Mourah está de regresso com o novo disco “Euphony”. O novo trabalho do músico português que vive em Genebra, foi composto e produzido alguns meses antes de o mundo ser atingido pela pandemia. “Euphony” propõe um universo sonoro entre uma pop alternativa elegante, também profunda, e reminiscências de uma trip-hop melancólica que inspirou Mourah no passado. O disco está disponível em LP/Vinyl em https://mourah.bandcamp.com/album/euphony e em www.mourah.com. Hoje em "Discurso Direto" recebemos Mourah.
Portugal Rebelde - É verdade, que “Euphony” propõe um universo sonoro entre uma pop alternativa, e reminiscências de uma trip-hop melancólica que o inspirou no passado?
Mourah - Euphony reflete de fato uma mistura dos estilos com os quais me identifico e me identifiquei ao crescer enquanto pessoa e músico. Sempre admirei artistas que ousam ultrapassar as fronteiras das categorias criadas pelo meio musical. O ser humano como as rádios sentem uma certa necessidade de catalogar o mundo no qual evoluem. Mas a inspiração e o trabalho artístico deveriam reger-se pela emoção e sobretudo pela procura dum resultado sui generis… Mesmo que isso implique mais dificuldades no que toca ao posicionamento no mercado da música. No meu caso, muitos programadores consideram que o meu estilo não é suficientemente pop nem suficientemente alternativo. Tento criar uma linguagem musical relativamente acessível mas no entanto pertinente e arrojada.
PR - O termo Euphony, que deriva do grego antigo εὐφωνία (euphōnía), significa "harmonia de sons agradavelmente combinados". É esse o fio condutor deste álbum: melodias simples, objetivas e diretas?
Mourah - Sim. Vivemos um período cheio de "dissonâncias", primeiro com uma pandemia global e agora com esta inimaginável e intolerável guerra na Ucrânia que abala o mundo. Por isso, tomei o partido de oferecer um tempo de "descanso" e de paz para os ouvintes, onde seria fácil de entrar na emoção dos temas. À nível música, e ao contrário do que fiz no álbum anterior Kardia, escolhi depurar as harmonias e melodias, limitei-me a utilizar um máximo de 16 faixas por tema, ou seja ter menos elementos musicais por tema, com o intuito de ir ao essencial, a emoção. Mas atenção, simplificar não é sinônimo de simplista, é complicado e os silêncios dizem tanto como as notas. E isso requer também experiência enquanto compositor e produtor.
PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espirito” deste disco?
Mourah - Acho sempre complicado responder a isso. Hoje em dia o formato de álbum perdeu algum fulgor e muitos artistas optam por lançar single após single. Mas eu gosto muito da ideia de criar uma viagem sonora com começo, princípio e fim, onde os temas interagem entre eles. O mesmo acontece com as letras, que, sem entrar agora nos detalhes seguem uma certa lógica narrativa por temática ao longo do disco: abandono, libertação, reminiscências afetivas, corporais, sensoriais, para derivar na saudade, e no final um mea culpa pacificador. Mas diria que talvez Waltz in a Prism reflete bem em termos de ambiente e de produção o disco, com toques eletrônicos e acústicos, um pouco de pop, de indie e valsa jazzy mais conservadora. Há ali algo de suave, sensual, urgente, meio-obscuro, meio-libertador, onde passado, presente e futuro fundem-se numa só unidade: o sopro da vida.
PR - Depois do disco, há datas agendadas para levar as canções de “Euphony” aos palcos?
Mourah - Bem, no ideal gostava bastante de poder levar este disco e o resto do meu repertório aos palcos da Suíça onde resido, e de Portugal. Mas isso implica uma estrutura à minha volta, a começar por uma banda. Fiz tudo sozinho no disco, mas no palco músicos são necessários para transpor as composições. Isso implica custos, disponibilidade. Estava a montar uma banda antes da pandemia e tudo foi por água abaixo. Em segundo lugar é preciso uma pessoa que me ajuda a arranjar datas E enfim, preciso do apoio das rádios e médias para divulgar o projeto e o artístico que incarno. E infelizmente, este último ponto, é o mais difícil de obter, num mercado saturado e onde fatores alheios à qualidade do projeto entram em linha de conta. Vamos ver como as coisas correm nesse sentido, sempre com esperança e otimismo.
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