Vinte e quatro depois do seu álbum de estreia com os Entre Aspas, Viviane apresenta-nos “Dia Novo”, um disco que surge a partir de uma Viviane mais calma e mais madura, ciente do chão onde pisa e de alguns porquês do universo musical. “Dia Novo”, é um disco com raízes marcadamente portuguesas, que recorre com frequência à guitarra portuguesa e aos sons do fado, visitando aqui e ali a chanson. No novo trabalho existe cheiro a Lisboa, cidade que dá motivação ao primeiro single, “Do Chiado até ao Cais”. Viviane é hoje a convidada do Portugal Rebelde em "Discurso Direto".
Viviane - Sim, no fundo retrata coisas que são do comum de toda gente e vivências minhas como é o caso do tema “Era voz que salvava” onde conto uma história que me chegou através do Facebook por um admirador mexicano. O rapaz contou-me que vivia numa pequena cidade onde havia muitos grupos rivais e que numa manhã rebentou no meio da rua um tiroteio que obrigou as pessoas a procurar abrigo na sua pequena loja. Por coincidência ele estava a ouvir as minhas canções e quando acabou o tiroteio as pessoas perguntaram-lhe quem era aquela voz porque lhes tinha transmitido calma e paz durante o momento de terror. Achei esta história absolutamente fantástica! Mas para além das minhas letras também convidei o José Luis Peixoto, o Tiago Torres da Silva, o Pierre Aderne, o Hugo Costa e o Fernando Cabrita a escrever para este álbum.
PR - “Dia Novo” reflete uma Viviane mais calma e mais madura, ciente do chão que pisa?
Viviane - Já tenho mais de vinte anos de carreira musical. Felizmente tive muitas experiências diferentes em vários projetos. As minhas canções refletem aquilo que hoje sou e este trabalho é o resultado de todas essas experiências.
PR - “Dia Novo” é um disco com raízes marcadamente portuguesas, que recorre com frequência à guitarra portuguesa e aos sons do fado, visitando aqui e ali a chanson. As influências da sua juventude em França continuam presentes neste disco?
Viviane - Sim, mais do que nunca talvez. Eu nasci em França e quando eu era criança, a minha mãe ouvia as canções da Amália e eu ouvia música francesa e anglo-americana que o meu irmão comprava, eu absorvia isso tudo. Lembro bem de ouvir a Françoise Hardy cantar o tema “Comment te dire adieu” e foi essa boa lembrança que me fez criar uma versão desse tema para incluir neste álbum, mas aproximei-a da minha sonoridade e inclui nela uma guitarra portuguesa o que acho que lhe dá um toque muito especial. Para além disso neste CD em termos de sonoridade, desta vez o acordeão ficou de fora porque quis privilegiar a minha voz, a interpretação e a guitarra portuguesa. Por isso convidei vários guitarristas como é o caso do Custódio Castelo e do Luis Varatojo que já tinham participado no disco anterior e também o Bernardo Couto, o Ricardo Parreira, o Ricardo Martins e o Tó Viegas que imprimiram o seu estilo e enriqueceram os temas que gravaram.
PR - Neste novo trabalho existe cheiro a Lisboa, cidade que dá motivação ao primeiro single, “Do Chiado até ao Cais”. Esta é “banda sonora” perfeita para descobrir Lisboa?
Viviane - Sim claro, pois é um tema que homenageia sem duvida uma das cidades mais bonitas do mundo. O vídeo deste tema ficou muito interessante e retrata um passeio por uma cidade cheia de luz e ritmo à beira do Tejo, com os seus monumentos e poetas que a tornam única. Muitas vezes coloco-me no papel de um visitante que descobre Lisboa pela primeira vez e fico deslumbrada!
PR - “Dia Novo” aflora um tema central da atualidade, a emigração, com a música “Recomeçar”. Este é um tema que a “toca” particularmente?
Viviane - O tema “Recomeçar” fala principalmente do facto das pessoas se sentirem desvalorizadas no seu próprio pais e terem que partir para o estrangeiro, para recomeçar uma vida nova longe dos seus familiares. Os meus pais nos anos 50 também tiveram que emigrar primeiro para Marrocos, depois para França à procura de trabalho por isso este tema toca-me particularmente.
PR - Este disco inclui também três versões de cantores estrangeiros, como Lhasa de Sela e Marcelo Camelo, do grupo Los Hermanos. Quer falar-nos um pouco destes temas?
Viviane - Neste disco, quis partilhar com o meu público um pouco das minha referências musicais e escolhi estas versões por serem especiais para mim. Escolhi esta canção do Marcelo Camelo porque da nova geração brasileira ele é um dos compositores de que mais gosto e gosto particularmente desta música que é da altura dos Los Hermanos. Também escolhi a canção “con toda palabra” da lhasa de Sela porque era uma cantora que eu apreciava muito. Gosto imenso das suas canções e da maneira como ela as interpretava com uma emoção sempre muito especial. Infelizmente, faleceu há 3 anos aos 36 anos e esta é uma pequena homenagem que lhe quis prestar.
PR - Para terminar, 24 anos depois do seu álbum de estreia com os “Entre Aspas”, continua a sentir necessidade de fazer canções?
Viviane - Vou continuar a fazer canções, tenho um prazer muito grande em compor as minhas próprias musicas e em partilha-las com o meu público. Fico muito feliz quando elas de alguma forma tocam nas pessoas ou quando representam um momento especial na vida delas. É essa a magia das canções, e é isso que me motiva para continuar a compor.
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