CACAU | Discurso Direto

Em 2003 um encontro musical juntou a cantora luso-brasileira Vanessa Sassine com o guitarrista José Ferra, tocando juntos em vários projetos da World Music. Entre o doce e o amargo, CACAU surge numa mistura de sabores e cores despertando as memórias de um passado no encontro com o presente. Do calor do Brasil ao "fado" do povo português, passando pelos ritmos africanos, surge um sentimento de alegria nos encontros com a saudade. Se existe um sabor que é universal esse é o do cacau e a diáspora dos portugueses pelo Mundo, na procura constante de novas culturas, misturado com a capacidade de receber do povo português, esta interculturalidade, acaba por ser o espírito encontrado ao longo das onze músicas que constituem este primeiro álbum dos CACAU.

Portugal Rebelde - Antes de mais como é que nasceu o projecto CACAU?

Vanessa Sassine - CACAU surge da vontade de criar algo pessoal e único que refletisse as nossas influências musicais, os sons do Brasil, Africa e claro Portugal. A palavra, a poesia surgem como impulsionador também dos Cacau, poetas como Fernando Pessoa, Vasco Graça Moura, Amadeu Liberto Fraga foram também o ponto de partida para esta viagem musical em que a mensagem, a palavra são o veículo para a intenção musical relacionada com o universo dos CACAU, por vezes doce outras vezes amargo.....

PR - Do calor do Brasil ao “fado” do povo português, passando pelos ritmos africanos, surge um sentimento de alegria nos encontros com a saudade.  É neste universo musical que se encontra a música dos Cacau?

VS - Sem dúvida a música dos CACAU é tudo isso revela este orgulho em repartir histórias e sons que nos remetem para um universo português viajando pelos ritmos quentes do Brasil ou África esta mistura é o que torna a música dos CACAU única, como poderá ser a saudade alegre? Como poderá ser a alegria saudosa? Esta viagem musical encerra em si mesmo toda a diversidade do povo português, que pelo mundo difundiram e mesclaram a sua cultura.

PR - “Bem hoje que estou só e posso ver” de Fernando Pessoa e “Prometo Queimar as Cartas”  Vasco Graça Moura, são dois temas que podemos descobrir neste disco. Há alguma razão especial para a escolha destes temas?

VS - Escolhemos estes dois poemas pela sua densidade e ao mesmo tempo intemporalidade o passado e o presente. “Bem hoje que estou só e posso ver” Fernando Pessoa fala dos problemas do eu, da procura constante e da descoberta interior do seu lugar no mundo. O som do acordeão, a percussão alternada com efeitos de sintetizadores reflete este ambiente, esta viagem ao interior de nós mesmos, um poema muito forte e que sem dúvida nos inspirou para a composição desta música. “Prometo Queimar as Cartas” a letra é da autoria de Vasco Graça Moura que gentilmente nos permitiu musicar este poema belíssimo, que fala sobre um amor desfeito. A solução seria queimar as provas desse amor, as cartas, na esperança de que com elas se vá a dor deste desamor. O clarinete e a percussão ritmada juntamente com a guitarra contam a história e começam a viagem por ambientes que nos remetem ao chorinho brasileiro, contrapondo com a voz e o sentimento português. Esta mistura entre o doce e o amargo reflete-se perfeitamente nesta letra neste amor que terminou.

PR - “Maria em Flor”, foi o single escolhido para apresentar este primeiro disco. Que “viagem” podemos fazer neste tema?

VS - Na música “Maria em Flor” o som da guitarra portuguesa funde-se com a morna de Cabo Verde e o calor do saxofone num diálogo com a voz. A viagem é rica e cheia de texturas e cores levando a quem ouve a uma agradável surpresa.

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este disco de estreia?

VS - Este disco surge numa mistura de sabores e cores despertando as memórias de um passado no encontro com o presente.

PR - Para terminar, Por onde passa o futuro próximo do projecto CACAU?

VS - O futuro dos CACAU passa sem dúvida pelos palcos portugueses, queremos dar a conhecer o nosso projeto quer em Portugal quer no exterior, queremos levar a cultura portuguesa além fronteiras, sabemos que na europa existem muitos circuitos da World Music com um público muito atento e ávido por coisas novas; em Portugal infelizmente o público ainda consome muito daquilo que os media promovem no entanto acreditamos na qualidade e que sem dúvida o público sabe identificar e apreciar os CACAU e as críticas têm sido positivas.