Teko Porã é um termo em Guarani que significa, literalmente, o "belo caminho", ou o "bem viver". Caracteriza a filosofia, cosmogonia e espiritualidade refletida na sabedoria popular de diversos povos originários das Américas, conhecidos hoje como povos indígenas. A solidariedade e o senso de comunidade, o respeito pela "Natureza" e pelos seus infinitos e delicados ciclos, a comunhão entre pessoas, árvores, animais e demais seres vivos, construída pela busca coletiva de libertação da consciência e uma vida plena de liberdade, harmonia, fartura e e paz. A banda é uma utopia viva que já dura 7 anos. O grupo iniciou agora uma campanha (Fado Tropical - Teko Porã em Portugal) para ajudar a financiar o lançamento de "Anamaguaçu", primeiro disco, em Portugal, bem com um espetáculo e impressão do cd físico. Hoje em Discurso Direto viajamos até ao Brasil com os Teko Porã.
Portugal Rebelde - Antes de mais, quem são os Teko Porã?
Teko Porã - O Teko Porã é um grupo que surgiu em 2012 e sempre foi composto, em suas variadas formações, por músicos que tocavam nas ruas e estações de metro na cidade de São Paulo (ilegal e clandestinamente, vale lembrar). Além dessa vivência de fazer da rua o carro-chefe do trabalho, se assumindo como um grupo de músicos de rua e herdeiros de uma tradição milenar dos antigos bardos e menestréis, a banda viveu junta numa mesma casa, a Casa Barco (@casabarcosessions, palco também de um evento que agregava a cena independente paulistana, o Casa Barco Sessions, com apresentações musicais e palestras). Essa coisa de dividir tudo, desde o trabalho nas ruas e palcos, o convívio íntimo na Casa Barco, os relacionamentos amorosos entre os integrantes, sonhos e boletos a pagar, fez do Teko muito mais que uma banda, mas sim uma experiência de vida compartilhada. Pelo facto de ter um nome em Guarani, idioma de um dos maiores povos indígenas da América do Sul, muitos nos perguntam se somos indígenas ou qual a relação com eles. Respondemos que não, não somos exatamente indígenas, mas também sim, e que procuramos colocar pra fora o que há de indígena em nós, com muito orgulho e respeito à nossa ancestralidade. O próprio conceito “Teko Porã” (o bem viver) tem muito a ver com a trajetória do grupo, que, além dos concertos em palcos tradicionais, acumulou milhares de horas tocando dentro de vagões do metro e nas calçadas, para o povo simples e trabalhador do Brasil profundo, geralmente alijado das grandes salas de concerto. Também é importante ressalvar, dentro do trabalho filosófico e musical do Teko, o ponto de vista pouco comum sobre questões definidoras da sociedade brasileira, como o mito da “colonização”, o papel da Igreja nesse processo e a desconstrução de figuras históricas e conceitos implantados do nosso passado colonial.
PR - Teko Porã é um termo em Guarani que significa, literalmente, o “belo caminho”, ou o “bem viver”. Foi desta forma que percorreram os 7 anos de vida?
Teko Porã - Na verdade, dizer que se está dentro do Teko Porã, ou que se vive isso, é muito complicado. Acho que o facto de buscar o Teko Porã já é o máximo que podemos fazer, e isso inclui, principalmente, mudar-se a si mesmo, nessa busca e nesse caminho, porque é um caminho longo. Acho que fomos mais “Anamaguaçu” (grande família, em Tupi, e nome do nosso primeiro álbum) do que “Teko Porã” (o bem viver). Entendemos que o Teko Porã diz sobre estar harmonizado com tudo o que te cerca, sua família, seu povo, os animais, a natureza; a divindade. Não é tarefa fácil, e nem cabe numa vida.
PR - Em Janeiro de 2019 lançaram o álbum “Anamaguaçu”. Qual é a mensagem deste disco?
Teko Porã - "Anamaguaçu" é um disco que reflete muito o que sentimos e pensamos da vida e as coisas, é como se fosse nossa mente e nosso coração. Acho que é um disco denso, por tratar de coisas sérias, mas que ao mesmo tempo é equilibrado pela leveza do instrumental e das vozes femininas. Há muitas mensagens ali, desde um convite a olhar com outros olhos esta bola gigante de matéria vagando no espaço, que costumamos chamar de planeta Terra, mas que ao mesmo tempo é uma consciência materna (Tambores de Gaia); a perceção dos movimentos inevitáveis do destino pessoal (A Roda da Fortuna); a visão mais “do ponto de vista de cá” sobre a nossa história (O Lamento dos Degolados, Samba de Descobrimento) ou o costume humano de culpar sempre o outro baseado em sua própria miséria (Espelhos). Há também uma música em guarani (Teko Porã), que é basicamente uma oração de agradecimento à divindade, Nhanderú, nome que pode ser trocado por Jeová, Oxalá, Alá, energia criadora ou leis da física, tanto faz.
1 comentário:
Adoro a banda, ficaria feliz de vê-los cruzando novos mares
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