14/03/2016

TIAGO SOUSA | "Um Piano nas Barricadas"


"Dono de uma linguagem sonora cada vez mais única, a sua história reserva já diversos capítulos e encarnações. Acompanhámo-lo nas margens do rock, seguimo-lo no influente trabalho da editora Merzbau e continuamos a observá-lo neste brilhante percurso onde o piano é o coração deste corpo em constante evolução. Como habitual num exercício de busca criativa e até pessoal, o rumo ao desconhecido proporciona frequentemente momentos de descoberta e de partilha. E desde o longínquo ano de 2006 que esse processo se tem sedimentado através de quase uma dúzia de discos assinados a solo ou em colaborações.

O que faz de Tiago Sousa um exemplo insular na abordagem ao instrumento é o afastamento natural face a estilos e expectativas. Demasiado mestiço para os cânones da escola erudita, nele escutamos elementos vagamente jazzísticos, referências resgatadas à filosofia oriental e uma multiplicidade de mundos entrelaçados. Embora intimista, a delicadeza e a grandiosidade da implosão emocional das suas peças não encontram outro habitat que não a universalidade. 

Trata-se pois de música genuinamente livre e libertadora na sua mais plena dimensão em que o pano do onírico adorna orgulhosamente o palco do telúrico. O modo como nos envolve e nos devolve à realidade faz dele um virtuoso na habilidade de conjugar os silêncios e os seus ganhos como pontuação na escrita. Para completar, a consciência socio-política do músico faz dele um discreto mas assertivo artista de acção cuja obra "Coro das Vontades" (apresentada em 2012 no Teatro Maria Matos e editado este ano em CD) é, sem dúvida, a maior das façanhas. É com uma mão coberta de terra e outra de sangue que os dedos de Sousa encontram em cada tecla, cada nota e cada imagem uma possibilidade de conceber um mundo novo.

Com "Samsara" cristalizou ideias e concebeu um dos documentos mais apaixonados a surgir no panorama português nos últimos anos. Tão simples quanto isso. Com ‘Um Piano nas Barricadas’, traz inéditos e promissores horizontes que primam logo pela riqueza da diversidade instrumental. Por aqui encontra-se a melodia do clarinete, o ritmo da percussão, o calor da guitarra clássica ou o universo sonhador da harpa.

A sensibilidade na forma de interligação entre estes pontos reserva tanto de inesperado como de revelador. Tudo começa no piano sim, mas o que daí nasce é uma surpreendente viagem para o ouvinte. O resultado situa-se para lá do que até então poderíamos estar familiarizados com a sua obra. E neste momento nada poderia fazer mais sentido na carreira de quem já deixou um cunho muito próprio." (Nuno Afonso / ZDB)

Concerto de Lançamento

24 de Março, ZDB (Lisboa)

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