02/03/2021

JOÃO FARINHA | Discurso Direto


Lançado no passado mês de Dezembro, no grande auditório do Convento São Francisco em Coimbra, "Solto" é o segundo disco a solo de João Farinha, voz do projeto Fado Ao Centro, um trabalho que veio agitar as águas do Fado de Coimbra. Num disco com fado em fundo e mais meio mundo na música que canta, nas palavras dos poetas às quais regressa, nos encontros que repete e que renova! Coimbra, fado e pop e rock e jazz, sem rótulos. Música apenas. E é tanto. A música que tem sido e é caminho e destino. Ponto de partida e de chegada. Uma vez mais e sempre. Solto. Hoje em "Discurso Direto" é meu convidado João Farinha.
 
Portugal Rebelde - Neste segundo trabalho, apresenta 11 temas que desbrava novos caminhos para uma música que é (ainda) fado: através da fusão com outros instrumentos. É tudo isto que podemos descobrir neste novo disco? 

João Farinha - Em Solto, podemos descobrir a fusão com instrumentos que habitualmente não são utilizados no Fado de Coimbra, mas também o recurso a alguns efeitos sonoros e equalizações eletrónicas para a guitarra portuguesa. O mundo do acústico é também desafiado em “Solto” com o recurso à guitarra elétrica tocada com EBow. O objetivo é, acima de tudo, criar um novo ambiente sonoro para a minha música, assumindo com clareza o facto de estar a cruzar a linha do tradicional ou da matriz clássica do fado de Coimbra. 

PR - Neste “solto”, sentiu a necessidade de partir à descoberta de “novos” caminhos para a sua música?

João Farinha - Desde criança que gostava de inventar as minhas próprias melodias e quando entrei no mundo do fado de Coimbra, tive a oportunidade de começar a partilhar a música que ia fazendo. Primeiro foi com o grupo de fados Aeminium, com o qual participei nos principais eventos académicos e sempre com a preocupação de introduzir novos temas. O meu caminho seguiu como grupo Coimbra Ensemble com a gravação de um disco de originais em 2008 que incluía fusão com outros instrumentos. Mais tarde, já no projeto Fado Ao Centro, prossegui o caminho da criação no disco “Mensagens” e mais tarde no meu primeiro trabalho em nome próprio “Sim”, que para além de trazer novos temas ao meu repertório, resgatava também alguns dos que fui compondo ao longo dos 20 anos de carreira que esse disco celebrava. Em “Solto” continuo o caminho da criação, agora com a descoberta de novas sonoridades. 

PR - Entre os muitos convidados deste disco, conta com José Rebola (Anaquim), que escreveu a letra do tema que dá título a este disco. Como é se deu este “encontro”? 

João Farinha - José Rebola é um músico e compositor que comecei a admirar aquando do lançamento do primeiro disco de Anaquim em 2010. Os meus filhos eram igualmente fãs da sua música, pelo que o disco deles foi companhia constante nas viagens de e para a escola. Fiquei fascinado com as palavras e mensagens das canções e quando resolvi lançar o “Sim” pedi ao Rebola duas letras para músicas minhas. Apesar de na altura não nos conhecermos pessoalmente, ele foi muito generoso e acedeu ao meu pedido. No Solto, para além de assinar uma das letras, José Rebola teve a amabilidade de rever as minhas próprias, dando-me sugestões e alternativas. 

PR - No Tema “Entre o sono e o sonho” conta com a participação de Viviane. A riqueza deste disco também passa muito pela diversidade de amigos que traz para este disco? 

João Farinha - Sem dúvida! Foi a primeira vez que tentei duetos e colaborações com músicos exteriores ao mundo do fado de Coimbra. Nos duetos, tive o prazer e privilégio de ter gravado com duas vozes que muito admiro: a Viviane (Entre Aspas) e o Tiago Nogueira (Os Quatro e Meia). O resultado, quer das vozes quer da colaboração com outros instrumentistas, como o músico brasileiro Beto do Bandolim, superou as minhas expectativas e trouxe abordagens diferentes aos meus temas, que efetivamente me surpreenderam. 

PR - Para terminar, Como o confinamento uma vez mais instalado, como é que um músico que acaba de lançar um disco, se prepara para apresentar ao público as novas canções? 

João Farinha - Tem que se usar a imaginação e aproveitar os meios de que temos ao dispor, nomeadamente as redes sociais, como o Facebook ou Instagram, e as plataformas de streaming, como o Spotify ou iTunes. Neste momento é praticamente a única forma de difundir o trabalho artístico e chegar às pessoas que, mais do que nunca, precisam de cultura nas suas vidas. A música é sem duvida um excelente tónico para ajudar a superar os tempos de recolhimento que vivemos.

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