22/09/2020

CARNE DOCE | Discurso Direto

Foto: Macloys Aquino

Após conquistar relevância nacional com três álbuns fundamentais para a nova música brasileira, o Carne Doce exalta o interior –– geográfico e da alma –– com seu novo disco de estúdio, intitulado "Interior". As 12 faixas revelam a versatilidade estética e rítmica da banda, que pela primeira vez flerta com estilos como samba, dub, reggae e até trap, tudo costurado com guitarras marcantes e a sempre profunda poesia das letras. Sucessor do elogiado "Tônus", o introspetivo e doloroso álbum de 2018 (eleito o terceiro melhor daquele ano pela Rolling Stone), "Interior" é aberto e solar, mesmo em faixas mais íntimas, e demonstra a universalidade do grupo originado em Goiânia, Goiás. Salma Jô, a voz do Carne Doce é hoje minha convidada em "Discurso Direto".
 
Portugal Rebelde - Samba, dub, reggae, trap, tudo costurado com guitarras marcantes e a sempre profunda poesia das letras. É tudo isto que podemos descobrir no disco “Interior”? 

Salma Jô - Sim, sempre foi do nosso estilo experimentar, mas com o novo baterista, Fred Valle, essa experimentação de ritmos ficou ainda mais rica. Também acho que é possível notar que a banda está aperfeiçoando o que faz bem, sem deixar de buscar novos caminhos, mas com menos ânsia de se afirmar, uma certa serenidade. 

PR - Como é que foi o processo de composição deste disco? 

Salma Jô - Compusemos as canções ao longo do ano passado e início deste ano. A diferença para os outros álbuns está em mais canções surgidas a partir do baixo e da bateria. Em "Cérebro Bobo", por exemplo, compus letra e melodia sobre um sample de bateria do Fred. Em “A Caçada”, compus em cima de uma base que o Aderson, nosso baixista, fez sobre um sample do Fred. 

PR - Em 2020, a banda revelou os singles "Temporal", "Saudade", "Passarin" e "A Caçada", e recentemente, na semana de estreia do disco, lançou de surpresa "Hater". De que é que nos fala este tema? 

Salma Jô - “Hater” fala de ódio, fundado em inveja e ressentimento, algo que já existia antes da Internet, mas que no meio virtual ganhou mais possibilidades de uso e de sucesso. E também aponta para a paixão que esse ódio pode despertar nas duas partes, em quem odeia e em quem é odiado. 


PR - A capa do disco é uma fotografia do interior de um pequi, fruto de polpa amarelo-ouro com perigosos espinhos. A escolha deste fruto tem algum significado especial? 

Primeiro pelo fato de ser um fruto típico do Cerrado, nosso bioma em Goiás e que ocupa uma grande parte do interior do Brasil. O pequi é até uma referência muito óbvia para nós, goianos, mas mesmo aqui poucos conhecem o interior dele, porque ele é cheio de espinhos. Pensamos que ele é uma metáfora perfeita para o som que entregamos: do interior do Brasil, com poética às vezes dolorosa e cortante, mas bonito e saboroso. 

PR - Qual é o tema que melhor encarna o “espírito” deste disco? 

Salma Jô - Ainda estou pensando sobre isso, mas algo entre resiliência e serenidade, provavelmente a faixa "Interior". 

PR - Para terminar, há planos para apresentar as canções deste disco em Portugal? 

Salma Jô - Claro, sobram planos e sonhos. Voltar a Portugal é uma das nossas prioridades.

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