Dullmea é o projeto de música de Sofia Faria Fernandes que faz uso da voz e de um circuito eletrónico de pedais, improvisando sobre estruturas previamente compostas. “Orduak” é o novo álbum, um trabalho que conta com a colaboração do músico Ricardo Pinto. Dullmea, é hoje minha convidada em "Discurso Direto"
Portugal Rebelde - A que se fica a dever o convite a Ricardo Pinto para colaborar na composição deste álbum?
Dullmea - O Ricardo Pinto e eu conhecemo-nos desde a ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo), partilhamos o coletivo de rock progressivo Rei Bruxo e temos vindo a acompanhar o trabalho um do outro, o que inclui o trabalho de composição de música para teatro. O Ricardo é um músico multifacetado, mas é precisamente a área da composição que me leva a convidá-lo, por ver na linguagem dele um traço muito interessante e único que eu sabia que iria enriquecer o universo de Dullmea.
PR - É verdade que este convite é fortalecido por ambos partilharem uma certa obsessão por harmonia?
Dullmea - É sim. Somos ambos admiradores das obras corais de Messiaen, Arvo Pärt, Steven Stucky e tínhamos muita curiosidade acerca de como estas sonoridades resultariam quando intercaladas com o universo ambient/noise.
PR - Que “viagem” é esta que percorrer em “Orduak”?
Dullmea - Gostávamos de manter o mistério acerca desta viagem, não queremos oferecer uma resposta demasiado explicativa para que cada um tenha espaço para acrescentar o seu universo próprio a esta criação. Digamos apenas que orduak significa horas e que partimos da ideia de não-tempo (a partir do conceito de não-lugar de Marc Augé), um tempo anónimo, sem significado suficiente para que seja considerado tempo e do qual nenhum indivíduo se chega a apropriar. Temos portanto, conceitos-chave como rarefação, brechas temporais, alterações de consciência, vazio.
PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste disco?
Dullmea - Sendo um disco contínuo, em que cada peça está entrelaçada com a anterior e com a seguinte e tendo em conta que as secções vocais são intercaladas com as de eletrónica, é difícil escolher uma. Ainda assim, provavelmente em “Nem fogo, nem vento, nem sopro” é onde podemos encontrar os extremos entre as arestas noise mais cortantes e uma das passagens vocais mais sublimes do disco.
PR - Para terminar, vamos ter a oportunidade de ouvir as canções deste disco em palco?
Dullmea - Gostávamos muito, no futuro. Para tocar este disco ao vivo precisamos de transcrever as peças, um coro, um maestro e nós na manipulação eletrónica das vozes. É um projeto que está em cima da mesa, por nos parecer muito interessante, mas não para já.
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