03/11/2017

ANA LAÍNS | Discurso Direto


“Portucalis" é o país dos sonhos de Ana Laíns! E é também o 3º álbum da cantora, que hoje chega às lojas. Nomeada Embaixadora das Comemorações de 8 séculos de Língua portuguesa em 2014, dedica integralmente o seu trabalho à Portugalidade que lhe define a identidade há mais de 19 anos. A História e o Futuro da Música e Etnografia de Portugal, em perfeita harmonia com poetas clássicos e contemporâneos, com compositores de hoje e de ontem, e convidados de luxo em representação da transversalidade de uma cantora que se assume “Cantora Colorida” pelas cores de um dos mais belos países do Mundo: Portugal. Ana Laíns é hoje minha convidada em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - “Portucalis” é o país dos seus sonhos?

Ana Laíns - Sim. E é o país que me rege e inspira todos os dias! É o país em que acredito. Um país que respeita e se orgulha das suas raízes e história. Um país que preserva o seu património e tem memória. Um país que vive a sua Língua, a sua etnografia e as renova e acrescenta! E ainda assim, um país com os olhos postos no futuro e consciente da riqueza da diversidade cultural que o mundo nos oferece, sem que isso signifique “imitar” de forma leviana e pouco natural as culturas dos outros! E principalmente, Portucalis é um país onde as pessoas se cuidam, se respeitam e se abraçam! É tudo isto que torna o meu Portucalis um país real! E é assim que eu gostaria que todos os povos do mundo vissem, e vivessem, os seus próprios “Portucalis”.

PR - Alheio a rótulos, regras e conotações, “Portucalis” é um disco transversal, que percorre o vasto universo do Música, Etnografia e Língua Portuguesa. Quer falar-nos um pouco desta “viagem”?

Ana Laíns - Claro! É uma viagem que resume as minhas jornadas, e tudo o que fui fotografando e imprimindo na minha memória ao longo de cerca de 30 anos a cantar! Estive 7 anos sem gravar, e também por isso, eu quis que este disco fosse o sumário da minha trajectória. Uma trajectória sempre ligada às raízes das múltiplas formas de expressão cantadas e tocadas no nosso país. Porque esta é a minha inspiração. O fado e a guitarra portuguesa, o Adufe e o seu toque, Trás-os-Montes e o Mirandês, mais de 800 anos de história da Língua Portuguesa, de D. Dinis a Pessoa ou Sophia, os pauliteiros e as rusgas minhotas, o cheiro à terra molhada no Gerês, o trigo a secar na Eira, os Cantadores do cante no Baixo Alentejo e as Saias do Alto Alentejo…. O meu percurso na música levou-me a todos estes lugares e formas de expressão! É o meu amor a todos estes exemplos que me faz seguir em frente e me caracteriza! Incomoda-me que se fale do meu trabalho enquanto “Fado” exclusivamente, quando na realidade eu sempre viajei, e “pisei” muitas “estações e apeadeiros “ enquanto cantora! É esta a viagem que quero continuar a fazer por cá, e principalmente pelo estrangeiro, onde pouco se conhece da nossa cultura musical além do Fado. É importante para mim referir, também, a viagem pelo Universo pessoal, sociológico, e até didático deste disco! Todos os temas foram escolhidos (as versões), e escritos (os originais) tendo como base questões existênciais comuns a qualquer ser humano, mas que tendem a ser camufladas pela “urgência” que nos impõe a sociadade em sermos bem resolvidos, cultos, profissionalmente e humanamente realizados (nem que para isso nos anulemos e vistamos um personagem)… relegando para 10º plano as nossas necessidades e verdades pessoais. É urgente que viajemos até dentro de nós mesmos e nos reencontremos com a nossa essência. O Mundo precisa de Verdade, em detrimento da artificialidade que nos rege!

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste “Portucalis”?

Ana Laíns - Não sei responder esta questão! Sinceramente não sei! São 14 temas que têm o seu papel e importância muito particular! Seria como responder qual a província portuguesa que melhor define o nosso país! Não posso escolher o Ribatejo ou a Beira Alta em detrimento do Minho ou a Estremadura! Mas a ter de assinalar um tema, chamo a vossa atenção para o tema “Portucalis” que abre o disco! Não é o single, mas trata-se de um instrumental, em que a minha voz surge apenas como instrumento, a par dos outros que lhe dão forma, e foi criada para ser um tema de “Boas-vindas” a “bordo” deste “barco”, que em seguida nos levará a mais 13 “portos” diferentes, onde se contam estórias, e se vivem emoções que se complementam entre si!

PR - Luís Represas, Ivan Lins, Mafalda Arnauth e Filipe Raposo são convidados deste disco. Que razões estiveram na escolha destes nomes?

Ana Laíns - Eu nunca tive convidados em discos anteriores! Mas depois do “Quatro Caminhos” de 2010, a minha vida/ caminho enquanto cantora cruzou-se com muitos amigos! Alguns que não conhecia pessoalmente, mas por quem nutria uma grande admiração e respeito, e outros que conhecia, mas com quem não havia trabalhado ainda! E como este disco é um disco de celebração de mais de 18 anos de carreira, eu quis ter convidados (porque ninguém gosta de fazer festas sem convidados para partilhar alegrias)! Cada um destes convidados me faz sentido porque fazem parte da minha história! O Luís Represas faz parte do meu imaginário musical desde que me lembro de ouvir música conscientemente! Esteve sempre na minha vida, ainda que de forma periférica, desde o momento que comecei a cantar em português! Em nome próprio, como membro dos Trovante (que nos deixam algum do legado mais importante da música portuguesa no século XX), e como músico sem fronteiras, com colaborações importantíssimas com outros músicos, levando sempre a Língua portuguesa na bagagem! O Ivan Lins era o meu sonho mais antigo! Aquele Músico que nós achamos que será sempre inatingível! Sonhei muitas vezes com uma parceria! O Ivan é uma inspiração há muito anos, não apenas pelo Músico formidável que é, mas pelos seus propósitos enquanto músico que serve a música e a sociedade com a sua arte! Tive a honra de contar com ele enquanto convidado no meu concerto no Centro Cultural de Belém em 2015, e em Maio deste ano ele ofereceu-me uma música para este disco! Eu fiz a letra em parceria com a Mafalda Arnauth, e naturalmente impôs-se o dueto! Não poderia ser de outra maneira! O Filipe Raposo é um dos compositores/ pianistas mais talentosos que eu conheço! E eu quis ter um Músico como convidado, no sentido de homenagear simbolicamente a importância dos Músicos, sempre relegados para 2º plano em relação aos Cantores! Há música instrumental de 1ª água em Portugal, que não tem espaço mediático porque os Media consideram que “não dá audiências” e não enche salas de concerto! Errado! E o Filipe é a prova disso mesmo! A Mafalda Arnauth é uma querida amiga, com quem fui construindo uma relação alicerçada no respeito e na admiração mutua! É uma compositora e letrista excepcional, com quem tenho, além do dueto, 2 parcerias neste disco! O que nos une é um sorriso muito sincero, um abraço forte sempre que necessário, e esta ligação não poderia estar ausente na hora de me “despir” num disco, onde tudo o que desejo é emocionar, tocar a alma, e fazer a diferença na vida das pessoas!

PR - No próximo 23 de Novembro, apresenta as canções deste disco na Casa da Música, no Porto. O que é que público pode esperar deste concerto?

Ana Laíns - O público pode (e deve) esperar um concerto em forma de viagem (a tal viagem de que tanto falámos nesta entrevista)! Será um concerto repleto de Portugalidade, de afectos, de sorrisos, de abraços, de Poesia e Música! Este concerto é o meu “grito do Ipiranga” , mas desta feita, não para me tornar independente de ninguém, de nenhum povo, de nenhuma etnia! Antes pelo contrario! É o meu grito pela necessidade de nos reencontrarmos com o colectivo, com os outros, esquecendo um pouco as “barreiras” que nos impõem e separam! Será, por isso, um concerto de aproximação! Eu acredito piamente no potencial do meu país, das minhas gentes, e essa é a minha mensagem Maior! Portugal pode ser “Portucalis”, porque um país é o que os seus filhos fizerem por ele!

PR - Este disco é dedicado a todos que gostam de Pessoas, que gostam de ser Pessoas do seu país, e compreendem que a vida é uma missão. Acredita que esta mensagem passará?

Ana Laíns - Há milhões de motivos para que cada um de nós escolha (ou seja escolhido) para uma profissão! Há milhões de motivos que nos movem a fazer o que fazemos! Eu sei que ser cantora é a minha Missão! E uso a Música para ser feliz, e para fazer felizes as pessoas à minha volta! Uso a Música como forma de ensinar e aprender, de evoluir e contribuir para a evolução do colectivo! A Música é a minha moeda de troca nesta viagem (mais uma vez a viagem) que tem apenas um destino: O Amor! E o lugar onde nascemos é determinante nesta Missão! Falta cumprir-se o Amor a Portugal! Por isso, sim, eu acredito que esta mensagem passará!


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