16/11/2017

SPILL | Discurso Direto


Os sPiLL são uma banda de rock. O percurso peculiar dos seus membros, alguns deles com carreiras reconhecidas no jazz, outros no rock, outros em ambas, aliado a influências que vão dos QOTSA, PJ Harvey, Radiohead, Deerhoof, a Hendrix e Van Halen, cria o som do grupo. “What Would You Say?” é o título do  novo registo da banda. «Uma viagem à mente Inebriada de um Mr.Hyde em modo de festa, surrealismo e luxúria, com momentos de pés no ar, e outros de cara no chão.» André Fernandes, é hoje meu convidado em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - O que é que separa os Spill de 2005 e 2017?

André Fernandes - Quase tudo excepto que são ambos fruto da mesma mente, a minha, e ambos projectos totalmente fora daquilo que as pessoas (dentro do jazz) estão habituadas a esperar de mim. Digamos que o meu lado ligado à música com improviso é o Dr.Jekyll e os SPiLL são o Mr.Hyde. Em 2005 tive a necessidade de criar algo que incorporasse aquilo que andava a ouvir e era para mim uma novidade, música com componente de dança, com electrónica, mas também misturada com o lado humano e "real", com instrumentos como guitarra, bateria acústica, etc. Andava a escrever (como sempre) coisas que guardava na gaveta por não as poder incorporar nos meus discos de "jazz", e decidi criar uma banda para poder explorar e tocar essas coisas. Foi os SPiLL, com o Kalaf, Marta Hugon, João Gomes, Miguel Amado, André Sousa Machado e DJ Ride às vezes, ou o Nery. Tocámos muito e em muitos sítios muito diversos, desde bares de má fama no Cais do Sodré (que na altura não era o sitio da moda limpinho e cheio de turistas que é agora), até ao Pequeno Auditório do CCB, ou Paredes de Coura. Depois tive que parar esse grupo por estar envolvido noutras coisas. Aquilo que entretanto ia escrevendo e "pondo na gaveta" foi-se chegando inevitavelmente aquilo que sempre foi a minha base e amor musical (entre outros), o rock. Decidi acordar o Mr.Hyde de vez, e pôr tudo cá para fora. Isso é os SPiLL de 2017. Que estão cá para ficar.

PR -  Mais ou menos a meio de “What Would You Say?”, surge um tema instrumental em que a tua guitarra não disfarça a tua fonte inspiração, Queens of Stone Age. Este é de alguma forma um tributo que prestas a uns nomes de proa do rock atual?

André Fernandes - Esse tema chama-se "Homme". Acho que o tributo é bastante assumido. No entanto os QOTSA, apesar de serem uma das minhas bandas favoritas, estão longe de ser "A" minha inspiração. Aquilo que me inspira abrange décadas, continentes e pessoas de todos os cantos da vida que levei até agora. Os QOTSA são muito fixes, mas há todo um mundo de influências que carrego (como imagino todos os músicos) comigo e que uso para me exprimir com a música que escrevo.

PR - As horas de estudo que passaste no Hot Club não foram capazes de “domesticar” o nervo da tua guitarra?

André Fernandes - Claramente que não. E ainda bem.

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste “What Would You Say?”?

André Fernandes - "What Would You Say?" é um disco que tem um pé na sombra dos SPiLL de 2015, em temas como "White", e outro pé nos tomates dos SPiLL de 2017 e futuro. O lado de temas como "Get Away" ou "Super Sexy Fight Song" apontam melhor para o que a banda é ao vivo, e será no próximo disco. Apesar de já termos crescido muito desde que gravámos o "WWYS?", pelo que o próximo disco, que vai sair ainda em 2018, vai ser bem mais "bojarda".

PR - João Firmino dos Cassete Pirata, disse numa entrevista ao Ípsilon que «o jazz é sempre mais uma viagem ao umbigo do líder, enquanto na pop a premissa é mais direta.» É mesmo assim”?

André Fernandes - Adoro o Pir (Firmino) e os Cassete. mas por acaso não me revejo nessa frase, embora os SPiLL não façam pop, mas rock, o que é importante para o que vou dizer a seguir (também é possível que não esteja a perceber o sentido do que ele quis dizer). Eu não diferencio a premissa entre fazer música para os SPiLL, ou para um disco de jazz, ou se estou a gravar guitarras para o DJ Nery, ou para o Rocky Marsiano, ou para a Maria João. Acho que em primeiro lugar escrevo/toco para mim, tentando fazer algo que me entusiasme enquanto fã de música, e fazendo isso honestamente e o melhor que conseguir espero atingir as pessoas que possam eventualmente partilhar desse meu gosto, e das minhas escolhas e propostas, de forma a proporcionar-lhes uma experiência fixe ao ouvir o resultado final, seja a destruir amplificadores com demasiada distorção, ou num disco de jazz. A diferença é que no jazz essas pessoas são 7 e no rock essas pessoas podem ser bem mais! É claro que quando queres chegar ao teu público num universo muito saturado de propostas, como é o do rock, pop, etc, tens que ser menos "recluso" e pensar realisticamente na forma como vais disponibilizar a tua música, com que imagem, através de que meios etc, com videoclips, e entrevistas, e bla bla, porque senão não chegas a ninguém, por muito boa que seja a musica. Mas tudo isso, para mim, vem depois da fase de criação. Não antes. Os músicos de que eu gosto têm sempre muito do seu "umbigo" no que fazem, é essa identidade que a mim me atrai, seja no rock, pop, ou jazz. Fazer parte de uma vaga, ou moda de som ou estilo nunca se me apresentou como algo minimamente atraente. Gosto daquele pessoal que faz a sua cena e que se lixe o que está ou não na moda. Alguns deles têm sorte ou persistem o tempo suficiente até encontrarem o seu publico e podem até chegar a ter imenso sucesso. Muitos deles aliás. Só que esse sucesso tende a ser mais duradouro do que o sucesso rápido de alguém que apanha boleia do que se passa num determinado momento, porque no fim, quando a poeira assenta, só o que estavam a puxar a carroça é que ficam de pé. Por isso mais vale arriscar e fazer o que gostamos mesmo e sentimos ser mesmo nosso, em vez de pensar no que é que iria funcionar melhor naquele mês para a rádio comercial. Este comentário vai bem mais além do assunto levantado pelo Pir! Ele é um tipo que acho que faz o que gosta mesmo, e o que sente ser ele próprio, e nesse aspecto estamos em total sintonia.

PR - Para terminar, numa frase como caracterizarias este disco?

André Fernandes - Uma viagem à mente Inebriada de um Mr.Hyde em modo de festa, surrealismo e luxúria, com momentos de pés no ar, e outros de cara no chão.




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