30/10/2013

ORBLUA | Discurso Direto

                                                                                        foto: Jorge Jubilot

Hoje no Portugal Rebelde recebemos OrBlua, projecto criado em 2011 pela parceria de 4 músicos provenientes de diferentes universos musicais, para um único propósito, criar uma sonoridade que represente o património nos mais diversos sentidos e direcções. Uma sonoridade que cheira a Algarve, a mar, a serra, a mediterrâneo, a Europa, a mundo... uma sonoridade que recolhe cheiros, cores, histórias, memórias, paisagens e costumes...

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu o projeto OrBlua?

Carlos Norton - OrBlua nasceu pela vontade de criar e explorar um caminho musical que fosse só nosso, completamente livre de preconceitos e formatos, dando todo o espaço à criatividade e imaginação. Um projecto onde a composição e arranjos não obdecessem a nenhuma regra que não a da nossa própria vontade. Era uma ambição que durava há uns anos e que foi forçadamente despoletada em 2011. Nesse ano a Rádio Universitária do Algarve lançou o projecto Sul Azul, do qual era produtor. À última da hora uma das nove bandas participantes teve um imprevisto e ficou impossibilitada de participar. Como produtor tinha que arranjar uma outra banda apenas a 1 mês das gravações em estúdio. Tomei então a decisão de avançar com o projecto, impulsionado pela urgência do Sul Azul. Em poucos dias estava reunida a banda, composto o tema e prontos para ir para estúdio. O resultado foi um tema que mereceu os melhores elogios mesmo integrando um álbum de música algarvia, ao lado de algumas bandas com muitos anos de experiência. Dois meses depois tínhamos o primeiro concerto e logo numa sala mítica do Algarve, o Teatro Lethes. Um nascimento repentino já sem retorno.

PR - O Tradicional, o contemporâneo, e o moderno fundem-se em torno de OrBlua. A singularidade deste projeto passa por esta aposta?

CN - Esse é o mote para OrBlua, apesar da “aposta” não ser sequer premeditada, mas reflexo da maneira como encaramos a música. É difícil pensarmos em termos musicais naquilo que será tradicional, popular, moderno, contemporâneo ou outra nomenclatura qualquer, a não ser que haja um esforço para manter a vertente musical dentro dos parâmetros que se quer. No nosso caso assumimos que utilizamos linguagens tradicionais e instrumentos étnicos, como bases das nossas fundações, registo dos nossos passados. Mas somos uma banda do séc. XXI e abusamos da liberdade criativa, tanto na composição como nos arranjos, que nos permite marcar trilhos pelo nosso próprio pulso. Assim percebemos que seguimos uma sonoridade que assenta nas raízes tradicionais, com a contemporaniedade de hoje, mas com experimentalismos que transportam tudo isto para outros caminhos. De certa maneira sentimos que cruzamos o passado, o presente e o futuro.

PR - OrBlua é uma sonoridade que cheira a Algarve, a mar, a serra, a mediterrâneo, a Europa e a mundo?

CN - Sim, é verdade. Não gostamos de ficar fechados num casulo, nem de repousar num mundo inexistente. O que está à nossa volta é o que nos inspira. Somos de Faro, do Algarve, de Portugal, da Europa, do Mundo. E deste ponto, olhamos à volta, através de uma grande angular, à procura da nossa identidade. E ela é feita de pormenores que estão ao nosso alcance, quer por estarem mesmo aqui à mão, ou a milhares de quilómetros de distância. Tudo isso faz de nós o que somos. A consequência disso é também musical. Não tocamos música tradicional algarvia, portuguesa, europeia ou do mundo, mas fazemos algo onde tudo isso será identificável. Não temos fronteiras por onde caminhamos, apenas a consciência do ponto de partida.

PR - "O Aviãozinho Militar" é a melhor porta de entrada para descobrir o EP “Trihologia Noctiluca”?

CN - Eventualmente... Quando lançámos o EP, nunca avançámos com um “single”, deixámos simplesmente divulgar o trabalho no todo. Acabou por ser um processo de selecção (natural) das rádios optar por um tema para ir para o ar. A escolha acabou por recair de forma consistente no Aviãozinho Militar. Para nós que vivemos o EP de forma intensa e deste modo de um ponto de vista muito pessoal, é difícil escolher entre os temas quais o que melhor representa OrBlua, mas percebemos que o Aviãozinho seja um bom cartão de visita. Inclusivamente acabou por ser esse tema que escolhemos para fazer o nosso primeiro teledisco, um filme de animação realizado e produzido por nós, que acabou por ser distinguido também a nível cinematográfico, fazendo parte da selecção oficial do Arouca Film Festival e do Festival Internacional de Curtas de Faro, onde foi galardoado com o 3º prémio para Melhor Videoclip.

PR - “Azul”, é o tema bónus que fecha este EP, “repescado” do álbum “Sul Azul”. Este é também mais um motivo para celebrar o Algarve?

CN - Quisemos incluir esse tema, não como parte integrante do EP, que foi pensado para os 5 temas, mas como bónus. Acima de tudo porque o “Sul Azul” teve uma distribuição específica para o mundo da música, para divulgar as bandas algarvias. Sendo difícil para a maior parte das pessoas conseguir um exemplar do “Sul Azul”, seria difícil a quem goste de OrBlua, ficar com o registo desse “Azul”. O tema “Azul” é especial, porque a letra é uma bela homenagem à região. Mas o Algarve para nós não se fica pelo “Azul”. Para nós o Algarve é sempre celebrado na nossa música. É a terra que nos acolhe, que nos rodeia, que nos inspira. Por isso a nossa música, as nossas letras, obrigatoriamente serão um reflexo deste sul.

PR - Numa frase apenas como caracterizarias o EP "Trihologia Noctiluca”?

CN - Uma frase repleta de adjectivos, substantivos e verbos, trocados dos habituais lugares, que dão corpo a uma frase invulgar e por vezes estranha, mas que no âmago soa a poesia...


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