Aquilo que inicialmente parecia ser apenas uma brincadeira descomprometida, transformou-se numa ideia sólida, uma ideia que adoptou o nome de Myrica Faya. É a faia-da-terra, uma árvore, uma espécie endémica dos Açores. Uma árvore que tem como raiz a música açoriana. Uma raiz que alimenta cinco ramos impulsionando a sua criatividade. Bruno Bettencourt (voz, viola-da-terra de 15 e de 12 cordas e adufe), Cláudio Oliveira (voz, baixo e acordeão), Emílio Leal (voz, piano, ukelele e baixo), Pedro Machado (voz, guitarras e flauta) e Ricardo Mourão (voz, guitarras e percussão) são os cinco elementos dos Myrica faya, os cinco ramos desta faia-da-terra que se alimenta da musicalidade que brota de cada uma das ilhas açorianas. "Vir´ó Balho" (2014), é o primeiro rebento desta árvore açoriana que está pronto a navegar pelo resto do mundo.
Portugal Rebelde - Cinco amigos com diferentes origens musicais decidiram centrar-se na música tradicional açoriana e na sua raiz mais profunda. Estava encontrada a matriz dos Myrica Faya. Foi desta forma tão simples que tudo começou?
Myrica Faya - Sim. Diria até que foi mais simples ainda. Um simples arranjo de um tema tradicional provocou em nós a vontade de desconstruir outros temas tradicionais dos Açores. Daí à vontade de formar um grupo foi um passo. Nós os cinco acabamos por ser “escolhidos” de uma forma natural. Já éramos amigos, já tínhamos tocado juntos noutras ocasiões. Além disso, havia a vantagem de todos serem ecléticos em termos de instrumentos, o que à partida daria garantias de liberdade criativa. A tudo isto juntou-se o facto de cada um ter uma raíz musical diferente, desde o mais tradicional, passando pela música clássica e indo até ao rock.
PR - Podemos dizer que “Vir´ó Balho”, o álbum que editaram em 2014, é música tradicional dos Açores (re)interpretada de uma forma diferente?
Myrica Faya - O “(re)” aparece antes do “interpretada”, porque não somos de forma alguma pioneiros a trabalhar a música dos Açores de uma forma diferente. Já muitos o fizeram. Desde sempre, a riqueza e beleza dos temas destas ilhas, foram um aliciante para músicos dos mais diversos quadrantes. Nós tentamos fazer o mesmo, talvez de forma diferente ou como se diz por cá “à nossa moda”. Mas acima de tudo, o que está no “Vir’ó Balho” é de facto música tradicional dos Açores.
PR - Cada um dos 12 temas que compõem este disco é o resultado de um longo processo de pesquisa e desconstrução?
Myrica Faya - Sem dúvida alguma. Há sempre a necessidade de nos sentarmos e procurarmos as versões mais genuínas de cada tema. Este processo acontece através dos grupos de folclore ou de recolhas feitas junto dos mais velhos. Socorremo-nos ainda das recolhas efectuadas por Artur Santos, Ernesto Oliveira, Michel Giacometti, Paulo Henrique Silva e mais recentemente, Tiago Pereira. Partindo desta matéria-prima, tentamos perceber cada peça que compõe o todo que é o tema em questão. Depois é só desmontar e voltar a montar, usando os artefactos musicais que achamos que melhor se adaptam.
PR - ”Vir´ó Balho foi considerado pelo portal “Crónicas da Terra" como um dez dos melhores discos editados em 2014. Estavam à espera desta distinção?
Myrica Faya - Podíamos dizer que não estávamos e que ficámos muito surpreendidos, numa de falsa modéstia. Mas o que é facto é que, honestamente, não estávamos nada à espera e ficámos muito surpreendidos. Descobrimos por acaso. Através de uma rede social vimos que um dos muitos grupos que ouvimos estava incluído na lista. Resolvemos consultá-la para ver quem lá estava. Qual não foi o nosso espanto quando lá vimos a referência ao “Vir’ó Balho”
PR - Numa frase apenas – ou talvez duas – como caracterizariam este “Vir´ó Balho”?
Myrica Faya - O “Vir’ó Balho” é um trabalho de música do mundo açoriano, que com a sua alma tradicional e roupagem global, está pronto a navegar pelo resto do mundo.
PR - A que se a escolha de Myrica Faya para “apadrinhar” este projeto?
Myrica Faya - O nome Myrica Faya foi escolhido porque é diferente, é endémico dos Açores, é a faia-da-terra. Também nós somos da terra e nada melhor que uma designação assim. Claro que o nome científico em latim dá sempre um ar mais sério e interessante, para que nos dêem algum crédito. Nem que seja para nos perguntarem como se pronuncia.
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