"Mais Um" é o novo disco de S. Pedro, que confirma tudo o que pensávamos sobre ele e acrescenta mais algumas pistas sobre a consolidação e projecção da sua carreira. Este trabalho sucede a "O fim" que, na verdade, marcava o início da carreira a solo deste cantautor.
Pedro Pode, ou S.Pedro, é um tipo honesto e criativo, uma espécie de vizinho do lado que conhecemos, cumprimentamos e com quem damos duas de letra para depois descobrir, com orgulho, que um gajo tão simples e porreiro é afinal o autor de uma mão cheia de canções que já entraram por direito próprio para o cancioneiro nacional. Porque este exímio compositor e letrista não embarca em modas e faz música genuína, que nasce do binómio inspiração-transpiração, em doses variáveis, mas que assenta sobretudo na vida de todos os dias. Na sua, que também poderia ser a nossa.
Canta-nos pequenas histórias, invariavelmente atravessadas por uma ponta de ironia e humor, mas sempre com princípio, meio e fim. E olha a meios para chegar a finais felizes que, invariavelmente, nos remetem para novas escutas, para saborear melhor o que ouvimos, perceber melhor o que nos quer dizer, descobrir novos pormenores — nas melodias que nos enlaçam, nos diálogos instrumentais que tanto nos transportam para sítios melancólicos como para lugares de sonho, nos fazem bater o pé ou dançar, nas referências que não apanhamos à primeira (porque este é um homem do Norte e usa o Andante) — e, eventualmente, esboçar mais um sorriso, desencantar mais um sentido, e partilhar tudo com quem gostamos. Partilhar mesmo, porque é uma música de partilha. Não da partilha bacoca e imediata em busca de um like (para quê...?) mas daquela que leva agarrada um pedaço de nós. Uma música que nos toca, e que temos para a troca.
Como diz em “Apanhar Sol”, o single que marcou o Verão de 2018, «tens de ir lá mexer, tens de ir lá tocar». O contacto e os olhos nos olhos ao invés da mediação digital e do ecrã como espelho fosco da alma, no fundo, o conhecimento adquirido pela prática, pela tentativa e erro, é uma das temáticas caras a S. Pedro. «O mundo é onde eu calcar o chão», ouve-se em “Mundo”. E até mesmo num outro mundo, na incursão sci-fi (X-Files encontram-se com “Era uma vez o espaço”), há que «confirmar as tretas sobre o espaço que há tanto tempo» ouve. No fundo, aconselha a meter as mãos à massa, à obra, à vida, não protelar nem fugir ao amor, nem à realidade com que somos confrontados. Em “Todos os meus amigos” faz-se esse elogio da normalidade, envolto em crítica mordaz, com balanço soalheiro e alegre, e já o imaginamos a discorrer sobre a temática em modo churrasco e jola. Com os amigos, naturalmente. Em “Música do outro”, reforça o seu código de vida apontando o dedo à música enquanto mero entretenimento e produto pré-fabricado, ao invés de forma de expressão e veículo de mudança.
Há muito amor e desamor, paixão e ciúme, oportunidades perdidas (umas quase de propósito outras porque sim, num certo culto do falhado…), canções para todos os (bons) gostos que funcionam isoladamente e enquanto tijolos de um disco sólido e inteligente, de um artista que continua a crescer e a conquistar por direito próprio um lugar de relevo e destaque entre os maiores.
Luminoso e inspirado, abençoadamente pop, "Mais Um" é o novo disco de S. Pedro e chegou hoje às lojas em CD, streaming e download. Disponível aqui.
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