12/01/2022

UM CORPO ESTANHO E SATURNIA | Discurso Direto


Os projetos Saturnia e Um Corpo Estranho uniram forças e lançaram em conjunto “O Místico Orfeão Sónico de Um Corpo Estranho e Saturnia”. Que não fique espaço para dúvidas: trata-se de um disco de rock onde as guitarras de Um Corpo Estranho se deixaram contaminar pelo universo psicadélico de Saturnia! A conjunção entre o projeto de Luís Simões e o duo composto por Pedro Franco e João Mota poderia ser, per se, algo que alude a uma conspiração cósmica e o dramatismo afeto ao nome deste disco não será por acaso. No próximo dia 14 de Janeiro, o Fórum Luísa Todi em Setúbal recebe as canções d´O Místico Orfeão Sónico de Um Corpo Estranho e Saturnia". João Mota de Um Corpo Estranho é hoje meu convidado em "Discurso Direto".
 
Portugal Rebelde - Um disco de rock onde as guitarras de Um Corpo Estranho se deixaram contaminar pelo universo psicadélico de Saturnia. É uma boa definição para o disco “O Místico Orfeão Sónico de Um Corpo Estranho e Saturnia”? 

João Mota - É já difícil encontrar uma definição sobre o que foi este disco até ao que é este disco. Na génese tudo parte de uma vontade de trabalharmos em colaboração com o Luís Simões. Nesse sentido podemos dizer que os primeiros temas nascem desse contágio instrumental, no fundo desse experimentação, ou dessa conversa musical se quisermos. Mas não sendo este trabalho extremamente conceptual, já que o conceito veio mais tarde, diríamos que tudo acabou por ser uma feliz coincidência. Feliz na química musical, nas relações humanas e na forma como lançámos uma flecha aos céus já como um todo, mais do que a soma das partes. Quisemos manter a importância individual dos nomes dos dois projetos, porque isso também está no disco. O que é natural em Um Corpo Estranho e Saturnia está bastante presente. Mas também há muito de um novo elemento que já não é uma coisa ou outra. Será talvez esse o Orfeão, sónico pelo óbvio e místico pelo menos óbvio. 

PR - Sendo Setúbal a residência de ambos os projetos, é verdade que decidiram que o disco iria ter a mística do Rio Sado, o espírito lírico de Luísa Todi e o canto trágico das Sadinas que inspiraram Bocage? 

João Mota - Não terá sido tanto uma decisão, mais do que uma vontade. Mas não é um trabalho sobre Setúbal, ou que tenha Setúbal como pano de fundo. Há sim uma vontade de homenagear o espaço e o meio que nos rodeia, no qual crescemos e ao qual por vezes também somos estranhos. A inspiração vem de qualquer lado e os signos servem de anzol, para que possamos materializar essa coisa do onírico. No caso derramaram-se os signos de Bocage e das musas, porque nos importa a poesia e a tragicomédia, a crítica social e o lado satírico. A Luísa Todi, porque é um símbolo forte do lirismo e o rio Sado porque é o que vemos todos os dias. Os rios têm essa força simbólica, de vida, morte e renovação, são gráficos cronológicos vivos e em eterno movimento. 

PR - Qual tem sido o “feedback” que têm recebido do público? 

João Mota - Muito positivo. Sabíamos que íamos ganhar dois públicos distintos. O público de Saturnia é muito fiel e tem respondido bastante bem. O de Um Corpo Estranho já vai estando habituado às nossas guinadas estilísticas. A surpresa maior tem vindo do meio especializado. Temos sido apontados a disco do ano em vários blogs da área e isso faz-nos sentir o carinho com que estão a tratar este trabalho. Não tem a ver com prémios ou medalhas, mas apraz-nos saber que este disco toca e que a mensagem chega, mesmo que já seja outra mensagem qualquer, agora distante de nós. Sabemos que isto da música é uma área difícil e com muito poucos apoios. Então é bom sentir que as pessoas estão atentas e que podemos estar confiantes de que concretizámos um bom trabalho. 

PR - O que é que o público pode esperar do concerto do próximo dia 14 de Janeiro, no Fórum Municipal Luísa Todi em Setúbal ? 

João Mota- Vamos tocar o disco na integra, sendo que tocar ao vivo não é propriamente repetir o que já existe no disco. O disco carrega o possível, mas nunca é humano que chegue. Então é isso, esse comungar com o público e a nossa própria fisicalidade trazem outros componentes para cima da mesa. E depois damo-nos muito bem a tocar juntos, há uma energia saudável na forma como respondemos uns aos outros em performance. Teremos connosco o Gonçalo Mota na bateria, que também tem uma abordagem muito física aos temas. E digo físico porque é importante, a música não se ouve apenas com os ouvidos. E depois, estamos a jogar em casa, com os altos espíritos de Bocage e Luísa Todi, para além do sempiterno Sado, no nosso lado (risos). Portanto tudo aponta para a festa.

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