Foto: Macloys Aquino
Portugal Rebelde - Samba, dub, reggae, trap, tudo costurado com guitarras marcantes e a sempre profunda poesia das letras. É tudo isto que podemos descobrir no disco “Interior”?
Salma Jô - Sim, sempre foi do nosso estilo experimentar, mas com o novo baterista, Fred Valle, essa experimentação de ritmos ficou ainda mais rica. Também acho que é possível notar que a banda está aperfeiçoando o que faz bem, sem deixar de buscar novos caminhos, mas com menos ânsia de se afirmar, uma certa serenidade.
PR - Como é que foi o processo de composição deste disco?
Salma Jô - Compusemos as canções ao longo do ano passado e início deste ano. A diferença para os outros álbuns está em mais canções surgidas a partir do baixo e da bateria. Em "Cérebro Bobo", por exemplo, compus letra e melodia sobre um sample de bateria do Fred. Em “A Caçada”, compus em cima de uma base que o Aderson, nosso baixista, fez sobre um sample do Fred.
PR - Em 2020, a banda revelou os singles "Temporal", "Saudade", "Passarin" e "A Caçada", e recentemente, na semana de estreia do disco, lançou de surpresa "Hater". De que é que nos fala este tema?
Salma Jô - “Hater” fala de ódio, fundado em inveja e ressentimento, algo que já existia antes da Internet, mas que no meio virtual ganhou mais possibilidades de uso e de sucesso. E também aponta para a paixão que esse ódio pode despertar nas duas partes, em quem odeia e em quem é odiado.
PR - A capa do disco é uma fotografia do interior de um pequi, fruto de polpa amarelo-ouro com perigosos espinhos. A escolha deste fruto tem algum significado especial?
Primeiro pelo fato de ser um fruto típico do Cerrado, nosso bioma em Goiás e que ocupa uma grande parte do interior do Brasil. O pequi é até uma referência muito óbvia para nós, goianos, mas mesmo aqui poucos conhecem o interior dele, porque ele é cheio de espinhos. Pensamos que ele é uma metáfora perfeita para o som que entregamos: do interior do Brasil, com poética às vezes dolorosa e cortante, mas bonito e saboroso.
PR - Qual é o tema que melhor encarna o “espírito” deste disco?
Salma Jô - Ainda estou pensando sobre isso, mas algo entre resiliência e serenidade, provavelmente a faixa "Interior".
PR - Para terminar, há planos para apresentar as canções deste disco em Portugal?
Salma Jô - Claro, sobram planos e sonhos. Voltar a Portugal é uma das nossas prioridades.
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