04/08/2019

DIRTY COAL TRAIN | Discurso Direto


Depois de um álbum duplo cheio de convidados em Maio do ano passado, The Dirty Coal Train voltam 180 graus e apontam novamente agulhas noutra direcção: um LP em formato trio gravado maioritariamente ao vivo com overdubs de voz pontuais, em 2 dias em São Paulo, Brasil, durante uma das suas tours pela América do Sul. O duo levou algumas ideias para trabalhar com Marky Wildstone (Dead Rocks, uma das primeiras bandas surf rock do Brasil, e The Mings, projecto com o Holandês Dead Elvis e o inglês Hipbone Slim) e captar tudo do modo mais cru e direto possível por Luís Tissot (produtor e músico na cena lo-fi e punk de garagem brasileira e argentina: Backseat Drivers, Human Trash, Jazz Beat Committee, Jesus & The Groupies, Thee Dirty Rats, Fabulous Go-Go Boy From Alabama). Ricardo Ramos e Beatriz Rodrigues são hoje meus convidados em "Discurso Direto".

Portugal Rebelde - Como é que surgiu a oportunidade para gravar este disco em S. Paulo, no Brasil?

Dirty Coal Train - Durante a primeira tour no Brasil quando tocámos em São Paulo e dormimos no Caffeine aproveitámos logo para gravar uns temas que se viriam a transformar no 7" Spaceship to Cucujães". Gostámos muito do modo natural de trabalhar do Luís Tissot e ficámos a namorar essa ideia de gravar lá um álbum com esse feeling de "ao vivo em estúdio" com o Marky na bateria. O único tema que não foi gravado nessa onda foi o "dead end street" em que gravámos com caixa de ritmos e que serve para quebrar um pouco a homogeneidade do disco.

PR - O álbum “Primitive” é composto por 23 faixas, havendo espaço ainda para 4 versões (para originais dos The Shandells, Dead Moon, Thee Mighty Caesars e Murphy & the Mob).De alguma forma estas versões servem como “guia” para o universo deste disco?

Dirty Coal Train - Escolhemos sempre temas de que gostamos muito mas neste caso especifico são todos temas bem "primitivos", seja pela temática do próprio tema como é o caso do "go go gorilla" ou pelo som cru e primitivo das bandas como é o caso dos Dead Moon, de todas as bandas de Billy Childish (incluindo os Mighty Caesars) e dos Murphy & the Mob e as restantes bandas que integram os diversos volumes de "Back from the Grave". Para além de querermos abordar questões ambientais e politicas que se viviam no Brasil aquando da gravação e que se agudizaram muito entretanto, tentámos que o álbum espelhasse uma abordagem bem mais crua ao rock que a que fizemos no "Portuguese Freakshow". Um pouco como se fosse o reverso da medalha desse disco!

PR - Depois deste “Primitive” gravaram recentemente 3 temas que farão parte de uma compilação da Lux Records. Querem falar-nos das vossas escolhas para este disco?

Dirty Coal Train - O Rui da Lux convidou-nos para gravarmos 3 versões e nós decidimos aproveitar para irmos a 3 temas que gostamos muito e ao mesmo tempo fugir dos nomes do rock que todos estão sempre à espera que toquemos (a trilogia Cramps, Dead Moon e Stooges por exemplo). Não queremos revelar tudo mas podemos dizer que gravámos um tema de Captain Beefheart, um de Prince e um de José Mário Branco. São 3 músicos excepcionais de que gostamos e qualquer um deles bem fora do rock mais quadrado que é o cerne da nossa habitual base de trabalho. Embora tenhamos um gosto imenso em formulas simples também gostamos de alterar as regras de vez em quando e achamos que as coisas se forem espontâneas e feitas com gosto quase sempre resultam. Esperamos não ser esta a excepção! 

PR - Um concerto para os Dirty Coal Train será sempre um momento de celebração, catarse e partilha?

Dirty Coal Train - Esperamos bem que sim! Por vezes já sentimos a idade a pesar um pouco ao fim daquela cambalhota ou depois de aquela queda mas não imaginamos um concerto nosso que não seja uma festa de amigos.

PR - Para terminar, o rock´n´roll continua vivo?

Dirty Coal Train - O punk morreu quando os Pistols acabaram ou porque uma banda de 77 assinou com uma multinacional? Mas se calhar foi nessa altura que apareceram os Crass e os Subhumans e ... e na 1ª vez que o rock morreu andavam por aí os Gories e os Oblivians e uns fedelhos nos concertos das 2 bandas que fizeram os White Stripes e os Strokes e.... ou seja: é uma questão de para onde olhar e do que a massa crítica/rádio jokeys/ malta que selecciona vídeos num canal/... achou de inovador. Um exemplo prático: qual o melhor álbum dos The Fall? É sempre uma "trick question": são todos do caraças, depende mais de quem ouve e quando! Se estás farto de ouvir the fall vais ouvir oura coisa, mas o disco que acabou de sair quando pegares nele com mais calma vais ver que está dentro do que sempre fizeram e nem por isso é pior que os outros! O rock quando muito deixou de ser mainstream como foi nos 70's, 80's e 90's. Mas "O rock morreu"? Só para quem nunca gostou ou para quem está a precisar de um tira-palato!




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