Formados no Porto, em 1990, os Frei Fado têm vindo a desenhar o seu percurso em torno de um equilíbrio de modelos sonoros, influenciados por diversas vertentes musicais que permitiram ir criando composições originais ultrapassando a esfera da música popular, do fado...recriando ambientes identificadores de tradições e costumes de determinadas épocas. "O Quanto Somos Semelhantes", o sexto trabalho do grupo é um ensaio sobre o fascínio pelas nossas semelhanças. Hoje em "Discurso Direto" é meu convidado Rui Tinoco.
Portugal Rebelde - O carácter romântico das relações é o ponto de partida para este sexto trabalho dos Frei Fado?
Rui Tinoco - Foi um dos pontos de partida. Decidimos explorar a questão do movimento que aborda os ideais românticos. Partindo de algumas letras que o Valter Hugo Mãe nos tinha já entregue, desenvolvemos um trabalho de investigação que se centrou na temática das relações pessoais, da forma como muitas vezes nos revemos nos outros, do nosso passado, das questões atuais, dando-lhe uma tónica de romantismo, num relacionamento entre a personalidade romântica dos textos e a componente musical, que assume neste trabalho um carácter afável, romântico, equilibrado, reforçando uma vez mais a evolução da identidade sonora dos Frei Fado.
PR - A poesia de Valter Hugo Mãe, Eugénio de Andrade, Manuel António Pina, António Mega Ferreira e José Jorge Letria foi inspiradora para perceber o quanto somos semelhantes?
RT - O talento poético dos textos que tivemos a oportunidade de musicar, incluem frases que definitivamente nos marcaram neste processo. Cedo percebemos a ideia da existência de um elemento comum, que transparecia de diversos aspetos da vivência das pessoas e que era partilhado por todos nós. “Voltamos sempre aos primeiros amores”; “meu amor vem do estrangeiro | fartinho de trabalhar | traz no bolso algum dinheiro | ganho por me amar”; “Regresso devagar ao teu sorriso | como quem chega a casa”; “Faz por esquecer o momento em que chegámos, assim como eu esqueço que partiste”; “eu esperei isto a vida inteira | e nem acreditei | o quanto somos semelhantes” são algumas das frases marcantes deste trabalho. Permitiram-nos perceber o modelo de suporte musical que queríamos desenvolver e enquadrou-se perfeitamente no tipo de projeto que os Frei Fado são e para onde queremos seguir.
PR - A renovação estética na sua linguagem musical, iniciada no álbum "Se o Meu Coração Não Erra", está definitivamente consolidada neste trabalho?
RT - Do nosso ponto de vista, demos mais um passo na afirmação do que se pode esperar dos Frei Fado. Estamos numa fase mais madura da linguagem musical agora utilizada, mas pensamos que é facilmente percetível que este trabalho é mais um marco no nosso percurso contínuo de aprendizagem, de exploração de novas influências, de procura de um equilíbrio que nos permita ir constantemente inovando mas mantendo uma identidade muito própria. Neste “O Quanto Somos Semelhantes” tivemos ainda a oportunidade de ter a preciosa colaboração da Vanessa Pires (violoncelo no tema “Ladainha da mulher que ama”) e do Tico (Agostinho Rodrigues – guitarra portuguesa no tema “Canção”) onde a utilização destes dois instrumentos, que nunca tinham feito parte da nossa sonoridade, nos permitiu agregar influências externas sempre diferenciadoras dos nossos modelos habituais e que permitiram introduzir um dinamismo maior ao próprio CD.
PR - Numa frase apenas – ou talvez duas - como caracterizaria este disco?
RT - Remetendo para o texto que serve de base à Press Release, este trabalho é claramente um ensaio sobre o fascínio pelas nossas semelhanças. Reconhecemos nos poetas escolhidos, o talento de conseguir traduzir num formato tão belo e simples, aquilo que quase todos nós tendemos a complicar. Neles conseguimos perceber como partilhamos formas de pensar, vivemos idênticas sensações, visitamos lugares comuns, acima de tudo, “o Quanto somos Semelhantes”
PR - No próximo dia 23 de Maio, o álbum “O quanto somos semelhantes” é apresentado na Casa da Música, no Porto. O que é que o público pode esperar deste concerto?
RT - O alinhamento principal do concerto passará necessariamente pelos novos temas, mas iremos revisitar igualmente alguns dos álbuns anteriores. Temos a presença já assegurada dos convidados que participaram neste CD. O público gosta sempre de ouvir os novos temas, pois refletem o momento presente do grupo e deixam sempre antever novas potencialidades. Cada concerto é único, transparece a nossa entrega, vive da intensidade do momento, e penso que quem já teve a oportunidade de nos ver ao vivo, sabe que tentamos sempre oferecer o que temos de melhor quer coletivamente quer individualmente. Temos vindo a preparar esta apresentação do primeiro ao último minuto, e não podemos deixar de aproveitar este momento para lançar o convite para estarem presentes no dia 23, pelas 22.00h na Casa da Música no Porto.
PR - “O quanto somos semelhantes” é o sexto trabalho editado num percurso de 20 anos. O que é que gostaria de realçar nestes vinte anos de canções?
RT - Tem sido um percurso sólido, mas de constante renovação. Alguns altos e baixos normais, com muita persistência e acima de tudo com um constante reconhecimento por parte do público. A vida muda constantemente à nossa volta e fomos tendo a capacidade de nos irmos reinventando. Vinte anos de um grupo não se constroem sozinhos, não se vivem sozinhos, e como tal, e uma vez mais, há que reconhecer e agradecer o importante e constante apoio de todos aqueles que nos rodeiam e que de uma forma ou de outra contribuíram para o que são e para o futuro dos Frei Fado. Um especial agradecimento também ao incansável trabalho do Portugal Rebelde e ao seu mérito na divulgação da música portuguesa. Parabéns e a todos o nosso muito obrigado!
Sem comentários:
Enviar um comentário