A inquietação que José Mário Branco cantou é um estado de alma que anima ou aflige, em particular, os artistas. Talvez porque a arte espelhe a vida e o mundo de forma mais aguda, talvez porque os artistas vivam comprometidos com a transformação, com a evolução e com a busca permanente de liberdade.
Esse é, naturalmente, o caso de Gisela João, artista de corpo inteiro que sente a vida na voz, naquele tom grave, arranhado pelas amarguras e arredondado pelo amor que tão bem lhe conhecemos e que a elevou à condição de culto de que justamente goza.
Em 2025, depois dos sinais libertados com “A Morte Saiu à Rua” e “Vejam Bem”, dois singles em que abordou o perene cancioneiro de Zeca Afonso, Gisela João apresenta agora "Inquieta", com edição MAR Records e distribuição da Universal Music, trabalho que sucede a “Aurora” (2022) e com o qual celebra o espírito de Abril, entregando-se plenamente a um conjunto de canções históricas que a tocam de forma profunda.
Gisela João notabilizou-se como uma voz singular, que parecia ter chegado ao fado vinda do fundo dos nossos sonhos, há exatamente uma dúzia de anos.
Com um posicionamento tão original quanto honesto, soube respeitar a tradição enquanto abraçava o futuro com idêntico fervor. Deu voz a velhos fados e a novos autores, rompeu com dogmas e deixou claro, na estreia com "Gisela João", e em registos subsequentes como "Sem Filtro" (2014) ou "Nua" (2016) – e talvez, sobretudo, nos incontáveis palcos que pisou – que era capaz de seguir a direito, com as suas visões e convicções artísticas como argumentos únicos, alheia a tendências ou ditames de moda passageiros.
Gisela João é diferente porque abraça essa inquietação que obriga os artistas a serem honestos consigo mesmos.
Alinhamento:
01. A Morte Saiu À Rua
02. Que Amor Não Me Engana
03. Que Força é Essa, Amiga
04. E Depois do Adeus
05. Os Bravos
06. Acordai
07. Inquietação
08 Balada do Outono
09. Canção de Embalar
10. Vejam Bem
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