Em "Sangue Bom" (Universal, 2014), o novo álbum de João Afonso, é possível encontrar o inesperado diálogo entre a musicalidade de João Afonso e as narrativas, as histórias e os mistérios de Mia Couto e de José Eduardo Agualusa. Três autores, dois escritores e um músico/cantor, sem pátria definida. Em "Discurso Direto" João Afonso, comenta faixa a faixa as 14 canções do álbum "Sangue Bom".
01. Estrada de Sumbe
É um tema de Terra quente de Porto Amboím. Uma das minhas canções preferidas do CD. Agualusa transporta-me para um ambiente Soromenho dos dias de hoje.
02. Na grande casa branca
Identifico-mto com esta canção . Eu , como o Agualusa podemo-nos identificar com esse eterno momento que ele fala. Onde fomos felizes para sempre. Com largas varandas para o mar . "tudo pesiste idêntico e perpétuo dentro de nós. É o paradigama da infância feliz perdida mas fotografada pela nossa memória. Eu noutro dia li um livro do Fernabdo Dacosta sobre os retornados, eu apesar de miúdo, fui um retornado e acho que é uma fase da nossa história recente importante , u grande drama e de facto como diz o Fernando Dacosta nesse grande livro os retornados mudaram a face de Portugal. Com a parceria do meu amigo Fred Martins e sonoridades que vão do Kissanji do Mário Rui aos teclados do Fausto Ferreira.
03. Astros
Um poema de um surrealismo que só o Mia consegue . Eu também sou um aprendiz de avessos tentando cclher a lição. Uma canção com um som multiplo que o produtor Vitor Milhanas conseguiu mais o berimbau do Quiné...
04. Sangue bom
Como diz o Mia Couto "cada homem é uma raça" e o Agualusa diz "nunca sofri de raça minha pele é muito boa ...saiba o senhor...é. Contra o preconceito,contra qualquer descriminação rácica, religiosa ,homofobia, (isto vem a propósito por causa do recente recuo dos nossos representantes etc. Como diz o Agualusa "eu não creio em raça, não."
05. Lagarto
Escrito por Agualusa onde "já fui lagarto" na pedra ardendo sob um sol tropical e um deserto quente desalinhando palavras num som que considero o mais "ousado" do "sangue bom".
06. Sem Volta
"na minha terra há uma estrada tão larga..." é um belo poema do Mia Couto. Leva-nos a Moçambique mas poderia ser no Alentejo ou na Estrada do Keroac. è um dos meus temas com que mais me identifico.
07. Verde para crer
Verde para crer, a vida salta da chuva , coração de São Tomé. Fizemos os dois, eu e o Zé Eduardo Agualusa, o tema à beira daquele mar imenso, no leve leve do povo de São Tomé. Nesse imenso véu de incenso ao amanhecer é ver para crer , é verde para crer . toco guitarra com o meu amigo Rogério.
08. A paixão só atrapalha
Stewart Sukuma e Costa Neto , tinham que estar . sou luso- Moçambicano e este tema escrito pelo Mia Couto desalinhando o destino na palma mão é especial também. Há uma frase com a qual me identifico: " a paixão só me atrapalha", de tal forma que pedi ao Mia que o tema se chamasse assim. A paixão só atrapalha.
09. Canção Pitanga
Pitanga é um cato que vive com pouca humidade mas aqui vive com a imaginação do Agualusa. Deambulando nos caracóis do cabelo da filha do autor da letra e também da música.
10. Onde o amor termina
É um tema sobre o encontro e o desencontro, sobre o amor e desamor e sobre a morte. Intenso e forte e acho que conseguimos ir de encontro com o ambiente do texto.
11. Sementes
Acho que este texto como outros fazem pensar, quase filosófico e introspectivo ganhou um universo especial com a sanfona do meu amigo galego Anxo Pintos.
12. Canção da despedida
Aline Frazão na voz . sinto-me honrado ter uma intérprete e compositora tão maravilhosa a cantar este poema do meu amigo Agualusa, aliás foi ele que me falou dela primeira vez e mais tarde a Úxia apresentou-me. É um poema que foi tirado de um caderno de poemas que o Zé Eduardo me emprestou. É um poema de amor de despedida de separação paixão e algum erotismo.
13. A dor e o tempo
É outro poema do Mia introspectivo sobre a morte e como encaramos o desaparecimento de alguém próximo. Isso é naturalmente a minha leitura . Magistralmente tocado pelo meu amigo João Lucas.
14. Canção de Goa
Esta multiplicidade de sonoridades e universos que o produtor e arranjador, o meu amigo Vitor Milhanas conseguiu culmina neste poema sedutor de Agualusa escrito por ele quando escreveu o livro "um estanho em Goa". Destaco por fim o Mia e Agualusa a grande qualidade e coragem da palavra. A dedicação e capacidade artística do Vitor Milhanas. A generosidade da colaboração de imensos músicos e todos que colaboraram.
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