11/01/2018

NUNO DA CAMARA PEREIRA | Discurso Direto


Após um hiato de sete anos, Nuno da Camara Pereira regressa aos discos com o álbum "Belmonte Em Cantos Mil". Nuno da Camara Pereira, recria-se após quarenta anos dedicados à renovação do fado do qual foi pioneiro na procura de tons e sons por terras de aquém e além-mar. Com o “Belmonte, Em Cantos mil”, Nuno Cabral da Camara Pereira relança o tema do “achamento do Brasil “por temas dedicados à viagem, no tempo e no espaço, de uma língua e de um povo que apenas a diáspora entende e justifica através da poesia e música de poetas e intérpretes de aquém e além-mar.

Portugal Rebelde - Antes de mais, a que se ficou a dever este longo “silêncio”?

Nuno da Camara Pereira - Reflectir apenas, pensando no passado e obra musical. E principalmente determinar o caminho a seguir tendo em conta os novos conceitos de comercialização e divulgação da mesma, questionando a abundante produção de fado face às razões que o definem num quadro matricial genuinamente português, nem sempre reconhecido por sua génese

PR - O “achamento do Brasil” é o ponto de partida para este “Belmonte Em cantos mil”?

NCP - Sem duvida que para o encontro da língua e cultura luso-brasileira que desde sempre abracei a partir do primeiro registo fonográfico em 1981/2, impunha-se a justificação temática do “achamento do Brasil”. Foi precisamente de Belmonte que para todos os cantos do mundo partira a primeira grande armada náutica, justificando sentimentos únicos, sempre traduzidos na lírica e modelos musicais diversos, hoje patenteados nos compositores e cantores de ambos os lados do Atlântico. Justificar encontros ou achamentos sem fusão é precisamente desejar ir e voltar; pelos cantos do mundo, pelos seus encantos e pelos cantos musicais, encontrando mil formas de aí chegar, o Fado é apenas uma delas.

PR - Neste disco consegue germinar a urbana guitarra portuguesa com a rural viola caipira. Esta é uma viagem de uma língua e de um povo que apenas a diáspora entende? 

NCP - A diáspora apenas a justifica e determina. Seus sons são tão diferentes quanto iguais e de tal forma que não é imediatamente perceptível por onde se encontram. No fundo a urbanidade da guitarra portuguesa sem se dar conta é absorvida também pela sentimentalidade da viola caipira que a confunde na sua profunda nostalgia e romantismo.

PR - É o Fado em toda a dimensão da palavra, que pretende transmitir neste disco?

NCP - Evidentemente que é o Fado que une e concilia através da textura da voz toda a sua tradição e modernidade. Não pretende ser igual a si próprio mas consegue sem duvida aqui , um espaço que o projecta para um imenso mar aonde a latitude o confunde na portugalidade ou brasilidade. Tanto mais que metade das composições são originais assinados por mim na poesia e na musica Luiz Caldas o pai do “Axé “brasileiro; com músicos portugueses e brasileiros em Salvador da Bahia que em conjunto comigo conseguiram concretizar um projecto há muito idealizado.

PR - Numa frase apenas como caracterizaria este disco?

NCP - É um disco de música moderna sem deixar de ser fado e sem se deixar nele perder.


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