10/11/2017

TRUPE CHÁ DE BOLDO | Discurso Direto


Com catorze elementos, e quatro discos gravados, o último dos quais lançado este ano, a brasileira Trupe Chá de Boldo, está hoje em destaque no Portugal Rebelde. Marcos Ferraz, é hoje meu convidado em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - “Amigos e diversão”, foi este o mote para reunir a Trupe?

Marcos Ferraz - De algum modo sim, mas sem esquecer de que queríamos fazer música, tocar, criar... Éramos um grupo de amigos (ainda somos) com cerca de 20 anos e decidimos fazer uma banda sem grande compromisso, para tocar algumas músicas nossas e outras de Caetano, Chico, Tom Zé ou Itamar Assumpção. E para se divertir também. Assim começou a Trupe Chá de Boldo.

PR - Quando é que sentiram que a Trupe era “coisa” séria?

Marcos Ferraz - Foi um processo gradual, que aconteceu sem a gente perceber muito bem. Fomos formando público, sendo chamados para tocar em lugares maiores e de repente a coisa não era mais só diversão, era também trabalho. Acho que tocar no Studio SP, casa de shows de São Paulo que existia até uns anos atrás, foi um grande passo. Tocar no Sesc Pompeia e no Auditório Ibirapuera, espaços importantes na cidade projetados por Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer, foram outros marcos. Por fim lançamos o “Bárbaro”, nosso primeiro disco, em 2010.

PR - “Verso”(2017) alterou duas coisas fundamentais: a produção e as canções. Quer falar-nos um pouco deste processo?

Marcos Ferraz - “Verso” é nosso quarto álbum, o primeiro com produção musical assinada só pela própria banda (antes trabalhamos com Alfredo Bello e Gustavo Ruiz) e o primeiro sem nenhum composição nossa. Nesse sentido, é bastante diferente dos outros três trabalhos. Decidimos fazer um disco só com versões de músicas de pessoas próximas. Pessoas com as quais convivemos ao longo da nossa trajetória e por quem temos uma grande admiração. São amigos e são grandes artistas. Mas não é um disco de covers, muito pelo contrário, são versões completamente diferentes das originais. Partimos do zero, reviramos as canções até criar algo original. No fim, sentimos que esse disco é tão nosso quanto os outros. E dessa vez, decidimos também não convidar nenhum produtor musical para o trabalho. Somos todos produtores do disco, que foi pensado e arranjado de modo totalmente coletivo, num processo um tanto caótico, mas muito prazeroso. Não significa que não iremos chamar produtores para outros trabalhos, mas que achamos que isso funcionaria neste caso. E funcionou.

PR - “Presente” (2015), acaba de ser relançado em vinil. Este é um disco muito especial para a Trupe?

Marcos Ferraz - Lançamos o Presente em 2015 e o vinil em 2016. Havia uma vontade da banda de ter algum disco em outro formato, tanto pela sonoridade diferente quanto pela parte gráfica, pela possibilidade de imprimir uma capa e um encarte em outro tamanho. E a foto que o Pablo Saborido fez para a capa do Presente é muito impactante, sempre gostamos muito dela. De facto, em vinil ficou ainda mais potente.

PR - Qual é o “segredo” para a já longa vida da Trupe Chá de Boldo?

Marcos Ferraz - Às vezes é difícil entender como uma banda tão grande, sem líder, de funcionamento horizontal e democrático, consegue estar junta há mais de dez anos. Brigamos muito, mas depois nos entendemos. Provavelmente porque somos muito amigos, porque temos tesão em fazer música, porque existe uma vontade que nunca cessa. Às vezes diminui, depois cresce, como em qualquer relação duradoura. Numa banda desse tamanho é preciso saber ouvir. É preciso abrir mão muitas vezes, mas também “bater o pé” em outras. Enfim, é saber que ninguém manda mais que ninguém. E acho que, em um mundo tão individualista, isso é também uma atitude política.

PR - Para terminar, gostariam de apresentar em Portugal as canções da Trupe?

Marcos Ferraz - Queremos muito atravessar o Atlântico, sem dúvidas, e seria muito especial tocar em Portugal. Falamos a mesma língua, temos todo um passado em comum, com tudo de bom e mal que se passou nessa história. E temos um futuro para ser imaginado e construído que deveria ser cada vez mais confluente e menos conflitante. Enfim, queremos muito mostrar nossa música em Portugal, e estamos de fato fazendo planos para uma turnê europeia.



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