15/09/2011

SAMUEL LOPES | Discurso Direto


Samuel Lopes, autor do livro "Fado Portugal" (Seven Muses, 2011), é hoje nosso conviaao em "Discurso Direto". "Fado Portugal" faz uma viagem cronológica pela  história do Fado e seus protagonistas, das origens ao século XXI. Uma viagem pela riquíssima história e um guia desta canção portuguesa que tem encantado o mundo.

Portugal Rebelde - Para além de comemorar os 200 anos de Fado em Portugal, este livro é acima de tudo uma “viagem” pelas origens do fado até aos nossos dias? 

Samuel Lopes - Sim, esta obra pretende resumir o essencial a reter sobre o fado. Traçando um percurso pela história e seus protagonistas das origens até ao século XXI. O livro dispõe de vários capítulos, é feita uma definição da expressão musical, há um texto de Fredrich Nietzche sobre o fado enquanto destino para se perceber a dimensão desta palavra, são focadas as origens que mais se conhecem, a chegada aos salões nobres e a evolução até aos palcos do mundo e a era amaliana com a definitiva internacionalização do fado. Há um foco no fado em Abril e informação mais detalhada do aparecimento de um novo fado nos anos 90 e o seu trajecto pelo novo milénio. Existe também um texto interessante sobre os intervenientes contemporâneos do fado: poetas, compositores, músicos, etc. e a influência do fado noutras músicas como a pop. O livro tem ainda um guia de fado com casas de fado em Portugal e no mundo, sugestões de livros, discos e filmes, sites e locais a visitar. Faz depois uma curta biografia de todos os artistas que participam nos discos e termina com um poema.

PR - "Fado Portugal | 200 Anos de Fado" é um conceito que integra um livro com a oferta de 50 fados em 2 CD. O que é que podemos ouvir nestes dois discos?

Samuel Lopes - Há uma separação nestes dois CD, quer geracional quer musical. No primeiro CD que se chama “Fado Tradicional” podemos escutar alguns dos mais belos fados tradicionais de sempre, interpretados pelos principais artistas clássicos, não esquecendo Coimbra. O segundo CD, tem o título de “Fado Contemporâneo” que visita alguns dos principais artistas que surgiram dos anos 90 para cá, onde se estreiam também alguns artistas que surgiram num passatempo feito no Facebook. 

PR - No ano em que a UNESCO se pronunciará sobre a candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade, que contributo poderá dar  o livro "Fado Portugal | 200 Anos"?

Samuel Lopes - Penso que esta obra é muito bem representativa do que é o fado, para além de podermos ler a informação essencial sobre o fado, podemos também escutar duas épocas distintas nos 2 CD. O que permite uma visão muito abrangente sobre esta canção portuguesa. Como esta é uma edição bilingue, e como não tenho conhecimento de outras À excepção das produzidas igualmente por mim como o "Fado Sempre!" Ou o "Divas do Fado", acredito que esta obra esteja bastante bem posicionada para contribuir para a divulgação e afirmação do fado quer em Portugal como no mundo.

PR - Sente que há uma nova geração que procura "descobrir" o Fado em Lisboa?

Samuel Lopes - Sem dúvida alguma, não só em Lisboa como no mundo. Há muitos novos artistas com talento, que atendendo às circunstâncias dos mercados, têm dificuldade em comunicar o seu trabalho e chegar ao grande público. Esta obra serve também para divulgar os novos talentos, não basta pegar no que já existe, mas é importante a continuidade e a renovação do fado pelas novas gerações. Há muita gente a cantar e a tocar bem em vários pontos do país, inclusive no estrangeiro.

PR - O Fado, continua a ser a "matriz" da nossa identidade, enquanto nação?

Samuel Lopes - Acredito que sim, é a nossa música tradicional com maior notoriedade. É a que mais jovens atrai e aparentemente, a que melhores possibilidades tem de se renovar e impor também noutros mercados como o Tango ou o Flamenco (ambas também Património Imaterial da UNESCO).

PR - Para terminar, que Fado tradicional e contemporâneo o tocam em particular?

Samuel Lopes -
Existem vários. No que respeita ao fado tradicional, a minha predilecção vai para o fado menor, é o mais melancólico e apesar de menor, diz-se ser o maior dos fados, talvez porque seja o mais profundo e obriga a uma interpretação mais intensa. No que concerne o fado contemporâneo, agrada-me as várias fusões que se têm verificado nestas últimas décadas, apesar de se afastarem da tradição e não serem de todo fado tradicional. Acredito que num futuro próximo o fado irá assumir novas proporções e contornos, como que uma espécie de evolução do fado canção. Talvez esta seja a melhor forma de continuar a renovar-se junto dum público mais jovem e aproveitando as vantagens da globalização que se aplica a tantas outras músicas tradicionais, nos roteiros crescentes da World Music.

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