22/03/2021

CALLAZ | Discurso Direto


Sempre ligada à música (embora ainda não exercendo nenhuma actividade criativa própria), Maria Soromenho foi Styling Assistant em projetos como Alicia Keys, Peaches, Laura (Ultraísta), Loreen, Josephine e Arlissa, nos tempos em que esteve em Londres e, em 2013, começou a sua própria marca Maria Soromenho, um projeto de criação de roupa e lenços de seda, muito ligado e inspirado pelo universo musical. Mas foi em 2017, em Los Angeles, que decide enveredar pela música. A música de Maria Soromenho diz Callaz à frente, pseudónimo com o qual assina o seu percurso artístico desde 2017. Aprendeu a misturar sons sozinha, dando à sua linguagem musical o barulho de fundo próprio da autonomia, uma preferência por um processo de trabalho guiado pela filosofia DIY. "Dead Flowers & Cat Piss", lançado no passado mês de Fevereiro marca o regresso de Callaz às edições discográficas. Hoje em "Discurso Direto" recebemos Callaz.
 
Portugal Rebelde - Como e quando começou a ser “desenhado” este ”Dead Flowers & Cat Piss”? 

Callaz - Escrevi todas as músicas deste disco durante o primeiro confinamento, em 2020. Foram uns meses que viram o culminar de várias ideias que andava a ter nos últimos tempos. Por volta de Junho, tinha todas as demos. Foi nesta altura que falei com a Helena Fagundes sobre a possível ideia de colaborarmos. Decidimos gravar uma música para experimentar (a Helena tem um longo percurso musical e trabalha em pós-produção de som mas nunca tinha produzido antes). Começámos com a Atonal Heavy Metal Song. De uma canção passou a duas, começámos também a gravar a Aghast. Contentes com o resultado, em poucos dias enviei mais 8 demos e criámos este disco de dez faixas.

PR - De onde vem a inspiração para o conteúdo lírico destas canções? 

A inspiração veio de livros, filmes, historias vividas, contadas e algumas imaginadas ou exageradas - é uma mistura de tudo isso. Por exemplo, a Intro Anti-Hero é uma forma de homenagem a artistas/personalidades que admiro e que, em comum têm o facto de terem vivido segundo as suas próprias regras. A letra para a Atonal Heavy Metal Song foi inspirada por conversas que tive ao telefone, um documentário acerca de John Lurie e o que li em artigos sobre Teresa Torga. Para a Aghast inspirei-me numa cena do film Swing Time (1936) e numa história de Cleopatra (“pearls in wine”) onde esta esmaga uma das suas pérolas em vinho e bebe-o, ganhando assim uma aposta a Marco António. A Pas de Sexe Cette Nuit é inspirada maioritariamente pelo trabalho "No Sex Last Night" de Sophie Calle, filme de 1996. A Berlin fala de um casal que vi nas escadas do U-bahn em Neukölln, num domingo de manhã. Tem sido natural para mim misturar vários temas, assim como várias línguas, na mesma música. 

PR - Este é mais um passo importante para onde quer chegar? 

Callaz - Sim. Estou muito contente com o resultado mas tenho o objetivo de explorar outros caminhos, experimentar muito mais musicalmente. 

PR - Qual é o tema que melhor caracteriza o “espírito” deste disco? 

Callaz - Provavelmente a Pas de Sexe Cette Nuit. Há uma certa inércia nesse tema que para mim representa bem, não só o disco, mas o ano que passou. Inspirada no tal filme "No Sex Last Night", comecei a demo experimentando com vários samples de field recordings com o som de gelo. 

PR - Para terminar, como é que um músico que acaba de lançar um disco, se prepara para apresentar ao público as novas canções? 

Callaz - No meu caso com vários ensaios sozinha porque sempre dei os concertos a solo. Ensaio fisicamente e na minha cabeça. Depois, conforme os concertos vão acontecendo, consigo perceber o que tenho de mudar e o que tenho de melhorar ou eliminar. Funciono por tentativa-erro. Costumo não repetir nenhum set para conseguir experimentar. mais coisas. Penso que com uma banda seja bastante diferente mas nunca tive a oportunidade de ter essa experiência.

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