23/10/2014

ARTE & OFÍCIO | Discurso Direto


Os Arte & Ofício, referência do rock progressivo na década de 70, vai juntar-se para um concerto único, dia 30 de Outubro, na Casa da Música, no Porto, momento que ficará gravado em disco. Mais de 30 anos após o fim do grupo, subirão ao palco os três elementos sobreviventes da sua fundação, António Garcez, Sérgio Castro e Álvaro Azevedo (Sérgio Cordeiro e Juca Rocha já faleceram), que irão recriar de forma efémera um projeto por onde passaram ainda os pianistas António Pinho Vargas, André Sarbib e Jorge Filipe Santos. O Portugal Rebelde associa-se a este "regresso" da banda, e esteve recentemente à conversa com Sérgio Castro para falar da Arte & Ofício de um dos expoentes máximos da música progressiva, rock e jazz-rock feita em Portugal. 

Portugal Reebelde - 30 de Outubro de 2014 marca o regresso dos Arte & Ofício ao palco. O que é que fez juntar os Arte & Ofício para o concerto da Casa da Música, no Porto?

Sérgio Castro - Provavelmente a força que eu fiz no sentido contrário. Isto é, eu sempre defendi que não deviamos fazê-lo. Com o Serginho afastado da música e da vida (agora já falecido) e com o Pinho Vargas dedicado a 100% à sua carreira de compositor de ópera e música erudita, não me parecia fácil recriar os ambientes a que os Arte & Oficio nos habituaram. Sem embargo, os restante elementos vivos, que passaram pelos A&O, juntamente com alguns seguidores desses que nunca desistem, onde destaca o Carlos Feixa, levam anos a “massacrar-me” com a ideia. Entretanto a SPA, lembrou-se e muito bem, de homenagear os A&O e outros 39 artistas do passado século que, na opinião dela, tiveram relevância e propôs-nos uma curta intrevenção no evento que ocorreu no BBC em Novembro de 2010. Para isso reunimo-nos os três fundadores vivos: eu, o António Garcez e o Álvaro Azevedo e chamámos o Fernando Nascimento que, afinal, se manteve na formação quase desde o princípio e até ao fim, cerca de 7 anos. Convidámos o André Sarbib, que integrara os A&O em 1980 e 81 e deixámos esse bom sabor de boca tanto nos que assistiram como, e principalmente, em nós mesmos. Nesse evento, o Luis Silva do O apareceu e realizou as duas entrevistas que viriam a integrar o seu “best seller” Bookstage. Este livro e o seu autor foram, na verdade, os verdadeiros instigadores desta reunião 4 anos depois.

PR - O que é que o público pode esperar deste concerto?

SC - Música intemporal. Tivemos o cuidado de escolher temas que não nos parecem datados. Isto é, que com a roupagem que hoje lhe metemos, com o som actual e a nossa abordagem bem mais madura, soarão a temas acabados de compor.

PR - Entre 1979 e 1983, passaram pela banda os teclistas/pianistas António Pinho Vargas, André Sarbib e Jorge Filipe Santos. Os Arte & Ofício estiveram sempre à frente do seu tempo?

SC - Os A&O estiveram provavelmente sempre à frente do seu tempo. Mas isso parece-me algo redundante, no sentido em que é, em parte, a essência da Arte. Os teclistas, incluindo o Juca Rocha (ex-Psico e ex-Smoog) que foi elemento fundador, tal como os restantes músicos que passaram pela banda, demonstravam era que sabiam do Ofício.

PR - Há alguma possibilidade de edição em CD de toda a discografia dos Arte & ofício?

SC - Creio que não. A Moviplay terá o espólio da Arnaldo Trindade, mas não creio que tenha sequer as fitas de final de pista dos discos. Nñao sei onde “pescaram” o Festival para o CD que editaram mas, pelo som miserável que ouvi, devem ter ido ao vinil. Os multi-pistas eram invariavelmente apagados e as cópias de segurança das misturas finais, se existirem, devem cair aos bocados no momento em que as tentarmos digitalizar. Se se encontrassem, eu teria todo o gosto de gastar umas horas no estúdio a remasteriza-las, mas parece-me que não vai acontecer. Já tentámos quase tudo. A nível dos outros dois discos Marijuana, da Gira e Danza da Polygram, parece-me que o “filme” é o mesmo.

PR - O boom do “rock português” com muitas bandas a cantar em português foi fatal para os Arte & Ofício?

SC - Certamente que teve influência. E a co-existência e consequente êxito dos Trabalhadores foram uma espécie de certidão de óbito, naquela altura. De qualquer forma e ainda que, na época, me custasse admitir, os A&O sem o Garcez perderam parte do atractivo cénico e isso também poder ter transferido muitos dos fãs para os Roxigénio.

PR - É verdade que o final dos Arte & Ofício teria a ver com um incidente da vida “on the road”?

SC - Não, totalmente falso. Na página web www.arte-e-oficio.com a biografia explica bem o assunto.


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