15/12/2021

JOÃO AFONSO | Discurso Direto


Para o seu novo projeto, intitulado "Livros", João Afonso, um dos mais conceituados cantautores da atualidade, decidiu musicar diversas obras de literatura clássica, numa edição livro/CD de 70 páginas, que conta com os contributos de notáveis artistas plásticos (André Letria, João Lucas e Henrique Cayatte (ilustrador)), fotógrafos (Augusto Brázio), e escritores portugueses (João Afonso dos Santos, Alice Vieira, Isabel Rio, Joel Neto, Hélia Correia, Afonso Reis Cabral, Ricardo Araújo Pereira, Paulo José Miranda, Luciano Amaral, Jorge Silva Melo, Frei Bento Rodrigues e Afonso Cruz). No prefácio deste "Livros", o jornalista Carlos Vaz Marques destaca que "Cada livro tem dentro dele uma música própria à espera de quem a escute. O gesto de João Afonso ao escrever este disco é a afirmação de que, nos seus melhores momentos, livros e canções são fruto da mesma raiz." João Afonso é hoje meu convidado em "Discurso Direto" 

Portugal Rebelde - Antes de mais, como é que surgiu a ideia de inventar uma canção a partir de um livro? 

João Afonso - Já tinha feito esse “exercício” no “Missangas” sobre abordar um livro e criar uma canção ,nesse caso foi na “Fala do índio” um livro de Teri C. McLuhan e no “Mar me quer” sobre um livro do meu amigo Mia Couto no CD Zanzibar. Neste trabalho dos “Livros” foi conceptual , ler e reler vários clássicos literários que me marcaram e fazer canções sobre os mesmos. Foi um grande desafio tão interessante como difícil , mas consegui chegar ao fim e estou contente com o resultado. 

PR - Qual foi o “livro” que desencadeou toda esta “aventura”? 

João Afonso - Foi a “Cartilha Escolar” do nosso bisavô materno, Domingos Cerqueira . O meu irmão António sugeriu-me em tempos fazer uma canção sobre a bela cartilha , por onde todos nós aprendemos a ler, eu, os meus irmãos , a minha mãe e os meus tios . Depois, amadureceu em mim a ideia de extrapolar essa ideia para outros Livros que de uma maneira ou outra me marcaram. Fazer um texto ou poema e musicá-lo. 

PR - Este disco é também um livro com 70 páginas, que contou com o contributo de artistas plásticos escritores e fotógrafos. Quer falar-nos um pouco deste livro? 

João Afonso - Mais tarde em conversa com o Miguel Fevereiro , responsável pelo arranjo das canções, surgiu-nos a ideia de convidar escritores , ilustradores , fotógrafos e pintores darem o seu “olhar” sobre estes grandes clássicos literários. São escritores e artistas plásticos por quem tenho grande estima e admiração , e naturalmente pelas suas obras. Estarei sempre muito agradecido pelos belos e sabedores textos e ilustrações e fotografia que generosamente fizeram para este trabalho. Com as suas magníficas contribuições e com este cruzamento de linguagens os “Livros” ganharam outra força e dimensão. Não posso deixar de acrescentar o excelente trabalho gráfico da Inês Costa e do meu irmão António Afonso. 

PR - Este trabalho é de alguma forma uma homenagem ao poder criativo e encantatório dos livros? 

João Afonso - É! sem dúvida. O Mundo dos Livros sempre me fascinou. Das aventuras aos romances, da poesia aos ensaios enriquece-nos e fazem-nos uma companhia única. O nosso imaginário cresce e o nosso olhar para o mundo torna-se mais imaginativo mas também mais atento. Saramago disse-o tão bem: “todos somos bibliotecas porque guardamos leituras, como o melhor de nós mesmos. no nosso interior . A minha infância , as minhas cantigas que me vão dando prazer em fazer e em geral, a vida ,não seriam as mesmas sem a presença fraterna dos livros , do som das leituras. 

PR - Houve algum livro que o marcou, que ficou de fora desta seleção? 

João Afonso - Alguns para dizer a verdade: “as Aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain ou “Contos velhos da Montanha” de Miguel Torga. Talvez um dia destes me aventure em fazê-lo e acrescentar ao vivo neste concerto que vou começar a apresentar .

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