecimento valioso ao nosso trabalho.
PR - O nome do álbum
tem origem numa das músicas que o integra: “Achégate a min Maruxa”, uma música
de José Afonso a partir de um texto tradicional galego. José Afonso será sempre
uma referência maior para o projeto O Bau?
LMA - José Afonso é talvez
a referencia maior de um músico português que possamos ter, na medida em que
para além da extraordinária mensagem que fez passar com as suas letras, teve
sempre uma sonoridade única, nossa, inconfundível, que sendo absolutamente original,
é também absolutamente portuguesa. Não sendo a nossa única referência, será
talvez a maior.
PR - Numa frase apenas
– ou talvez duas - como caracterizaria
“Achega-te”?
LMA - Um disco português,
de alma e sonoridades portuguesas, com músicos urbanos a recriar música
tradicional.
PR - Depois do disco,
vamos ter a oportunidade “espreitar” em palco as canções deste disco de
estreia?
LMA - Evidentemente,
estamos a preparar um série de concertos nesse sentido, se possível por todo o
país.
PR - Para terminar, o Baú assume-se como
música portuguesa em constante renovação, arriscando novas possibilidades e
novos caminhos?
LMA - Na
medida em que procuramos sempre a originalidade dentro do tradicional, pode-se
dizer que sim. Sempre à procura de novos caminhos e de novas possibilidades,
desde que não se perca a alma e sonoridades que são identificadoras da nossa
cultura.
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