07/10/2021

CASSETE PIRATA | Discurso Direto


Amanhã, dia 8 de Outubro, será lançado o disco "A Semente" do que já tinha sido plantado pelo primeiro longa duração da banda Cassete Pirata em 2019, "A Montra". O novo trabalho vai despontar nas plataformas digitais e, em formato físico, em CD (disponível a partir de 8 de Outubro) e em LP (a partir de Janeiro de 2022) pela Rastilho Record. O novo disco será levado pela primeira vez a palco dia 20 de Outubro, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. Mas por outras estradas do país Cassete Pirata tem já revelado algumas das canções e energias renovadas dest’A Semente. João Firmino (Pir) vocalista da banda, apresenta hoje em "Discurso Direto" o novo disco dos Cassete Pirata.
 
Portugal Rebelde - Escritas ao longo dos últimos meses, as canções d’A Semente geraram-se no lar do vocalista. A paternidade de alguma forma influenciou o resultado final destas canções? 

Pir - Penso que inevitavelmente sim. O confinamento, juntamente com todos os medos e ansiedade da notícia de trazer um ser ao mundo, foram fatores fundamentais para “entrar na personagem” do que o disco tratava. Fez-me muito pensar que mundo é este que o meu filho vai herdar, e como é que eu e a minha geração olhamos para a responsabilidade de termos de ser nós a arranjar respostas, e de como a geração dos avós olha com mais ou menos culpa para o sítio onde chegámos. O disco é uma história que foca essa reflexão e observação e portanto toda esta ordem de acontecimentos acabou por me trazer alguma vantagem, no sentido em que não tive tanto de me imaginar na situação, pois estava de alguma forma a vivê-la. Há uma acidez nas letras, e alguma raiva nos arranjos, que estavam a ser sentidas na realidade. 

PR - De que forma foram ultrapassadas as saudades de a banda estar junta neste processo de composição? 

Não foi de todo fácil. O processo de composição em Cassete é sempre algo solitário, mas com a vida de estrada a poder ser vivida na plenitude, há mais horas juntos e por isso também mais troca e mais partilha. Com o cancelamento dos concertos, toda a gente teve de arranjar a maneira de se proteger emocionalmente para não ficar a matutar no que nos estava a acontecer e conseguir de alguma maneira seguir em frente e estar à tona. Isso trouxe um isolamento natural que fez com que a dada altura eu sentisse que precisava muito do feedback da minha banda e do reconhecimento deles que havia aqui um disco. Mas depois começámos o processo de pré-produção, em que cada um em sua casa foi adicionando os seus instrumentos e as suas partes às “demos” e aí já começou a ser mais fácil, porque toda a gente da banda se conseguiu unir e ganhar energia à volta da “sementinha” que iria ser o nosso próximo disco. 

R - No press release deste disco pode ler-se que “este disco surge como resultado de um período de reflexão, de introspeção dirigido sobretudo ao facto de, de um modo geral, nos termos desligado da terra, da vida plena e serena em comunidade, em detrimento do perigoso individualismo de que a virtualidade, por vezes anónima, nos tende a encaminhar. São estas as “sementes” que querem plantar?

Pir - Sem dúvida. Sem moralismos, sentimos que é uma queixa geral da nossa geração. Há uma certa desilusão com toda esta prioridade dada às carreiras profissionais e ao acumular de bens materiais, que claramente não nos está a servir. Se alguém nos perguntar diretamente, conseguimos priorizar o lazer, a família e o convívio com os amigos, mas as escolhas que fazemos para o nosso caminho acabam por ir em sentido contrário. O mundo parece já só saber viver numa ansiedade louca, e acho que perdemos muito por ter deixado de aprender com o contemplar da natureza e do mundo natural, e de o fazermos juntos, de estarmos juntos com quem gostamos porque são esses os dois elementos que nos trazem essa felicidade simples e duradoura, porque é honesta e é sustentável. Há algo meio místico na urgência com que o planeta nos está a mostrar que este caminho não nos serve - não serve para o planeta, e não serve para nós como espécie - essa simbiose está muito desequilibrada, já há muitas décadas e sem a arrogância de querer trazer respostas, temos mesmo de escolher bem, cada vez melhor, as sementes que queremos plantar. 

PR -  Qual é o tema que melhor encarna o “espírito” deste disco? 

Pir - É um disco conceptual, quase uma mini Opera-PopRock, e por isso é difícil isolar um tema que o resuma. Embora hoje em dias as pessoas tenham a tendência de consumir os discos por faixas isoladas numa plataforma de streaming, é um disco para se ouvir idealmente de uma ponta a outra, para entrar mais facilmente na história e tentar encontrar a voz e o olhar das diferentes personagens e perspectivas que o narram. • 

PR - O novo disco será levado pela primeira vez a palco dia 20 de Outubro, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. O que é que o público pode esperar deste concerto? 

Pir - Vamos tocar o álbum novo, e algumas músicas que as pessoas esperam ouvir dos discos anteriores, depois de tanto tempo sem nos ver. Estamos muito entusiasmados por estar a tocar material novo, que traz sempre uma frescura e uma pica redobrada ao encarar o palco. Depois destes quase dois anos separados não é preciso grandes invenções na receita. Os cassete vão reencontrar-se com o seu público e isso será mágico e poderoso por si só, sem fireworks - com verdade e muito power.

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