Rodeado de afetos e cumplicidades, Rogério Charraz encontrou a "chave" para para escrever, produzir, arranjar e tocar as canções do seu álbum de estreia, "um disco inspirado nos grandes autores da Lusofonia."
Portugal Rebelde - Depois de doze anos de
aprendizagens e maturação enquanto fundador dos Boémia, e de quatro intensos
anos de palcos e de estúdio, encontrou finalmente a “chave” para o seu universo
musical?
Rogério Charraz - Sim, sinto que ao longo
deste percurso fui encontrando a minha voz e o meu caminho, e a “chave”
provavelmente foi ter encontrando as pessoas certas para escrever letras,
produzir, arranjar e tocar as músicas que ia compondo. Senti-me rodeado de
afectos e cumplicidades, o que me permitiu partir para este projecto em nome
próprio com enorme confiança e disponibilidade.
PR - Assume-se como um
cantautor: canta, toca, escreve e compõe as suas próprias canções. Qual a fonte
de inspiração para as suas canções?
RC - A principal fonte de
inspiração é a vida: a minha, a dos que me rodeiam, a do meu país e do mundo em
geral. Eu gosto de falar da realidade, daquela que me é muito particular (os
sentimentos, as experiências, etc.) e da que faz parte do universo colectivo: o
bem comum. É por isso que as minha canções tanto podem falar do amor ou da
minha infância, como podem abordar a toxicodependência ou problemas
económicos...
PR - Numa frase apenas como
caracterizaria este seu disco de estreia?
RC - É um disco de autor, com um
universo muito próprio mas inspirado nos grandes autores da Lusofonia.
PR - Ana Lains, José Mário
Branco e Rui Veloso são os convidados especiais deste disco. Quer falar-nos um
pouco destas participações?
RC - São participações que
aconteceram com alguma naturalidade, porque as canções assim o “exigiram”.
Quando discuti o arranjo de “Gostava de ser diferente” com o produtor Alexandre
Manaia, achámos que o tema precisava de uma voz feminina, até porque o poema
tem uma sensibilidade muito característica do universo feminino. Entretanto
conheci a Ana e apaixonei-me pela sua voz, e achei era a pessoa indicada, até
pela amizade que fomos desenvolvendo. O Rui Veloso participa num
tema que fiz (com o meu amigo Pedro Branco) de tributo ao próprio e ao seu
inseparável letrista: Carlos Tê. É um Blues/Rock muito na onda do Rui, e achei
que fazia todo o sentido que fosse ele a fazer o solo principal do tema. O José Mário é outro dos
meus autores preferidos, e tem uma capacidade única de interpretar textos de
uma forma muito intensa, quase visceral. Sendo uma canção que vem um pouco na
sequência das canções de resistência que se faziam antes de 25 de Abril, e
tendo o texto sido escrito pelo filho, a escolha era óbvia. Resta acrescentar que todos
acederam ao convite de forma muito generosa e foram uma mais-valia para este
disco.
PR - Quatro canções de “A
Chave” fazem parte da banda sonora de “Pai à Força”, uma das séries da RTP de
maior sucesso. Gosta de ver as suas canções associadas a séries televisivas?
RC - Gosto essencialmente que as
canções que faço cheguem às pessoas, e a TV é um meio de comunicação de grande
alcance. Tem sido muito bom para a divulgação do disco ter quatro temas nesta
série, vista por muitas famílias, e vai ser bom também ter o tema “Grito
Vagabundo” na banda sonora da nova novela da TVI, que vai estrear muito em
breve.
PR - Já teve a oportunidade
muito recentemente de apresentar as canções deste disco no palco. Qual tem
sido o “feedback” que tem recebido do público?
RC - Confesso que o disco tem
tido um impacto muito acima das minhas expectativas. A promoção tem corrido
muito bem, temos estado nos últimos meses em vários meios de comunicação
social, e isso faz com que as pessoas cheguem aos espectáculos conhecendo os
temas e o projecto. Depois a energia e a nossa vontade de pisar o palco fazem o
resto, e tem sido uma experiência fantástica, com vários capítulos agendados
para os próximos tempos.
PR - “E contra a dita a gente
grita”, canta numa das canções deste disco. Este é um “grito de revolta”?
RC - Acima de tudo, é um grito de
insatisfação em relação a vários aspectos da nossa vida actual. É a minha visão
sobre vários dos problemas que afectam a nossa realidade: a maneira como temos
sido mal governados (mas continuamos a fazer as mesmas escolhas!), a falta de
interesse pela nossa identidade cultural (penduramos bandeiras nas janelas mas
não tratamos bem a nossa música, a nossa língua e até a nossa economia!), etc.