Hoje recebemos no Portugal Rebelde As 3 Marias: Cristina Bacelar, Fátima Santos e Ianina Khmelik. O grupo surgiu no Porto em 2008 e baseia-se no tango fusão tocado e cantado maioritariamente em português. Denominado pela crítica como “o novo tango da invicta”, as 3 Marias editaram recentemente o seu segundo trabalho, "Bipolar".
Portugal Rebelde - É o tango que aproxima uma vez mais a Foz do Douro e a Foz do Rio de La Plata?
As 3 Marias - O tango é o espaço musical onde as 3 Marias encontram o seu lugar para criar e reinventar a música que fazem. A foz de um rio, à semelhança das Cidades Invisíveis de Italo Calvino, é uma matriz de alma e do imaginário por isso, o Porto e Buenos Aires encontram-se sem dúvida neste desaguar que é o grande Atlântico…Oceano de encontros!
PR - Segundo o dicionário da Língua Portuguesa, Bipolar, define-se como: que tem 2 pólos; que tem uma perturbação de humor que oscila entre estados depressivos e estados de excitação eufórica. É um pouco de tudo isto, que podemos encontrar neste segundo “capítulo” de As 3 Marias?
As 3 Marias - Escolhemos propositadamente esta definição do dicionário porque a nossa música oscila entre momentos de grande sensibilidade e emoção e um lado mais exuberante (musicalmente falando). Assumimos esta bipolaridade porque nós próprias, na nossa cumplicidade e na construção deste disco, partilhamos momentos extremos e intensos. Curiosamente a maturação deste disco foi lenta e demorada mas a sua concretização foi fulminante e rápida. É um disco de viagens constantes entre sentimentos, claramente opostos. Acima de tudo, deu-nos muito gozo fazê-lo. É algo que vivemos também em cada concerto que fazemos.
PR - Um dos instrumentais deste “Bipolar” é “Libertango”. Foi esta a forma que encontraram para homenagear Astor Piazzolla?
As 3 Marias - Claramente que sim. Escolhemos esta música porque para nós é uma metáfora da capacidade que a música tem de ser Liberdade, de se reinventar nos seus próprios cânones, de poder Ser o que se É em cada momento. Piazzolla foi um mestre da Liberdade. Quando escreve em parceria com Horacio Ferrer a opereta Maria de Buenos Aires, retrata corajosamente e “avant la lettre”o paradigma sinistro de uma ditadura… musicalmente este Libertango, dá abertura e liberdade aos instrumentos de se expressarem . É uma composição magistralmente generosa porque permite ao músico/interprete rever-se nela e no nosso caso até permitiu que a voz entrasse…
PR - ”Maryjoana”, o single de apresentação deste disco é um dueto com Aberto Almeida dos Cabaret Fortuna. Este é o tema, que dá o sentido “Bipolar” ao disco?
As 3 Marias - Sem dúvida que sim. A Maryjoana retrata uma personagem do Porto mas que poderia ser de outro lugar qualquer. É uma homenagem a todas as esteticistas deste país, que diariamente lutam pelo seu trabalho “arrancando pêlo e fazendo mise”, à semelhança de qualquer ser humano, seja ele filosofo, artista ou operário. Tem uma letra minimalista mas no fundo conta uma história que desde sempre fez parte da Humanidade: amar e ser amado. Musicalmente é um tango folk bem disposto mas que tem uma harmonia complexa. Fica no ouvido e o objectivo também era esse, no entanto tem bem mais que 2 acordes…Esta música tem igualmente um lado didático pois é um meio que nós usamos propositadamente para levar o tango a novos públicos… quem ouve Piazzolla não ouviria a Maryjoana e é antropologicamente curioso perceber que quem a ouve está aberto a receber a nossa versão do Piazzolla e o resto do nosso disco.
PR - Já tiveram a oportunidade de apresentar ao vivo as canções deste “Bipolar”. Qual tem sido o feedback que têm recebido do público?
As 3 Marias - Tem sido muito gratificante. Aliás, o humor está inerente nos nossos concertos não só na Maryjoana mas também na interacção que temos com o público o que provoca uma reação curiosa nas pessoas e que nos surpreende no final de cada concerto… as pessoas saem sempre com um sorriso nos lábios e bem dispostas. O encore do nosso concerto é uma síntese da nossa bipolaridade pois tocamos o Corpete Vermelho e logo a seguir a Maryjoana. Na verdade, acreditamos que a música pode ser um bálsamo.
PR - Numa frase apenas como caracterizariam este “Bipolar”?
As 3 Marias - Bipolar é a nossa patologia musical saudável!... Uma contradição nos próprios termos, mas afinal o que é a condição humana?
www.facebook.com/pages/As-3-Marias/169603863055299
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