27/11/2014

TIO REX | Discurso Direto


Miguel Reis, o "rosto" do projeto Tio Rex é o hoje o meu convidado em "Discurso Direto". O novo EP "5 Monstros" é “um puzzle de 5 peças” como o Tio Rex descreve, onde revela uma mistura do que foi desenvolvido em edições anteriores, conjugando desabafos, memórias, arrependimentos e ficção, sempre, no seu universo imerso da Folk e cantado em português.

Portugal Rebelde - Que histórias são estas que podemos descobri rno EP “5 Monstros”?

Miguel Reis - As histórias deste disco, à semelhança de tudo o que tenho vindo a fazer, são reflexões sobre memórias, sentimentos, pessoas e palavras, que me rodeiam e compõem o meu universo pessoal. Como tal, acabam ter em comum uma visão e enfoque muito meus, quer seja como sujeito ou espectador. O conceito/imagem dos Monstros, surgiu exactamente daí. Da capacidade que tive de levantar a cabeça e ver estes “monstros” à minha volta. Acredito que, com a maneira como hoje em dia andamos agarrados a tecnologias e somos quase SIMS, deixamos passar muitas coisas que, não só nos podem ensinar muito sobre cada um de nós, como nos dão uma perspectiva e apreço muito mais real do que é a vida, quem nos rodeia e como viver consciente e em harmonia com isso.

PR - De que forma as histórias, memórias e ficções destes "Monstros" estão embrenhadas nos antepassados e cultura portuguesa?

MR - Tudo o que faço musicalmente é muito influenciado por uma época que não vivi/experienciei. Cresci com a música do tempo dos meus pais; com os grandes internacionais e nacionais dos anos 50 ao final dos 70. Pessoas que relatavam com a sua música a realidade em que viviam, e os contextos sociais e culturais das comunidades em que estavam inseridas. Vejo isso como a maneira mais verdadeira de escrever e transmitir uma mensagem e, talvez por isso, acabe por fazer o mesmo à minha maneira. E depois há o facto de este disco ser cantado, na íntegra, em Português. Não sou umleitor assíduo, nem de perto nem de longe. Sinceramente, não me lembro do último livro de literatura “convencional” (por oposição às carradas de graphic novels que leio) que li. A minha linguagem na escrita e na canção vem muito mais de espectros musicais. Sinto que aprendi, e aprendo constantemente, com outros músicos e as suas obras, a criar a minha maneira de fazer as coisas. E aí não consegues apagar o poder e influência que tem o riff daquele, ou a palavra que aquele usou, ou, talvez o mais importante, a maneira como e onde os utilizam.

PR -  A Folk Americana é a grande referência musical para este EP?

MR - A Folk Americana acaba por ser a grande referência musical, não só para este EP, mas para tudo o que faço. É o estilo que sempre senti ser o mais genuíno para escrever, compor e tocar a maneira como escrevo, componho e toco. Tenho uma paixão pelo que é antigo. Aquilo que, se por um lado me mostra algo que não estive lá para ver, sendo o “pop” da altura, também está na origem de muito do que se faz hoje. Já para não falar da genuinidade cultural, tradicional e terrena que isso acarreta. Para além disso não há muita coisa que me cative na música pop que se faz hoje. É tudo muito processado e, apesar de ser também o reflexo da sociedade de agora, é fraca em espírito e um universo com o qual pouco ou nada me identifico.

PR - “JOE”, foi a canção  escolhida para single/vídeoclip deste “5 Monstros”De que é que nos fala este tema?

MR - A "JOE" é um relato ficcional, ou uma suposição, sobre um pedaço de história da Inglaterra Victoriana do séc. XIX. A sua génese surgiu do meu livro preferido; o From Hell pelo Alan Moore. Aquele recolher e juntar de peças para construir uma identidade para um sujeito que nunca ninguém soube quem foi, através de uma colecção absolutamente doentia de pistas e pesquisas em arquivos mortos de Scotland Yard, feita pelo autor do livro, tocou-­‐me tanto a primeira vez que o li que me senti no direito de contar essa mesma história na primeira pessoa.

PR -  Numa frase apenas como caracterizarias este EP?

MR - “5 Monstros meus para vos fazer pensar nos vossos”.

PR -  Para terminar, como é que público está a receber este disco?

MR - Diria que bem. Pela primeira vez está a haver alguma atenção e divulgação por parte da imprensa e rádio ao meu trabalho. Talvez pelo carácter menos minimalista destas canções em relação ao Preaching, sinto que algumas pessoas mais perto da minha idade viram algo neste disco que não viram no outro. Contudo, sinto que o meu estilo e as próprias mensagens são muito mais facilmente absorvidas por um público dos 35 para cima. Isto diz-­‐lhes algo. Traz-­‐ lhes momentos passados e nostalgia por hoje não ouvirem muita gente nova a fazer o que eles gostavam quando tinham 20 e poucos anos.

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