04/11/2019

PEDRO DE FREITAS BRANCO | Discurso Direto


Sob a chancela da Marcador chegou recentemente às livrarias "Sobreviventes - O rock em Portugal Na Era do Vinil", uma obra da autoria de Pedro de Freitas Branco. O livro narra a história da cultura pop/rock em Portugal desde o pioneirismo de 1960 (Zeca do Rock, Daniel Bacelar, etc.), e consequente progresso ao longo das duas décadas seguintes (Sheiks, Quarteto 1111, Sérgio Godinho, Banda do Casaco, etc.), até à explosão de 80 e maturidade artística de início dos anos 1990 (Rui Veloso, UHF, GNR, António Variações, Xutos & Pontapés, etc.).Traça também necessários cruzamentos histórico-culturais, habitualmente esquecidos, entre a cultura pop/rock e importantes caminhos artísticos como o da Renovação da Canção Portuguesa (José Afonso, José Mário Branco, etc.), da música africana, ou da chamada «canção ligeira». Nesta obra, nem as aventuras de João Ricardo com os Secos e Molhados, no outro lado do Atlântico, são subestimadas. Hoje em "Discurso Direto" é meu convidado Pedro de Freitas Branco.

Portugal Rebelde - Que viagem é esta que nos propõe neste “Sobreviventes – O Rock em Portugal na Era do Vinil”?

Pedro de Freitas Branco - Uma viagem analógica pela música pop/rock portuguesa, mas não só. Viagem dentro de uma cápsula do tempo cujo espelho retrovisor nunca deixa de estar enquadrado com as diferentes conjunturas sociais e políticas, com a música que foi sendo criada fora do país, e com as minhas experiências musicais e afetivas. Viagem sinuosa que exige algumas noções de sobrevivência. Simplificando, uma viagem rock’n’roll dos anos 50 até ao final dos 80 quando o CD ditou nova dinastia fonográfica.

PR - O título deste livro inspira-se no primeiro álbum de Sérgio Godinho, “Sobreviventes”, editado em 1972. Este é um cantautor que lhe é particularmente caro?

Pedro de Feitas Branco - Sim, sempre fui grande fã do Sérgio Godinho. Também do José Mário Branco e do José Afonso. E os três têm lugar nesta narrativa. Por exemplo, Sérgio Godinho revela que sempre foi profundamente influenciado por artistas/bandas rock, tal como o comprova, aliás, a canção Maré Alta nesse LP de estreia. Puro rock’n’roll!

PR - Esta obra é de alguma forma uma homenagem aos músicos que teimaram e teimam fazer Rock neste “Portugal dos Pequeninos”?

Pedro de Freitas Branco - Exatamente! No início do livro há uma citação de Alex Ross que define bem o conceito: “Impostores, charlatães e mediocridades prosperam em todas as épocas; os artistas de talento conseguem sobreviver ou, pelo menos, fracassar memoravelmente”. Ora, para que os nossos artistas, pelo menos, fracassem memoravelmente, é importante fazermos alguma coisa para que não sejam esquecidos. Este livro acaba por ser um exercício de memória coletiva.

PR - António Manuel Ribeiro escreveu no prefácio deste livro que este trabalho “é uma paixão analógica, um hino ao vinil”. Este foi o período mais prolífero e criativo da música portuguesa?

Pedro de Feitas Branco - O mais criativo, sim. Prolífero não diria por que os meios à disposição, começando pela então precária indústria fonográfica nacional, eram muito menores. Mas criativo, sim. Não que os músicos tivessem mais talento que os de hoje, mas trata-se de um período, ou de vários períodos interligados, em que a música popular era central na vida das pessoas, refletindo as ruas, as lutas políticas e geracionais.

PR - Na década de 90 fundou a banda Pedro e os Apóstolos, editando 4 CD. Esta foi uma fase muito gratificante para si?

Pedro de Freitas Branco - Sem dúvida. Foi o cumprir do sonho alimentado desde criança. Infância e adolescência “perdidas” a escalpelizar discos, a querer fazer canções como as dos meus heróis, a conviver com músicos como o meu pai que teve nos anos 60 o conjunto Os Claves – vencedor do lendário campeonato Ié-Ié. No início dos anos 90 fui um privilegiado. Apareceram-me os Apóstolos caídos do céu, e fui “apadrinhado” pelo grande músico Alexandre Manaia (Rui Veloso/GNR/Abrunhosa) que me indicou os caminhos certos.

PR - Para terminar, tem algum vinil na sua coleção que guarda religiosamente?

Pedro de Freitas Banco - Muitos! Assim de cor, posso destacar o Promotional Album, dos Rolling Stones, de 1969 - LP promocional para a rádio que teve tiragem de apenas 200 exemplares. Falando de música portuguesa, destaco o single dos Pesquisa, de 1977, que me foi oferecido pelo João Grande (TAXI) no lançamento portuense de Sobreviventes. Para quem não sabe, para quem ainda não leu o livro, os Pesquisa eram os TAXI – aumentados pelo teclista Luís Ruvina –, na época em que ainda cantavam em inglês e eram influenciados pelo rock progressivo...

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