04/11/2020

CARLUZ BELO | Discurso Direto

Carluz Belo, concretizou recentemente o sonho de uma década: a edição do seu álbum de estreia "Menino da Praia", um disco editado com o apoio da SPA [Sociedade Portuguesa de Autores]. Hoje em "Discurso Direto" Carluz Belo desvenda num "faixa a faixa" as 13 canções deste disco.

 

01. Aproxima-Te 

A primeira faixa é a única intro de todo o disco. Contém samples áudio do vídeo caseiro da minha primeira comunhão, em 1991. Decidi aproveitar partes do áudio dos coros da igreja para criar uma atmosfera experimental. Criei este cenário como mote de entrada para o álbum, remetendo para os primeiros ritos de passagem que temos na vida. Sou português, minhoto e cresci numa família católica. É me importante aceitar as minhas raízes para compreender minha identidade, independentemente da forma como vou evoluindo. 

02. Ao Virar de Cada Esquina 

Criei um primeiro alinhamento para este disco há cerca de 10 anos. Com o tempo, fui alterando e substituindo completamente todos os temas, à exceção desta canção. É um dos meus temas mais antigos e sobreviveu sempre ao meu olhar e ouvido crítico. É uma balada pop de introspeção e esperança e vive da força que reside na vulnerabilidade de cada um de nós. A canção foi lançada enquanto 2º single em Novembro de 2017, com o respetivo videoclipe e é para mim um hino de esperança intemporal. 

 
03. O Mundo Que Nos Foge 

É a única canção do álbum cujo poema não é escrito por mim. Decidi musicar as palavras de Al Berto, por ter ficado apaixonado pelos parágrafos finais do seu livro Lunário. Obtive autorização dos seus herdeiros para a edição da canção e foi com grande satisfação que recebi o feedback da irmã do Al Berto, Cristina Pidwell Tavares: "Nunca pensei ter vontade de dançar as palavras melancólicas do meu irmão. Obrigada por esta alegria". Este foi o primeiro single deste disco, lançado em Maio de 2017, no ano em que se assinalaram os 20 anos desde a morte de Al Berto. 

 
04. Folhas Secas 

Este tema foi o terceiro single do disco, lançado em Março de 2020. Remete para a passagem das estações do ano, através do simbolismo das Folhas Secas. Seja qual for a época do ano, não me escuso de passear junto ao mar, agradecendo a cada momento, o doce e o amargo, a dor e a delícia das paixões da vida! Esta balada nostálgica faz um brinde ao romance e assenta numa produção musical enérgica, dentro de uma certa contenção, muito inspirada nos sons dos anos 80. 

 
05. Menino da Praia 

É um tema cheio de luz, que me traz frescura e leveza aos dias mais sombrios. É um descontraído hino aos meus pais e ao amor que brota das famílias felizes. Venho de facto de uma família musical, muito graças ao meu Avô Mário Belo, que tendo sido guitarrista de fado, nunca deixou de trazer a alegria da música para os natais e restantes festas e serões em família. É das canções mais coloridas do álbum e foi o 4º single, saindo em Setembro de 2020, um mês antes do disco. Foi super divertido filmar este vídeo com os meus irmãos Raquel & Joel e com o meu afilhado, em busca de um tesouro. 

 
06. Algum Dia 

É dos temas escritos há mais tempo. Ficou mais de dez anos "esquecido na gaveta" e foi das últimas canções a entrar para o alinhamento final do álbum. Mesmo antes de eu começar as gravações definitivas, dei por mim a vasculhar as minhas coisas mais antigas, como se estivesse em busca do adolescente que fui... Ao reencontrar este tema, percebi que ele ainda estava muito vivo em mim e decidi então terminar o seu poema. No fundo, a sua construção ficou suspensa em mim por mais de 10 anos. Toda essa espera, acompanhou grande parte do meu crescimento pessoal, musical e emocional. 

07. Dias Tristonhos 

É uma canção bastante ritmada, cujo poema foi escrito numa noite de São João. Enquanto o Porto inteiro celebrava uma das suas noites mais longas e alegres, eu atravessava em 2013 um momento delicado, devido a um desgosto amoroso. Essa difícil travessia teve nessa noite um momento de catarse, enquanto eu, rodeado de amigos em festa, olhava para os balões luminosos e imaginava que neles estavam a voar para longe todos os sentimentos que já não podiam ter lugar dentro de mim. 

08. Aquela Fotografia 

É talvez a canção mais romântica de todo o álbum, apresentando um andamento calmo e descontraído. Traz-nos um universo mais minimalista, com uma sonoridade bastante inspirada nos anos 80. Este tema tenta retratar um romance quase impossível e vive na incerteza de saber se algum dia se poderá concretizar. É o dilema de duas pessoas que gostariam de estar juntas, mas que acabam por encontrar obstáculos no seu caminho. 

09. Mana 

Esta canção refere-se à minha irmã Raquel. Apesar de ela ser três anos mais nova do que eu, tivemos uma infância muito próxima e crescemos quase como gémeos, partilhando muito as vivências um do outro. Este tributo alegre e ritmado celebra não só a minha relação com a minha irmã, mas tenta retratar de uma forma mais ampla os laços fraternos que contenham uma plena cumplicidade, total abertura, companheirismo e uma grande amizade. 

10. A Cor do Mar 

É uma canção de Inverno e provavelmente a mais triste das melodias aqui apresentadas. Esta balada profunda fala de um coração destroçado que vagueia pela praia, sentindo-se perdido e inundado por sentimentos que parecem já não ter lugar para existirem. O tema traz um dos poemas mais desconsolados de todo o disco e fala do mar como um obstáculo, onde podemos acabar por nos afogar se não soubermos nadar ou se não quisermos remar... Haverá obstáculo maior do que a própria imensidão do mar? 

11. Em Tua Casa 

É uma canção que atravessa as várias estações do ano e que acaba por se refugiar no Outono. É um tema de recolhimento, onde um coração genuíno de criança luta para se superar a si mesmo, nos primeiros obstáculos da vida. Aconteça o que acontecer, o miúdo desta música sabe que tem um lugar para onde voltar e onde poderá para sempre estar a salvo... Em Tua Casa... Mesmo que esse lar seja apenas um lugar emocional e já não exista o espaço físico de onde ele partiu à aventura. É o tema mais longo do disco com um extenso crescendo final. 

 12. A Chave do Coração 

É uma canção luminosa, cheia de sonhos e alegria pura. O tema celebra a vida, os afetos e acima de tudo celebra a liberdade, como se fossemos uma criança que corre livre pela praia, sem qualquer tipo de constrangimento. O sujeito desta canção é de facto o verdadeiro Menino da Praia, que sonha e que voa... Cada vez mais alto! É um hino à criança interior que habita em cada um de nós. 

13. Passos No Escuro 

Esta delicada balada é para mim uma espécie de Hino da Memória LGBT e serve para homenagear as vítimas de homofobia. Infelizmente, ainda é necessário uma certa coragem para que a comunidade LGBT se possa expressar com naturalidade, sem ser olhada de lado. Contudo, a sua visibilidade é fundamental, por uma questão de respeito, igualdade e educação das mentalidades. Enquanto músico, sinto que é necessário coragem para percorrer um caminho feito por passos no escuro, onde avanço confiante, mesmo sem saber onde o caminho me leva. É uma coragem semelhante àquela que é necessária à comunidade LGBT, que deve avançar, mesmo sem saber se haverá, a cada dia, uma aceitação plena da sua identidade, por parte da sociedade.

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