“Above the Trees”, é este o título do primeiro disco a solo de Nádia Schilling. Gravado ao longo de dois anos, contou com a participação de Filipe Melo (piano), João Hasselberg (baixo), Bruno Pedroso (bateria) e de convidados como a cantora brasileira Marina Vello (Bonde do Rolê, Marina Gasolina, Madrid, Las Courtney Lovers) e os guitarristas João Firmino e Mário Delgado, entre outros. "Above the Trees", é segundo a cantora «um disco melancólico que procura a beleza das coisas tristes.» Nadia Schilling, é hoje minha convidada em "Discurso Direto".
Portugal Rebelde - As músicas deste álbum foram compostas numa velha guitarra acústica após um período tumultuoso da sua vida. Podemos dizer que “Above the Trees” é um disco de memórias e um tributo?
Nádia Schilling - Sim, sem dúvida. A maior parte destas músicas surgiram após a morte inesperada da minha mãe. Como passei o ano seguinte a resolver uma série de questões burocráticas, a sensação de perda catastrófica esteve sempre presente, mas não havia tempo para lidar com ela. Não havia tempo para fazer um luto. Eventualmente os assuntos foram sendo resolvidos, mas foi apenas quando peguei ao acaso numa guitarra velha que tinha em casa, que encontrei um modo de me expressar sobre o que tinha acontecido. Surgiram então várias músicas que deram origem a este disco “Above the Trees” e que são um conjunto de memórias e histórias. O facto de ser também um tributo foi importante porque guiou todo este trabalho. Houve uma ideia sempre presente de missão. De outro modo não sei se teria chegado ao fim.
PR - Folk, rock e o Jazz, são as grandes referências musicais que encontramos neste disco?
Nádia Schilling - Sempre ouvi muita música folk, rock e jazz, por isso foi inevitável trazer as minhas “origens”, para a música que faço. Mesmo assim e embora este disco não esteja completamente encerrado num género, por ter estas influências, penso que pertença mais ao rock alternativo.
PR - Este disco conta com a participação da cantora brasileira Marina Vello e os guitarristas João Firmino e Mário delgado. Queres falar-nos um pouco destes ”encontros”?
Nádia Schilling - Foi um privilégio ter estes convidados neste disco. Surgiram os três porque durante a construção das músicas, ao falar com o João Pombeiro (que me ajudou na produção deste disco), percebíamos que uma determinada música sugeria um instrumento específico e lembrávamo-nos do músico que faria sentido para gravar esse instrumento. Conheci a Marina em 2012 através de um amigo, quando veio a Portugal tocar enquanto “Madrid”, projecto que tem com o músico e produtor Adriano Cintra (o concerto foi absolutamente incrível), e mantivémos contacto desde então. Durante as gravações do meu disco percebi que faria sentido ter uma segunda voz feminina a cantar comigo numa música chamada “Misfire” e a Marina, que tem uma voz lindíssima e um talento indiscutível, pareceu ser a pessoa ideal para todo o ambiente da música. Ela aceitou o meu convite e passados alguns meses meteu-se num avião e veio até Portugal numa viagem relâmpago, para gravar e dar um concerto (no Sabotage, em Lisboa). Já o João Firmino surgiu neste disco porque o vi tocar num concerto do João Hasselberg (que também toca neste disco), no Hot Club e gostei muito. O João Firmino é um super guitarrista, versátil e cheio de bom gosto, pelo que quando lhe mostrei as músicas e algumas ideias de guitarras e efeitos que gostava, houve empatia imediata. Quando chegou ao estúdio para gravar foi tudo muito fácil e fiquei muito contente com a participação dele neste trabalho. Em relação ao Mário Delgado (e eu nunca lhe contei isto), há muitos anos vi-o a tocar e pensei “quem me dera que um dia tocasse uma música minha”. Eu já o conhecia pessoalmente através do Filipe Melo e da Marta Hugon, dois grandes amigos. Por isso quando andava a pensar em segundas guitarras para as músicas, decidi convidá-lo a tocar dois temas que me pareciam ser para ele (fiz o convite até um pouco ansiosa e a achar que é tão ocupado que a resposta seria negativa). Mas o Mário aceitou imediatamente, embora não tivesse tempo no momento. Como a espera foi longa, fui avançando com o disco e passados muitos meses (e estando perto do fim das gravações e já praticamente conformada de que o Mário não iria gravar), recebi uma mensagem que dizia apenas: “Ainda vou a tempo?”. Fiquei muito contente. Não só veio a tempo como a gravação foi das mais especiais, porque foi como ter um sonho concretizado.
PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste "Above the Trees"?
Nádia Schilling - Penso que a “Kite” seja a música que melhor caracteriza este disco e foi por isso a escolhida como primeiro single. Há na “Kite” esse tal “espírito” que atravessa o disco: a consciência e aceitação de uma certa melancolia e a certeza de que apesar de tudo o que possa surgir, a vida vale a pena pelas coisas mais simples e bonitas.
PR - Depois da edição, há planos para levar as canções deste “Above the Trees” ao palco?
Nádia Schilling - Sim, depois da edição gostava de poder tocar este disco ao vivo, por isso neste momento estou a tentar perceber como poderão funcionar estas músicas em palco.
PR - Para terminar, numa frase como caracterizaria este disco?
Nádia Schilling - Um disco melancólico que procura a beleza das coisas tristes.
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