19/07/2019

TRICYCLES | Discurso Direto



Imaginem um triciclo no alto de uma duna, a ver o mar, a sentir o sol quente nas rodas pintalgadas de areia, com uma certa comichão no volante por causa da humidade salgada, e a pensar: “Apetece-me apanhar o próximo barco para Marte e desviá-lo até ao centro do Sol”. É mais ou menos isto que os Tricycles são. Uma coisa vagamente improvável, um conjunto de kidadults de rumo duvidoso mas com histórias para contar, cheias de pessoas que poderiam existir. E de facto existem, em calmas músicas prontas a explodir, lentamente, a mil à hora, com suavidade, ou em rugidos de guitarras zangadas e pianos falsamente corteses, de rudes baixos a conversar com educadas baterias. 
Os Tricycles são: o João Taborda (António Olaio & João Taborda), o Afonso Almeida (Cosmic City Blues, Sequoia), o Edgar Gomes (Terb) e o Sérgio Dias. Com um disco de estreia homónimo acaba de de sair, os Tricycles são hoje meus convidados em "Discurso Direto" para uma conversa que se deseja que corra sobre rodas e a diferentes velocidades.

PR - Antes de mais, quando e porque razão os “tricycles” começaram a ser fabricados?

Tricycles - As peças juntaram-se em 2014. Ou seja, os tricycles começaram a ser fabricados nesse ano. Estamos em 2019 e as peças continuam as mesmas, o que significa que estão bastante mais oleadas e conseguem uma boa velocidade sem derrapar. A pergunta é boa, porque é possível de responder. Se nos perguntassem uma uma data de fabrico, não teríamos resposta. Quando é que uma banda está verdadeiramente fabricada? Nunca. Vai-se fabricando.

PR - Os tricycles assumem-se como uma banda de estúdio ou é no palco onde o público e a banda comungam raivas e melodias, se sentem realizados?

Tricycles - As duas coisas complementam-se. Realização é uma palavra muito forte. Mas temos um prazer grande em estúdio e no palco, embora de maneiras diferentes. No estúdio há uma brincadeira criativa que dá muito gozo, mas também uma enorme responsabilidade, porque sabemos que estamos a criar uma coisa que queremos que fique, que marque. A palavra “gravar” implica algo que fica para o futuro e, se é para ficar, que valha a pena. O palco é o momento, a partilha com os outros, a interação, o gozo de passear no abismo da exposição pública!

PR - Qual tema que melhor caracteriza o “espírito” deste primeiro disco?

Tricycles - Esta sim, é uma pergunta impossível de responder, num disco feito de muitos espíritos e fantasmas e reflexos. Para não te deixar sem resposta, vamos pelo óbvio, o “All the mornings”, simplesmente porque foi o que escolhemos para primeiro single, para primeira música do disco e porque, de certa forma, reflecte a heterogeneidade do próprio disco.

PR - Os Tricycles gostam de andar na estrada, como qualquer veículo digno desse nome. O que é que o publico pode esperar de um concerto vosso?

Tricycles - O que o público não pode esperar é monotonia.

PR - Para terminar, numa frase como caracterizariam este disco de estreia?

Tricycles - Rock’n’Roll a diferentes velocidades!




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