20/12/2016

LAURA WRONA | Discurso Direto


Livremente inspirado no universo das abelhas, "Cosmocolmeia", o segundo registo da brasileira Laura Wrona foi pensado em conjunto com um livro contendo o ensaio fotográfico realizado pela artista em visita a apiários na zona rural de São Paulo, onde viveu parte de 2015 e 2016. Das dez faixas que compõem o disco, nove são de sua autoria e a última apresenta uma versão para a música "Estou Além" de António Variações, por quem Laura Wrona tem grande admiração. 

Portugal Rebelde - Antes de mais, quem é Laura Wrona?

Laura Wrona - Uma pessoa inquieta por natureza, buscando compreender a si e ao mundo através da música, da fotografia e dos meios de que puder dispor para expressar-se.

PR - De que é que nos falam as canções deste "Cosmocolmeia”?

Laura Wrona - São canções de temas variados. Cosmocolmeia, que dá nome ao disco, fala sobre a experiência de visitar um apiário e as sensações que isso me provocou, um pouco como estar em outro planeta. Ela é também uma metáfora do fazer artístico, da colheita de inspiração como néctar, aqui e ali. A segunda, Nuvens Anônimas, é sobre a busca ilusória por eixo e chão em um cenário de constante movimento; sobre entregar-se à mudança como única certeza. Mel Lema retoma a temática das abelhas, mas misturando a relação dos insetos e flores com a atração entre humanos. A faixa 4, Pobre Pantera, talvez seja a mais densa do disco, pois fala sobre ocultar uma dor, mantê-la em cativeiro, como se assim se pudesse domesticá-la. Primeira Vez (quinta faixa) é sobre a mania de comparar as experiências, tentando voltar a um modelo original inatingível, sobre abrir espaço ao esquecimento para que as repetições não nos amorteçam. Em seguida vem Autoclave, uma crítica ao momento sombrio que temos atravessado aqui no Brasil e um alerta ao uso que fazemos das palavras, lembrando o poder que evocam. Um Pro Outro foi pensada a ser uma introdução para Comunhão de Bens e ambas tratam da (des)confiança entre dois amantes. Ocupado Tem Gente é sobre ocupar a si mesmo - num momento em que a palavra “ocupação” é tão difundida no âmbito político, a música traz o aspecto subjetivo, de como precisamos estar dentro de nossas ações para então reivindicar mudanças externas.

PR - Para além das nove canções originais, o álbum contem uma versão para o tema “Estou Além” de António Variações. Como é que descobriu a música de Variações?

Laura Wrona - Não me lembro ao certo onde vi a figura de Variações pela primeira vez, mas tenho claro de que foi primeiro o contacto com sua imagem, para depois chegar na música. Tenho impressão de que foi uma matéria em uma revista argentina, lá pelos anos 2008. Simpatizei de imediato com sua figura excêntrica (a começar pelo sobrenome intrigante) e fui em busca das composições. Fiquei fascinada por ele, pelas temáticas das letras e estética “anos 80”. Quando estava terminando o disco pensei..“por que não tentar?”. Como sou artista independente e cuido de todas as etapas do processo, eu mesma pesquisei a editora e entrei em contacto para saber se haveria um meio de gravar uma versão de Estou Além, que é uma das canções de que mais gosto no repertório do autor. Para minha surpresa, todos foram bastante receptivos e a versão que fiz foi aprovada após passar pelo crivo dos familiares que zelam pela obra de Variações, o que me deixou bastante feliz. Optei por não mexer na forma como ela foi escrita - mesmo que isso cause um certo estranhamento aos ouvidos brasileiros - na intenção de despertar curiosidade e quem sabe assim contribuir com a difusão da obra desse compositor genial.

PR - Numa frase como caracterizaria este "Cosmocolmeia"?

Laura Wrona - Um sobrevoo pelos jardins misteriosos da imaginação e suas germinações em realidades…

PR - Gostaria de apresentar as canções deste disco em Portugal?

Laura Wrona - Sim! Nunca estive em Portugal e tenho muita vontade de conhecer. Espero em breve visitá-los.


1 comentário:

Horacio disse...

Música e interpretação para ouvir de olhos fechados e a imaginação aberta.

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