10/03/2014

RITA DIAS & OS MALABARISTAS | Discurso Direto


Hoje recebemos no Portugal Rebelde Rita Dias & Os Malabaristas. "Com os pés na Terra", é o álbum com que a cantora se apresenta, um disco verdadeiro na forma e o conteúdo. A Rita fala do país, das cidades, das aldeias, das pessoas, do fado, das ideias e das memórias. Mistura Brasil e Portugal, usa e abusa da língua portuguesa, não tem rótulo. Apresenta música original, cantada em português, e juntou-se a quatro músicos a quem dá o nome de Os Malabaristas. Chamou três convidados especiais: Paulo de Carvalho, Celina da Piedade e Tiago Curado de Almeida (projeto "Pensão Flor").

Portugal Rebelde - ”Com os pés na Terra”, foi este o princípio que a orientou até chegar à edição do seu primeiro registo?

Rita Dias - Sem que eu tivesse consciência, foi. Quando comecei a compor, não o fiz guiada por nenhum princípio; aconteceu. Mas depois de ver reunidas as canções originais, percebi que todas tinham uma característica comum: a ligação às origens culturais, afetivas e naturais.

PR -  ”Pode ser choro, depois samba/ até bossa, falo jazz”, canta em “Choraminguice”. São estas as “latitudes” musicais que podemos encontrar neste “Com os pés na Terra”?

RD - Sim. Nessa frase, só faltou encaixar o fado, que também existe (veja-se o “Fado-Nação”). Mas a canção “Choraminguice” é, de facto, um bom exemplo do que o disco reserva: Portugal e Brasil sentados na mesma mesa. É uma canção que fala da paisagem humana de Lisboa e das personagens alfacinhas, quando o ambiente sonoro choramingado nos leva a viajar até ao Brasil. Apresenta ao ouvinte o propósito da nossa música, daquilo que fazemos. No entanto, o caminho para chegar até aqui, a este disco “com os pés na terra”, não dependeu inteiramente da bagagem de uma pessoa. Dependeu da circunstância, do talento e da sabedoria de várias. É, por isso, a combinação multifacetada de quem permitiu a sua concretização: eu e o Filipe Almeida (produtor, diretor musical e um dos músicos malabaristas), enquanto compositores com um pé em Portugal e outro no Brasil; os malabaristas André Rosinha (contrabaixo), Pedro Nobre (piano) e Alexandre Alves (bateria), enquanto músicos de jazz com influências do mundo inteiro; o Chico Buarque, o Vinícius de Moraes, o Paulo de Carvalho, o Fernando Tordo, o António Zambujo, o José Luís Gordo, enquanto referências brasileiras e portuguesas, do fado à bossa-nova, inspiradores do nosso caminho.

PR - De que é que nos falam as canções deste seu disco de estreia?

RD - De pessoas, de lugares, de amores, de protestos e de origens. Falam do que é meu, do que é nosso e do que é de todos, para todos. Falam de princípios e de fins. Falam da palavra. Falam da cultura portuguesa e brasileira. Falam da vida, com os pés na terra.

PR - Numa frase apenas – ou talvez duas – como caracterizaria este “Com os pés na Terra”?

RD - Verdadeiro na forma e no conteúdo.
PR - Este álbum de estreia conta com as participações de Paulo de Carvalho, Celina da Piedade e Tiago Curado de Almeida. Quer falar-nos um pouco destes “encontros”?

RD - Todos eles foram propositadamente escolhidos para as músicas que cantam e que interpretam. O Paulo de Carvalho é uma referência da música portuguesa e celebrizou a canção “Os Meninos de Huambo”, uma das músicas deste disco; a Celina da Piedade é uma excelente instrumentista, com um registo tradicional português vincado e enriquecedor do “Fado-Nação”; e o Tiago Curado de Almeida é o mentor do projeto Pensão Flor, com composições originais que também abraçam o Brasil e por isso determinante para a participação na “Simplesmente Maria”.

PR - Já teve a oportunidade de apresentar este disco. Qual tem sido o “feedback” que tem recebido do público?

RD - A receção tem sido boa. Seguem-me pelas redes sociais com regularidade, deixam-me mensagens privadas a falar do disco, querem ver-nos/ouvir-nos ao vivo. A comunicação social também tem tido um papel importante. Houve aceitação quer na rádio, quer na televisão, quer na internet. Sinto que tem havido vontade de divulgar genuinamente este trabalho. Naturalmente que o caminho a percorrer por uma artista independente (sem editora/produtora/agenciamento) é exigente, é lento, é uma construção. Mas, neste momento, sinto que já tenho público fiel e isso é determinante para continuar o percurso ao qual me propus há dois anos.

PR - Para terminar, depois desta primeira “aventura”, é com os pés (bem assentes) na terra que pretende dar continuidade a este projecto?

RD - Ando com os pés na terra para tudo. É ela que me define e que me dá segurança para levantar voo. Acredito que a concretização do sonho depende inteiramente da lucidez do caminho. E que a lucidez do caminho depende da aceitação/consciência do que somos em cada momento.
É assim que me reconheço neste disco e na vida.

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