04/07/2019

RITA JOANA | Discurso Direto


Rita Joana, autora e compositora Conimbricense de 38 anos, cresceu numa aldeia do baixo Mondego, entre as memórias do trabalho do campo e os relatos fantasistas de lendas e ensinamentos de responsos. Foi em Santo Varão que aprendeu a estima pelos momentos de solidão que lhe conferiram o gosto pelo dramatismo melancólico. Calcorreando campos, nadando no rio foi, durante a sua infância, detentora de uma liberdade que sentiu castrada aquando da mudança da família para a cidade de Coimbra. Sentada na pequena sala de estar da sua nova casa, foi na televisão nacional que reencontrou o bucolismo que tanta falta lhe fazia, assistindo aos filmes de Joselito e Marisol. Estes dois companheiros que cantavam numa língua que lhe era estranha, mas compreensível, depressa lhe povoaram a imaginação. Mais tarde, como ponte entre a infância e a adolescência, encontra as personagens interpretadas por Sarita Montiel que, rapidamente a transporta para o universo cinematográfico mexicano. Rita Joana é hoje minha convidada em "Discurso Direto". Em destaque o álbum "El Cine".

Portugal Rebelde - “El Cine”, é um disco pensado para homenagear os intérpretes mexicanos, que entre os anos 40 e 60, foram as vedetas internados de uma estética musical e cinematográfica?

Rita Joana - O disco "El Cine" foi criado através de uma imagética mais sentida que pensada… Uma banda sonora que acompanhou, não apenas as personagens da Época de Ouro do Cinema Mexicano, mas, também, fases emblemáticas da minha vida… Umas mais pesadas que outras, como é apanágio da existência de todos nós. Assim, na tentativa de recriar um mundo onde não me sentisse deslocada, permiti-me chamar a mim fantasmas de que me fui enamorando desde pequena até à idade adulta, como Jorge Negrete, María Félix, Javier Solis, José Alfredo Jiménez…

PR - “El Cine” conta com uma canção original, em português. De homenagem à sua primeira paixão amadurecida, Sara Montiel. Esta é (mais) uma homenagem que não podia faltar?

Rita Joana - "A Vingança de Sara Montiel" foi uma canção que escrevi há, talvez, cinco anos. Ainda a tentei interpretar, mas não sabia como o fazer, sentindo que a dita vingança que ambicionava não estaria concretizada. Quando via a Sarita, escutava-a cantando músicas para homens que não lhe sabiam pertencer e isso era algo que, como fêmea, mesmo jovem, me trazia uma certa mágoa. Foi através dela que escutei a canção “Es mi hombre” mais tarde interpretada pela Barbra Streisand … Assim, quando escolhi colocar esta canção completando o circulo deste trabalho, escolhi quem julguei ser a pessoa certa para dar a força necessária à dita Vingança… A maravilhosa Lunada Cozetti.

PR - “La Noche de Tu partida” foi a canção escolhida para single de apresentação deste disco. Este é o tema que melhor define o “espírito” deste “El Cine”?

Rita Joana - "La Noche de Tu Partida" é um tema que, apesar de aparentar ser uma canção que canta o abandono, traz uma mensagem subliminar… O interprete rejeita o papel de enjeitado. Transforma a mensagem que comunica a quem o larga numa participação quase vingativa, alertando-o para o arrependimento que, breve se fará sentir. Assim, tendo em conta que este é um disco recheado de mensagens pessoais, que considero serem de todos, a um dado nível; visto que atravessamos fases emocionais muito semelhantes e sentimos as mesmas necessidades de coação, vingança, entrega, partilha e cumplicidade; este tema, pode ser considerado o primeiro prato frio de uma faustosa refeição.

PR - Luanda Cozetti, Susana Travassos e Celina da Piedade são algumas das convidadas deste disco. Como é que foram pensadas estas participações?

Rita Joana - A Luanda Cozetti é a alma preciosa que tanto me custou convidar. Uma das mulheres e cantauroras que mais admiro e que, por este mesmo motivo quase equacionei não convidar, tal era o constrangimento em endereçar um pedido destes. No entanto, para além da admiração que lhe voto é, também, uma amiga do peito e, por isso, acabei por respirar fundo, sabendo que seria a voz ideal para dar corpo à Vingança de Sara Montiel. A Susana Travassos é uma voz que acompanho desde há anos com profunda admiração. Quando, trabalhando a Puñalada Trapera me dei conta dos arranjos cada vez mais dramatizados, percebi que apenas a voz da Susana me iria satisfazer… Ainda hoje, quando escuto esta canção tenho dificuldade em conter as lágrimas, tal é a carga dramática que a Susana lhe coloca. A Celina dispensa apresentações… Tanto ela como os seus trinados alegres. Não me seria possível concretizar o Poquita Fe sem o auxilio da sua alegria. Foi uma felicidade imensa poder trabalhar com uma voz tão grandiosa.

PR - Numa frase como caracterizaria este “El Cine”?

Rita Joana - "El Cine" é a concretização da ordem que me deu La Doña; para mim é manter a beleza na planta dos pés.




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