15/11/2017

TERESA SALGUEIRO | Discurso Direto


Hoje em "Discurso Direto" é minha convidada Teresa Salgueiro. Uma mulher, uma cantora a fazernos pensar através dos poemas que escreve e interpreta de uma forma muito própria e especial, sem nunca fugir às suas convicções e à sua forma de estar enquanto pessoa e cidadã.

Portugal Rebelde - Cristalina, poética, sensível, real e profunda, é esta a Teresa Salgueiro que encontramos no álbum "O Horizonte"?

Teresa Salgueiro - De facto reflecte o meu olhar sobre a vida, faz parte do meu pensamento de como eu vejo o mundo, a nossa existência humana e no fundo é uma reflexão sobre a importância dos nossos sonhos, da perseverança que temos que ter quando empreendemos um caminho que é o encontro com o mundo em que vivemos e esta minha visão esta patente na música que faço e nas palavras que escrevo.

PR - Que olhar é este que projeta no “Horizonte”?

Teresa Salgueiro - É um olhar que busca sempre o caminho da luz e da esperança e um olhar ao mesmo tempo atravessado de uma certa lucidez perante a realidade que me cerca do mundo em que vivi. É um olhar bastante encantado com a natureza, com a criação da qual faço parte, que todos nos fazemos parte e ao mesmo tempo bastante lúcido em relação a certas incongruências que existem na sociedade que todos constituímos. Há certos traços do carácter humano que impedem que o mundo em que vivemos hoje com toda a oportunidade que temos extraordinária neste momento, com toda a sabedoria que ao longo dos séculos que fomos reunindo, com a tecnologia que se desenvolveu, com os meios de comunicação, com a facilidade de comunicação, continua a ser a desigualdade o traço mais forte da vivência de todos os dias. E cada vez, essa desigualdade é mais gritante e cada vez faz menos sentido, porque de facto temos nas nossas mãos, hoje em dia, tudo, para havendo vontade puder transformar este mundo num lugar para todos e num lugar extraordinário, à imagem da criação. Nós temos capacidade de inventar coisas extraordinárias, portanto é um olhar que também se pergunta muito, um olhar também inquieto.

PR - ”Horizonte”, foi a canção canção escolhida para single de apresentação deste trabalho. Este é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste disco?

Teresa Salgueiro - O Horizonte é o tema que abre o disco e mais do que caracterizar todo o disco, ele é a introdução realmente para todas as músicas e todas as palavras que vêem a ser cantadas depois. É uma declaração de intenções, no fundo, descreve um pouco aquilo que eu sou, o lugar onde me encontro, o meu ponto de partida e a minha intenção de continuadamente aceitar este destino de certa forma que eu tenho de cantar, de olhar o mundo e de cantar sobre ele e acima de tudo de espalhar um olhar de esperança e um olhar em que o amor tem um lugar primordial. Seja o nosso amor à vida, à criação, ao próximo. É realmente o sentido da nossa vida. Por isso eu canto: "se não for por amar tanto de me que serve viver".

PR - Numa frase como caracterizaria este disco?

Teresa salgueiro - Se me permite eu não escolheria uma frase para caracterizar o disco, porque para mim é muito complicado, o disco existe precisamente porque há todo um pensamento que é expresso em ideias tanto musicais como através das palavras que eu sinto necessidade de desenvolver e transmitir e portanto alguém de fora poderá ouvir o disco e caracterizá-lo. Para mim caracterizá-lo é muito difícil, eu posso falar sobre ele, mas direi sempre muitas coisas, precisamente porque ele também diz muitas coisas. São muitas as coisas que ali estão ditas e é precisamente porque eu sinto esta urgência de dizer tantas coisas e todas elas e não só uma, que eu faço este disco.

PR - No próximo dia de 18 Novembro, apresenta as canções deste disco na Aula Magna, em Lisboa. O que é que o público pode esperar deste concerto?

Teresa Salgueiro - O Horizonte e a Memória é um espectáculo que tem como ponto de partida o repertório deste disco O Horizonte, que são temas originais e também a interpretação de uma série de arranjos que fiz para temas que pertencem à nossa memória colectiva, temas da música portuguesa e que na minha memória em particular são fundamentais, são estruturantes, porque todos eles fazem parte de uma imagem que eu fui construindo ao longo dos tempos do que é pensar e sentir e neste caso cantar, fazer música em português. Há uma identidade que eu fui observando e que me formou e que me ajuda na minha formação, na minha inspiração e na minha procura contínua de um caminho na música. Vou interpretar um tema cantado pela Amália Rodrigues, outro tema do Zeca, um tema do Paredes, um tema do Fausto, Fernando Lopes Graça, entre outros. E claro alguns temas dos Madredeus que fazem parte da minha memória e da minha vida, vivi-os intensamente e há temas que gostarei sempre de cantar. Em palco, vou estar com dois músicos com quem já partilho o palco há cerca de 10 anos, que são o Rui Lobato na bateria, percussão e guitarra, o Óscar Torres no contrabaixo, o Nelson Almeida no acordeão e na guitarra, para minha grande alegria, vou contar com o José Peixoto, que é um músico extraordinário com quem eu tive a alegria de partilhar os palcos com os Madredeus, por penso que foram 13 anos, e já há cerca de 11 anos que nunca mais nos tínhamos encontrado no palco, fomos nos encontrando ao longo destes anos pontualmente, cada um fazendo o seu percurso na música que é muito diverso, mas somos dois músicos persistentes, continuámos dedicarmo-nos exclusivamente a esta actividade e por uma série de circunstâncias proporcionou-se este encontro e precisamente na Aula Magna, vamos pisar o palco pela primeira vez juntos de 11 anos a esta parte. Isto para mim é uma alegria e uma honra imensas. Assim o que o público pode esperar é um momento de música em que todos vamos dar o nosso melhor em cima do palco e que vamos juntos transmitir este meu, nosso olhar sobre o sonho, sobre o nosso caminho, o nosso contacto com o mundo e as nossas memória. É um momento de música, de partilha musical, de convite ao público para um atitude de escuta e de reflexão.




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