15/04/2020

JÚLIO QUEIROZ | Discurso Direto


Júlio Queiroz é músico, produtor musical, multi-instrumentista e recém chegado a Portugal. No Brasil assinou a produção de diversos artistas e bandas sonoras de produções audiovisuais quando ainda era proprietário do estúdio Pantanália, que ficava no cerrado brasileiro, em Mato Grosso do Sul. Em Portugal sentiu a necessidade de gravar seu primeiro disco, depois de receber alguns elogios de amigos e de perceber como a Europa consome mais o seu estilo musical. Juntou todas as canções que tinha no bolso, com mais algumas composições feitas em território português e percebeu que tinha um álbum pronto, era só gravar. O disco chama-se "1/4" e fica disponível a partir do próximo dia 17 de Abril. Hoje em "Discurso Direto" é meu convidado Júlio Queiroz.

Portugal Rebelde - Loucura e beleza, são as palavras de ordem neste seu disco de estreia?

Júlio Queiroz - Eu espero que sejam as palavras de ordem de toda minha carreira. Só belo acho careta e só louco entediante. Mas quando se junta os dois a mágica acontece. É uma busca. Preciso saber agora das pessoas se consegui. Espero que sim.

PR - Quais são as influências musicais que traz para este “1/4”?

Júlio Queiroz - Eu literalmente ouço de tudo. Isso já foi problema para mim, mas com o tempo e a idade fui percebendo o quanto isso enriquece. Escuto de tudo. Fui criado ao som do rock e quando adulto conheci a música popular brasileira que me enlouqueceu. Principalmente a feita no final dos anos 60, 70. Temos discos incríveis ali. Então é difícil escolher uma influência em específico. Sonoramente falando, posso dizer que o fato de gravar em casa me fez ouvir discos gravados assim. Então encontrei Devendra Banhart, Rodrigo Amarante, Mac DeMarco… gravei no quarto do meu apartamento e não quis maquear isso. É pra soar lo-fi mesmo. Mas verdadeiro.

PR - Este disco foi gravado num quarto de apartamento no Porto. Quando chegou a Portugal, trazia muitas canções consigo, ou o Porto foi uma cidade inspiradora?

Júlio Queiroz - Trazia algumas. Já tentei gravar meu primeiro disco no Brasil, mas por questões de tempo nunca consegui terminar. Eu tinha estúdio e estava sempre trabalhando, produzindo outros artistas, e não sobrava tempo para o meu som. Porto e Portugal foi inspirador com certeza. Fiquei admirado com as rádios daqui. Com os artistas que tocam. Vim de um lugar onde as rádios são dominadas por uma música de qualidade duvidosa, por esquemas empresariais. Sempre soube que minha música não tocaria nas rádios brasileiras. Mas aqui vi que seria possível. E a receptividade das pessoas que conheci com minha arte foi muito bonita. Me deu forças para investir minhas energias no meu som. No final juntei algumas músicas que trouxe comigo, compus mais algumas e vi que tinha um álbum pronto.

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste disco?

Júlio Queiroz - Pilares diz muito sobre meu eu artista. Na canção eu canto que gostaria de ser vários artistas, mas no final passa. Isso é muito eu. E ainda bem que passa, pois o que fica é a vontade de ser eu mesmo. E a canção "O Porto" foi um presente de um amigo querido da minha terra. O DoValle. Ele que compôs quando eu fui embora. Disse que entrou no meu personagem e escreveu em cima disso. Quando recebi a música chorei por horas seguido. Foi impressionante como ele acertou as palavras ao descrever o que significava essa minha partida. Então Pilares diz sobre a minha arte, e O Porto diz sobre minha pessoa.

PR - O coronavírus mudou a nossa forma de viver. Como é que um músico que se prepara para um disco, enfrenta toda esta nova realidade?

Júlio Queiroz - Estou enfrentando e descobrindo. Ainda não sei como será. Me programei para chegar no verão com um disco novo e sair para tocar. Já não sei mais se acontecerá assim. Como artista não sei o que aguardar, de verdade. Como pessoa eu fico preocupado mas esperançoso ao mesmo tempo, pois acredito que todo ser sensível e sábio vai tirar proveito disso. Mudar hábitos, prioridades. Evoluir. Espero que passe logo e que a natureza nos de mais essa chance de mudarmos.




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